Saturday 29 September 2007

Dias Vulcânicos

A 27 de Setembro de 1957 entrava em erupção o vulcão dos Capelinhos no extremo oeste da ilha do Faial, nos Açores. A erupção duraria por mais de um ano e a ilha ficou um bocadinho maior. Hoje, passados 50 anos, são visíveis restos de algumas casas e o antigo farol, parcialmente soterrados pela acumulação de cinzas da erupção vulcânica. Parte do que foi acrescentado à ilha foi já objecto de erosão, que nestas coisas o mar não perdoa. Em 2005 percorri esse pedaço de terra, que é o mais jovem pedaço de território nacional que existe, onde a paisagem é ainda estranhamente alienígena, sem vestígios visíveis de algo vivo à superfície. Cinquenta anos não é tempo suficiente para formar um solo, um recurso importantíssimo que o abate de árvores e os incêndios deixa indefeso à delapidação pelos agentes erosivos da Natureza.



Tuesday 18 September 2007

Alterações Climáticas: Um “Rough Guide” (III)

Depois de algum tempo de pausa, eis-me regressado a este tema. Entretanto, num outro blog, e ainda por causa de Michael Crichton, encetei uma breve discussão sobre este assunto, o que é sempre salutar. Desta vez vamos abordar algumas evidências que nos dão razões para ficarmos preocupados.


As medições do CO2 atmosférico iniciaram-se de forma sistemática nos anos 50 no observatório do Mauna Loa no Havai e desde então mostram que a concentração deste gás tem vindo continuamente a aumentar na atmosfera terrestre. Este gráfico, designado como curva de Keeling (superior), é um clássico onde se observam oscilações em forma de serra dentada devidas à variação do CO2 nos períodos de verão e de inverno em face da maior e menor intensidade da fotossíntese, respectivamente. Como é sabido a fotossíntese redunda num processo que, em última análise, transforma o CO2 absorvido em tecidos vegetais, mas há aqui dois aspectos a considerar: o total de CO2 absorvido na fotossíntese, correspondendo ao que designamos por produção primária bruta, não é todo transformado em carbono orgânico, isto porque na ausência da luz solar, as plantas respiram e libertam CO2 nesse processo. A diferença entre ambas as taxas é que determina, de facto, a quantidade de CO2 fixa em tecidos vegetais, ou seja, a produção primária líquida. Conforme constatamos, a biomassa vegetal (na realidade a grande maioria da biomassa terrestre) é um importante sumidouro de carbono da atmosfera, por isso é que a gestão dos solos, a desmatação e ocupação urbanas têm implicações no equilíbrio do CO2 atmosférico.


A par destas observações, os registos da temperatura média ao longo dos anos também demonstram uma clara subida, por vezes com patamares, como durante os anos 60. Já Svante Arrhenius, o químico sueco prémio Nobel da Química em 1903, previu quantitativamente a capacidade de o CO2 poder actuar como gás de efeito de estufa. Parece lógico que, mantendo todas as outras variáveis constantes, os efeitos da crescente introdução de CO2 na atmosfera por parte das actividades humanas tivessem como resultado esta mesma subida da temperatura. Mas será legítimo estabelecer um paralelismo de causa e efeito entre o CO2 e a subida da temperatura atmosférica? Não completamente. Os factores que influenciam o clima na Terra e a temperatura atmosférica não se esgotam no CO2. Tem sido com base nestes pressupostos que muita da contestação às evidências das alterações climáticas se tem manifestado. A dúvida e o cepticismo são fulcrais em ciência e por isso é importante quem age de forma crítica no campo oposto. O que já não é aceitável são pressões políticas e de outra índole que ambas as partes promovem. Assim, alguma contestação recaíu em problemas efectivos, como a dúvida sobre os métodos de medição das temperaturas. Os críticos argumentavam que essas medições estariam viciadas por serem feitas principalmente próximo de aglomerados urbanos, onde essas mesmas temperaturas serão mais elevadas. Por outro lado, as medições efectuadas por satélites pareciam reforçar isso mesmo uma vez que apresentavam uma diferença sistemática que ninguém conseguia explicar de forma convincente. No entanto, essas discrepâncias foram parcialmente eliminadas e publicadas num relatório de Abril de 2006 pelo US Climate Change Science Program, apresentando uma subida consistente das temperaturas na atmosfera a nível global, restando por explicar apenas as diferenças nas zonas tropicais. Outra vertente da contestação já pega em argumentos que são mais heurísticos, baseando-se apenas em situações particulares que servem de generalizações. Exemplos disso são as evidências do arrefecimento que parece afectar presentemente a Antárctica ou, em termos históricos, a existência de períodos particularmente frios (como na Europa do século XVI) ou particularmente quentes (como no início da Idade Média). O que se questiona é se não estaremos nós a atravessar um período equivalente. Estes pequenos episódios serão apresentados noutro texto, quando falar do clima no passado, mas diremos que honestamente, nada se pode garantir sobre esse assunto. Actualmente, as observações indicam uma consistência entre as várias variáveis em questão, nomeadamente o CO2 e o aumento da temperatura.


Que outros exemplos evidenciam aumento das temperaturas médias globais? A resposta é: retracção da cobertura de gelo no polo Norte; retracção dos glaciares a nível global evidenciada, pelo menos, desde os anos 80; subida da linha de altitude de diversas espécies vegetais em várias regiões do globo; aumento da frequência de tempestades violentas; aumento da temperatura média da superfície do oceano. Que mais será preciso ainda?


Artigos anteriores:

Thursday 13 September 2007

Personalidade do Mês (Agosto)

Um Agosto que não parece ter dado o verão que todos desejariam, mas que assistiu a mais uma prova que o português só não é um gajo criativo poque lhe faltam meios, porventura financeiros, para se cultivar. Assim, o prémio vai para

Luis Filipe Menezes, presidente da Câmara Municipal de Gaia e eterno candidato à liderança do PSD, por ter escrito um blog sem uma única palavra da sua autoria.

Comentário do Comité do Restaurante:

Um óbvio discípulo de Clara Pinto Correia mas não ao mesmo nível já que Clara Pinto Correia pensava que neste país de parolos ninguém lia a New Yorker, exceptuando mentes esclarecidas como a sua. Já Luis Filipe Menezes mostra a natural limitação dos políticos portugueses, recorrendo à bem mais modesta Wikipédia. É mais um sinal que os políticos possuem salários miseráveis, pois nem uma assinatura da New Yorker conseguem manter. Propõe-se uma campanha de angariação de fundos para oferecer ao premiado a Enciclopédia Luso-Brasileira. Sempre poupa uns trocos a navegar na internet.

Thursday 6 September 2007

BuziNão

Há dias assim, uma pessoa acorda e dá logo de trombas com uma notícia radiofónica (confesso que não sei muito bem como é que se dá de trombas com uma coisa que nos entra pelos ouvidos, mas soa bem e além disso a anatomia nunca foi o meu forte) que uns putos ingleses, que se autointitulam como “Buzinas”, ganharam o prémio maior de música daquela ilha. Como eu de música não percebo nada, sou da opinião que os gajos ganharam aquilo pelo título do disco: “Miths of the Near Future”. Qualquer coisa que tem um cheiro de futurismo no título deve, de certeza, representar a vanguada do que vai surgir por essas ondas radiofónicas mundo fora. Pior ainda é quando se utiliza a palavra “mito”: acho que foi com isto que arrasaram a concorrência. Agora que se exacerbou mais um “hype”, pobres dos nossos ouvidos que terão que aturar isto não sei quanto tempo. O que vale é que a maior parte das denominadas “mais uma grande banda da década” que vão aparecendo todos os anos, enlevadas num altar pelos doutos críticos musicais que atiram a tudo o que mexe com cagufa de deixarem passar, em vida, os génios que marcarão a música das décadas seguintes, vão desaparecer da memória colectiva com a mesma rapidez com que decidiram, um dia, pegar nuns instrumentos e começar a tirar de lá uns acordes (inspira! que o ar já escasseia depois de ler esta frase). Felizmente não lhes deu para usarem campaínhas, apesar de o nome da banda fazer recear o pior, talvez por ser o instrumento mais tocado por toda a gente. A propósito: acham que ainda há macacos no Árctico, ou teremos de esperar pelo aquecimento global?

Informação Científica: o Mercúrio é um metal tóxico que causa lesões graves no cérebro.

Advertência ao Consumidor: Esta crítica foi escrita por um gajo que não percebe nada do assunto, e que só ouviu umas duas ou três musiquinhas (são mesmo musiquinhas) destes tipos mas que foram o suficiente para os achar particularmente irritantes. Assim mesmo, sem concessões!

Wednesday 5 September 2007

30 Anos a Voyager no Espaço


Foi neste dia do ano de 1977 que a nave Voyager 1 foi lançada para o espaço com o objectivo de vaguear no Universo como um vagabundo das estrelas, não sem antes ter visitado alguns objectos celestes do nosso sistema solar. Actualmente é o objecto humano mais distante da Terra, a umas respeitáveis (para nós) 104 Unidades Astronómicas, ou seja, 104 vezes a distância média da Terra ao Sol. Uma mensagem da Voyager 1 demora cerca de 13 horas a chegar até nós. Tal como uma mensagem numa garrafa que enviamos para o mar numa ilha deserta é caso para dizer que, apesar da distância, não saíu ainda sequer da praia.


No seu percurso visitou Jupiter e Saturno, mas agora está muito para além do último planeta do sistema solar, mas ainda dentro da área de influência do Sol. Apesar de ter sido lançada antes, em 20 de Agosto do mesmo ano, a Voyager 2 não se encontra tão distante. A Voyager leva consigo uma mensagem representativa da civilização e cultura terrestre na esperança que alguma civilização no espaço exterior a intersecte e assim tome conhecimento da nossa presença no Universo. Até agora parece que nos encontramos sozinhos por aqui, embora isso nos pareça ser um enorme desperdício de espaço, como afirmava Carl Sagan.


Imagens (C) NASA

Tuesday 4 September 2007

Blog Alvo de Espionagem

A internet parece ser um meio promíscuo para ensaiar diversos tipos de manobras invasoras de propriedade alheia com o intuito de nos espiarem. Eu a julgar que só os americanos é que apanhavem destas no Pentágono mas eis que, sem saber como, me aparece aqui no blog esta mensagem:


Não faço a menor ideia de qual o significado da mensagem, mas desconfio que é para mandarem este blog à fava, talvez a pedido de algum ministro nacional preocupado com as sucessivas vagas de contestação que por aí andam.