Monday 26 May 2008

Is There Life on Mars?

Para além de ser o título de uma belíssima canção de David Bowie, é também o mote que persegue a sonda Phoenix, que às primeiras horas de hoje aterrou próximo do polo norte do Planeta Vermelho, qual reedição de uma Guerra dos Mundos, mas vista do lado de cá. Uma das primeiras imagens recebidas e retirada do site da NASA mostra uma planície a perder de vista, cheia de calhaus e fracturas poligonais no solo. Este é um aspecto morfológico sobejamente conhecido na Terra, resultado da fragmentação devido às amplitudes térmicas extremas a que a superfície está sujeita e que levam à formação de gelo no subsolo e subsequente fragmentação deste por expansão de volume do gelo. O problema é que não se detectou gelo (ainda).


Imagem: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona

Tuesday 20 May 2008

Alguém Sabe o que é o CNE?

Será “Confraria dos Necessitados de Emprego”? Não! Será “Consórcio de Nepotismo Eclesiástico”? Também não! Ou será “Conglomerado de Niilistas Estúpidos”? Convenhamos que está perto, mas também não! Ao que parece quer dizer “Conselho Nacional de Educação”.

E o que é que o CNE propôs e lançou na praça pública? A fusão dos 1º e 2º ciclos do Ensino Básico. E que obscura razão sustenta tamanha alarvidade? Acabar com a transição brusca entre o 4º e 5º ano de escolaridade, pois as criancinhas ficam deveras traumatizadas com estas chatices das mudanças dado que é um contraste “violento e repentino” (sic). Assim ficariam com um só professor por mais dois aninhos que deverá arcar com os programas das diferentes disciplinas que fazem parte do curriculum. É obra! Seguramente apenas tipos enciclopédicos e extraordinariamente dotados deverão assegurar tal cargo em virtude da importância fundamental na aquisição de conhecimentos e conceitos base em disciplinas como Matemática ou Português. O tal ciclo de 6 anos “visaria neutralizar as transições bruscas identificadas ao nível da relação dos alunos com o espaço-escola, as áreas e os tempos de organização do trabalho curricular e a afiliação dos professores” (não é por acaso que este discurso adquiriu o epíteto de “Eduquês” e na minha instituição diz-se que é ministrado no Departamento de Ciências Ocultas). Como se não bastasse um bando de tresloucados idiotas lançarem arrochadas deste calibre com aura de seriedade académica o governo, na pessoa do Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, em vez de os mandar passear e irem fazer algo de útil à sociedade ajudando uma ONG em locais de conflito armado, admite que isso até possa ser feito, embora não agora e depois de um largo consenso sobre a matéria. Qual consenso qual carapuça! Prendam mas é estes tipos que causam mais estragos ao País que um conflito armado no Médio Oriente. Isso sim, era um acto patriótico passível de condecoração no próximo 10 de Junho.

Em tempos corria a célebre frase “Se acham que a Educação é cara, experimentm a ignorância”. Infelizmente, creio que já a experimentamos pois não me ocorre melhor adjectivo para caracterizar esta gente.

Monday 19 May 2008

Esta é Nossa!

Depois de uma temporada dominada pelos dragões (honra lhes seja feita), o nosso Sporting conquista mais uma Taça de Portugal para o palmarés... e vão 15!


Foto: Marcos Borga/Reuters in Público

Hoje, na rádio, ouvi que a manchete do jornal Record era qualquer coisa do género: “passarinho engole dragão”. Passarinho? Que raio de merda é esta? Desde quando é que a alma leonina (que vem de Leão e não de pássaro) se confunde com o epíteto mais adequado à má vizinhança da 2ª circular?

Saturday 17 May 2008

Notícias de Ciência (I)


Boas notícias para os caçadores de Planetas extra-solares: a 2 de Abril foi publicado na Nature um artigo que propõe a possibilidade de aplicar técnicas mais precisas de calibrar os espectros luminosos de corpos celestes, o que permitirá a detecção de variações nos espectros quase diminutas. A técnica em causa são os “pentes de laser” (laser combs) que deram em 2005 aos seus inventores o Prémio Nobel da Física (Roy Jay Glauber, EUA; John Lewis Hall, EUA; Theodor Wolfgang Hänsch, Alemanha). A aplicabilidade na astrofísica (já designados “astro-pentes”) permite a medição de linhas espectrais de radiação electromagnética com uma precisão 60 vezes superior às das técnicas correntes de topo de gama. Assim torna-se possível a detecção de desvios nos espectros de estrelas que sejam causados pelo trânsito de planetas com massas pequenas (na gama do planeta Terra), o que de outra forma seria indetectável. Boas notícias para a astronomia na procura de locais potencialmente habitáveis no Universo (possivelmente com almas irmãs, se não forem gémeas).

Será que há bens que vêm por mal? Parece ser a conclusão de Judith Perlwitz, climatologista da Universidade do Colorado em Boulder e do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), pois os padrões de ventos sobre a Antárctica modificaram-se com a recuperação da camada de ozono, permitindo a incursão de massas de ar mais quente no interior do continemte gelado, acelerando a fusão da calote de gelo. Desde a assinatura em 1987 do Protocolo de Montreal que baniu o uso dos meléficos CFC's, que a camada de ozono tem vindo lentamente a recuperar na estratosfera. É uma camada que filtra os perigosos raios ultra-violetas do sol que são altamente lesivos para os tecidos orgânicos. O esforço de aplicação do Protocolo assinado em 1987 tem dado resultados positivos (um dos exemplos de sucesso que muitos desejam que aconteça igualmente com Quioto) prevendo-se que dentro de 70 a 100 anos o Planeta recupere a camada de ozono com a espessura original. Agora verifica-se que a sua depleção talvez tenha contribuído para o retardamento da fusão dos gelos antárcticos devido ao aquecimento global do planeta. Mais um exemplo demonstrativo da complexidade do sistema com que lidamos e que estamos muito longe de compreender.

Figura (C) NASA

Thursday 15 May 2008

É a Humanidade Que, Lentamente, Vai Morrendo

Ter lido recentemente que Abdel-Qader Ali, um nome que nada me dizia a mim nem aos milhões que habitam este Mundo, matou a sua própria filha, Rand Abdel-Qader de 17 anos, com a ajuda dos irmãos desta no passado dia 16 de Março por se ter simplesmente apaixonado por um soldado britânico, deixou-me um nó na garganta e uma angústia revoltada. E fez-me pensar sobre as milhares (ou milhões) de injustiças que se praticam por esse mundo a pretexto de um conjunto de crenças religiosas que são justificação vazia para coisa nenhuma, mesmo que as nossas consciências de europeus de espírito liberal nos intimem a respeitar as diferentes culturas. Pois eu acho que devemos dizer BASTA! Chega de falsos moralismos e atitudes politicamente correctas de condicionar os nossos comportamentos em função dos outros quando os outros se estão positivamente nas tintas para os nossos. Respeito pela cultura e tradições dos povos sim mas não à revelia dos princípios mais elementares de respeito pela vida, pois não andámos a percorrer um caminho de séculos a torturar, escravizar, matar em nome de um Deus que tem mais sangue nas mãos que o mais cruel dos homens no planeta, chegando a ideais e valores de respeito por essa vida humana para de repente abandonarmos essas mesmas conquistas. Conquistámos o direito à liberdade de nos exprimirmos com respeito pelo próximo e não para condicionarmos essa mesma expressão por pretensamente ferir a susceptibilidade de um bando de fundamentalistas, religiosos ou de outra estirpe. E porque a culpa dos nossos antepassados não transparece para nós da mesma forma que não faz sentido julgar atitudes e actos do passado à luz da lei e princípios do presente, mais o silêncio torna vã a morte das vítimas passadas às mãos dos seus carrascos. E digo isto na consciência que em tempos foi o mundo árabe que demonstrou aos europeus, que não passavam de uma corja de bárbaros, os valores da tolerância e convivência entre as diferentes crenças religiosas e quem preservou os tesouros do conhecimento humano tendo, ironicamente, contribuído de forma fundamental para o progresso social (e não só) do ocidente infiel. Não devemos confundir a floresta com a árvore, mas infelizmente há vastas áreas que não merecem o mínimo respeito e atitudes como as que motivaram a minha indignação não merecem qualquer perdão, por muito que invoquemos um Deus misericordioso que não é mais que uma patética invenção humana criada para nos auto-ilibarmos. É angustiante constatar no meio desta barbárie que são sempre os mais fracos que sofrem e é por eles que devemos lutar e denunciar, sejam as mulheres, as crianças ou os enjeitados. Eles não merecem que os abandonemos, pois são a pesada moeda de troca de jogos geopolíticos internacionais que cobardemente os nossos governos se recusam a condenar e denunciar. Esta deveria ser a verdadeira luta dos soldados.

Monday 12 May 2008

Euler Viveu Aqui

Já estava preparado desde Dezembro mas acabou por ir ficando no baú dos registos, e isto porque em 2007 se comemoraram os 300 anos do nascimento do matemático suiço Leonhard Euler (1707-1783). Devo dizer que o título e a ideia de escrever sobre esta efeméride proveio da leitura do livro “O Fim do Mundo Está Próximo?” de Jorge Buescu (Gradiva, 2007) e que aconselho vivamente.

Entre algumas das curiosidades sobre Leonhard Euler conta-se a sua extraordinária produção científica, sendo o matemático mais produtivo de todos os tempos (e direi mesmo o cientista mais produtivo de todos os tempos). Euler escreveu qualquer coisa como mais de 850 artigos científicos e dezenas de livros, havendo ramos inteiros da física e da matemática fundados por si. Para termos noção da dimensão da sua produtividade, em 1907 a Suiça decidiu dar corpo à publicação das suas obras completas, Opera Omnia. Cem anos passados, 76 volumes e cerca de 30000 páginas depois, a sua publicação ainda não está concluída!

As contribuições de Euler para os diferentes ramos da matemática e física incluem o cálculo diferencial e integral, equações diferenciais ordinárias e parciais, teoria de números, geometria, álgebra, mecânica, hidrodinâmica, astronomia, topologia e teoria dos grafos (em resultado do famoso problema das “Pontes de Konigsberg”). Quem conhece estas matérias sabe o que é o Método de Euler, a série de Euler a qual converge para o número de Euler, e (uma das constantes fundamentais da matemática e da natureza), a Regra de Euler, a descição euleriana na dinâmica, etc. A Euler se deve igualmente a equação que foi votada entre os matemáticos como a mais bela da história da Matemática, que relaciona e unifica de uma forma espantosa os cinco números, e, π, i, 0 e 1. Para o leitor menos familiarizado, direi apenas que e e π são constantes (ambos números transcendentes), sendo π a constante que relaciona o perímetro e o diâmetro de qualquer circunferência e é conhecido desde a Grécia antiga, i é o número imaginário e representa o valor da raíz quadrada de menos um.


Vários são os livros que dedicam à obra de Euler uma atenção considerável, mas por agora recomendaria “Dr. Euler's Fabulous Formula: Cures Many Mathematical Ills” por Paul J. Nahin (Princeton University Press, 2006), mas somente ao experimentado em Matemática.

Para saber mais sobre Euler.


Modificação do Cartoon de Herblock (Herbert Lawrence Block) publicado em 19 de Abril de 1955 no Washington Post
Figura Original

Sunday 11 May 2008

Roncos Telúricos

O vulcão Chaiten (uma caldeira) no Chile entrou em erupção a 2 de Maio de 2008, depois de milhares de anos de sossego. A imagem que aqui se ilustra é particularmente bela e assustadora, fazendo-me recordar uma frase de Will Durant já aqui mencionada: “Civilization exists by geological consent, subject to change without notice”. Trata-se de uma tempestade eléctrica que se emaranha nas colunas de fumo e cinzas a temperaturas extraordinárias do vulcão.


Foto: Carlos Gutierrez/Reuters in Público

Quanto às consequências destes fenómenos, esta imagem ilustra o aspecto de uma paisagem que mais parece um postal natalício, mas o que se vê não é neve mas sim cinzas vulcânicas. Não se estranhe por isso que o clima a nível global se ressinta com o fenómeno, o que é de resto bastante frequente.

Friday 9 May 2008

Tirem-me Deste Filme

...é o que apetecerá dizer a João Loureiro, hoje, depois de ouvida a sentença que condenou, entre outros, as hostes boavisteiras. Atendendo a que no ano de 1994 a amostra era esta, a estirpe cá da tasca acha que o senhor tinha mais jeito para a música do que para o futebol, onde parece ter contribuído para a BANdalheira geral.



Pena que a amostra não esteja completa, mas não encontrei mais nada na canalização da internet.

Friday 2 May 2008

E Se De Repente...!?


...alguém nos oferece uma dose de álbuns de música que demoram a consumir, alguns dos quais conhecemos mais ou menos mas que nunca demos a devida atenção? O mais provável é que alguns nos surpreendam positivamente, mas raros serão aqueles que nos transportam à estratosfera dos sentidos. Ora os The Shins não são propriamente novidade, mas dizer que os conhecia, como quem conhece os amigos ou os familiares, na verdade não conhecia. Para mim eram uma banda simpática que emanava uns sons revivalistas dos sixties o que, logo à partida, me deixa de pé atrás. As simpatias por Beatles e companhia nunca foi muito saudada por estas bandas, embora dê por mim a saber trautear uma dose significativa das suas músicas (com letras e tudo!). Aquilo entra no ouvido e os rapazes até tinham jeito para a coisa, mas para mim eram uma cambada de cotas e um gajo na alvorada da adolescência não ligava a coisas antigas do passado (manias de miúdos...). Voltando ao fio da meada, eis que desde cedo em 2007 se ouve o primeiro single do álbum “Wincing the Night Away”, “Phantom Limb”. Foi daquelas músicas que, mais uma vez, um tipo distraído classifica de “simpática” e que vai ignorando porque não consegue fazer aquele “clique” interior e que esperamos que ocorra sempre que deparamos com algo de novo. Não! Esta era daquelas músicas cujas virtudes estavam escondidas e das que os meios de divulgação musical correntes não lhes conseguem fazer justiça pois falta ouvir-lhes a alma e a personalidade, o que só reforça a importância de ouvirmos música em condições e em sistemas que lhe dão a devida dignidade. Claro que ainda apareceram mais dois singles do mesmo álbum, mas o preconceito estava enraizado pela primeira impressão que se ancorava numa indiferença geral e que inevitavelmente se alastrava a tudo o que dali saía. Ainda assim, os temas “Turn On Me” e “Australia” auspiciavam algo de mais interessante, mas não o suficiente para desencadear uma reviravolta na minha opinião. Agora que, graças à alma gentil de uma amiga, tinha em mãos uma mão cheia de bits sonoros (se bem que comprimidos, se forem bem processados dão conta do recado com alguma dignidade) vou vagueando pelas diferentes paisagens sonoras colocadas ao meu dispor. Um dia, decido vaguear pelo “Wincing the Night Away” dos The Shins. E assim a paleta de sons vai desfilando serenamente perante a minha mente embevecida a qual se vai vergando sempre e cada vez mais à beleza que vislumbrava. Como é que foi possível tudo isto nos ter passado ao lado? As melodias são deliciosamente belas sem serem simples, mas também sem serem complexas. As notas encaixam na prefeição, os sons usados são de um requinte e subtileza irrepreensível e as camadas sonoras que se vão acrescentando têm aquela virtude de serem na medida mais do que exacta: de menos tornavam-se vulgares e de mais seriam uma aberração. Assim encontram-se no ponto que só o verdadeiro génio artístico as consegue colocar de quando em vez, e estes tipos conseguiram-no várias vezes. A sonoridade faz lembrar os anos 60, mas os sons e a atmosfera são modernos, frescos e revigorantes. E vou-me calar de imediato porque as palavras que escrever nunca farão justiça suficiente a tal obra de arte. Estimados clientes, acreditem que nos encontramos perante um dos discos que ficará nos anais da década corrente. (5/5)