Tuesday, 3 January 2012

E Vão Cinco Noves Fora Nada

Meus amigos e ocasionais transeuntes, este blogue faz hoje 5 anos que viu a luz do dia. Ao fim de cinco anos teve altos e baixos, mas ultimamente mais baixos que altos. Este dia vai ser também aquele que vou concretizar o que já pairava na minha cabeça há um tempo: fechar o tasco permanentemente. Tudo tem um tempo e uma altura certa para existir. É melhor acabar de vez do que arrastar um cadáver. Se muitas bandas fizessem o mesmo teríamos menos ruido à nossa volta. Já agora, se querem mesmo saber porque fechamos, foi mesmo o aumento do IVA. Como não tenho ninguém para despedir, fecho a loja. E vou seguir o conselho do nosso PM e emigrar, como de resto a Jarónimo Martins já fez. E também vou para a Holanda, mas vou vender cannabis.

Antes ficam aqui as minhas breves impressões do ano que findou. Em consonância com a crise, as escolhas são escassas e reflectem apenas o que tive pachorra de ouvir/ver/ler.

Os melhores de 2011, categoria músicas para bailarico:

1. Low – C'mon
seguidos de:
Veronica Falls – "Veronica Falls"
PJ Harvey – "Let England Shake"
Dum Dum Girls – "Only in Dreams"

Engracadito:
Tennis – "Cape Dory"

Um bom regresso:
Wire – "Strays"

Não Há Pachorra:
Radiohead – "The King of Limbs"

Com mais do mesmo, perdeu-se a graça:
Fleet Foxes – "Helplessness Blues"

Boa Canção que irrita muita gente:
Lana del Rey – "Video Games"

Os melhores de 2011, categoria concertos:
1. Swans @ Aula Magna
2. Bonnie “Prince” Billy @ Teatro Maria Matos
3. Ben Frost @ Teatro Maria Matos
4. Six Organs of Admittance @ Teatro Maria Matos
5. James Blackshaw + Nancy Elizabeth @ Teatro Maria Matos
6. Max Richter @ Teatro Maria Matos

Como podem reparar o Teatro Maria Matos é um espaço a ter cada vez mais em conta, inclusivamente financeira.

Os melhores de 2011, categoria filmes:

1. Sangue do Meu Sangue de João Canijo
seguido de
A Árvore da Vida de Terrence Malick
Beginners de Mike Mills
Mães e Filhas de Rodrigo García
O Discurso do Rei de Tom Hooper
Inception de Christopher Nolan
O Castor de Jodie Foster

Os melhores de 2011, categoria leituras:
"A Questão Finkler" de Howard Jacobson, por ser o único título editado em 2011 que li.
Com uma atenção especial a:
"O Retorno" de Dulce Maria Cardoso.
por ainda não ter lido, mas estar na já calha finalmente depois de me o subtrairem por duas vezes seguidas.

E por aqui me fico, com uma despedida em grande:



The Dave Brubeck QuartetTake Five

Hasta Siempre. Vemo-nos na Revolução que tarda em chegar.

Tuesday, 22 November 2011

It's The End of the World as We Know It (and I Feel Fine)

Lembrando um texto recente da chafarica, notícias fresquinhas apontam cada vez com mais segurança que o Higgs possa ser uma simples miragem. De momento resta a gama de 114-141 GeV para o encontrar (a gama entre 141 e 476 GeV já foi esquadrinhada). Lá para Dezembro já haverá notícias da análise dos resultados entratanto acumulados.

Quanto aos neutrinos superluminais, o grupo responsável pela experiência não só rebateu as objecções colocadas até ao momento por vários físicos bem como outro grupo pertencente aos laboratórios envolvidos repetiram a experiência e obtiveram mais um conjunto de 20 eventos (o que não é muito), com a diferença que os pulsos de protões usados para gerar os neutrinos diminuiram para uns insignificantes 3 nanosegundos (em vez dos 10,5 microsegundos da experiência inicial) por forma a reduzir a incerteza no intervalos de tempo medidos, eliminando as dúvidas na correspondência do evento gerador associado ao neutrino detectado. Ainda assim, o grupo reproduziu a diferença de 60 nanosegundos relativa à velocidade das partículas de luz. Se bem que neste caso o cepticismo continue, não se prevê que o assunto fique resolvido, como no caso do Higgs, até Dezembro, mas antes somente daqui a uns dois ou três anos.

Finalmente, muitos físicos e filósofos da ciência vêm debatendo desde o princípio do século XX o significado a famosa função de onda (é uma realidade física? É uma probabilidade?). M. F. Pusey, J. Barrett, e T. Rudolph publicaram um artigo (The quantum state cannot be interpreted statistically) com um teorema que relança não só a questão, como parece indicar que o dita função de onda das partículas elementares tem mesmo um significado físico real. Pese embora o seu carácter abstracto e teórico, as implicações do resultado são muito profundas por voltarem a reequacionar a interpretação da realidade quântica, para todos os efeitos, uma realidade sem correspondência com absolutamente nada que vivenciamos no dia a dia.

Agradece-se aos R.E.M. o empréstimo do título.

Monday, 21 November 2011

Reflexões III

As notícias dão-nos conta que no Egipto já há, pelo menos, mais de três dezenas de mortos em confrontos com a autoridade. No fundo, isto é como com as estações do ano. Primeiro veio a Primavera e com ela a esperança. Depois veio o Verão e a confiança. No entanto, a inevitabilidade do tempo diz-nos que a seguir vem sempre o Outono e que nenhuma esperança retorna sem passar pelo Inverno.

Friday, 11 November 2011

Reflexões II

Alguém que explique ao Otelo Saraiva de Carvalho que os governos agora não se derrubam com armas mas sim com taxas de juro.

Thursday, 10 November 2011

Reflexões I

Um Primeiro Ministro com o nome de Papademos, só pode ser uma excelente escolha para enfrentar os males da Grécia.

Sunday, 6 November 2011

Max Richter @ Teatro Maria Matos (5 de Novembro de 2011)


De volta à escrita, e depois do concerto de Bonnie "Prince" Billy neste mesmo palco (crítica aqui), foi a vez de dar lugar à música melancólica de Max Richter. Com o objectivo de apresentar o seu último trabalho, Infra (2010), o concerto acabou por ser dividido em duas partes. Na primeira parte, a tela ao fundo do palco dá lugar a uma animação minimalista de personagens femininas e masculinas que se passeiam incessantemente de um lado para o outro, ao passo que Max Richter introduz as componentes electro-acústicas com um pequeno portátil e que sustentam as peças musicais que se desenvolvem ao piano e com uma pequena orquestra de câmara (dois violinos, uma viola e dois violoncelos). No seu elenco aparecem John Metcalfe (viola), nem mais nem menos que um ex-membro dos Durutti Column de Vini Reilly e recentemente responsável pelos arranjos dos últimos discos de Peter Gabriel, e que com Louisa Fuller (1º violino) forma o The Duke Quartet. Os temas de Infra vão-se desfiando ao sabor de uma peça orquestral dividida por movimentos, e que só terminam com o final da primeira parte do concerto. A música do disco, desconhecida para mim até aquele momento, vem na continuidade do seu trabalho anterior, em que os elementos electro-acústicos introdutórios dão o mote para um ambiente carregado de negrume e uma opressão claustrofóbica sublinhada pelas bátegas de água da chuva sendo depois melancolicamente sobrespostos pela música do piano (minimalista e afim dos tons melódicos dos compositores clássicos de princípio do século XX) mas acima de tudo comandados pelo quinteto de cordas, cujas referências se situam claramente na esfera de um Michael Nyman mas de raíz assumidamente mais classissista. Finda a apresentação, seguem-se 20 minutos de intervalo para dar lugar à segunda parte, onde Richter revisita parte da sua obra anterior. E que melhor maneira de começar senão por esse excelso disco que é The Blue Notebooks (2004), obra onde as palavras de Kafka são veiculadas pela voz da actriz Tilda Swindon, com o tema “On the Nature of Daylight”. Assim, a segunda parte torna-se mais descontraída e mais motivadora de empatia com o público que enchia a sala (para surpresa minha e dos meus companheiros destes concertos no Maria Matos), certo de que a música de Richter que acompanhou filmes como Shutter Island de Scorcese ou, em particular, Valsa com Bashir de Ari Folman onde assinou a banda sonora, tenha motivado esta adesão. Os temas vão-se seguindo e o concerto termina com o maravilhoso “The Trees”, infelizmente manchado por problemas de som onde o irritante feedback inicial nem sequer foi o pior momento. O crescendo final que estava reservado para o concerto por vezes foi penoso de ouvir. Quanto aos músicos estiveram em forma, passe o pormenor de em duas ou três ocasiões a harmonia de conjunto ter momentaneamente falhado, mas rapidamente corrigida que nem terá dado tempo para a esmagadora maioria dos presentes perceber. 3,5/5

Friday, 7 October 2011

A Ciência da Arte

«Notação é uma arte, não uma ciência», admite Standard&Poor's

Ou seja, nós não estamos cientificamente falidos, mas sim artisticamente fodidos.

Thursday, 6 October 2011

Os Cristais Que Não o São


Este ano os Prémios Nobel estão a chamar-me um pouco mais a atenção, neste caso porque o da Química premeia alguém que se move por uma ciência que me é particularmente cara: a Cristalografia. Assim, o israelita Dan Shechtman, que em 1984 trabalhava no NIST (National Institute of Standards and Technology, na altura conhecido como National Bureau of Standards), recebeu o Prémio Nobel da Química de 2011 por ter descoberto os quasi-cristais. O significado da descoberta advém do facto de se julgar que apenas as substâncias cristalinas (toda a substância sólida que apresenta periodicidade translacional nas três direcções do espaço) produziam padrões de difracção de raios-X e de abrir ao conhecimento uma multiplicidade de formas como os átomos de uma estrutura sólida podem ser arrumados. O facto de os cristais terem periodicidade (ou se quisermos, simetria) translacional, implica necessariamente (e é facilmente demonstrado matematicamente) que admite apenas um número limitado de simetrias de rotação, a bem dizer, 5. Estas simetrias designam-se por 1, 2, 3, 4 e 6 e representam o número de vezes em que podemos dividir a rotação completa de uma circunferência, ou seja, 360º. O estranho de tudo isto foi quando Dan Shechtman obteve um padrão de simetria rotacional 10 e por vezes 5, ou seja, em forte contradição com as restrições impostas pela simetria translacional. Como não se acreditava que outras substâncias, que não as cristalinas, podiam apresentar estes padrões, a reacção inicial foi de rejeitar o resultado. A persistência do laureado e de outros seus colaboradores, permitiu-lhes ir em frente e publicar os resutados na Physical Reiew Letters em 1984 abrindo assim caminho a um conjunto de outras estruturas cuja característica principal é sererem simétricas, mas aperiódicas, que o mesmo é dizer, sem simetria translacional. A estas novas estruturas deu-se o nome de quasi-cristais.

Os padrões aperiódicos não eram contudo novos e haviam já sido gerados e descobertos por matemáticos. Os mais famosos dos quais são devidos ao matemático inglês Roger Penrose, e são conhecidos como Padrões de Penrose (Penrose tillings). Estabelecer a ponte entre estes padrões e as novas estruturas descobertas foi bastante rápido. De salientar finalmente que os quasi-cristais estudados são normalmente ligas metálicas e são todos sintéticos. Contudo, e por mero acaso, neste ano de 2011, foi publicada a descoberta do primeiro quasi-cristal natural, na revista American Mineralogist, com o sugestivo nome de icosaedrite (devido à simetria 5 do icosaedro) e com a composição Al63Cu24Fe13.

Para terminar, uma nota para referir que ao contrário do título da notícia do Público, os manuais de cristalografia não estavam errados, nem nunca estiveram, como se depreende do que aqui escrevi.

Wednesday, 5 October 2011

E o Nobel da Física vai para...

…a expansão acelerada do Universo. Os premiados são os físicos Saul Perlmutter do Lawrence Berkley National Laboratory e University of California at Berkley, Brian P. Schmidt da Australian National University e Adam G. Riess da John Hopkins University. E o tema é também muito especial a este blogue, dado que no seu espírito inscreve-se a divulgação científica, e este tema agora laureado com o Nobel da Física, foi objecto de um dos primeiros textos sobre ciência [1 e 2] que aqui foram publicados. A história empolgante que envolveu esta descoberta extraordinária, e que levou a revista Science a elegê-la em 1999 como a descoberta científica do ano, vem muitíssimo bem descrita no livro The Extravagant Universe, também ele uma das primeiras “críticas literárias” aqui do tasco.


Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess

Monday, 3 October 2011

Música Para Embalar

Sleepingdog é o nome sob o qual a neerlandesa Chantal Acda grava desde 2006 e conta já com 3 álbuns no currículo, sempre em parceria com Adam Wiltzie dos Stars of the Lid e Dead Texan, pugnando por uma melancolia ambiental poderosa e sofisticada onde a voz de Chantal percorre sons afins de uma folk pastoral. Já deste ano e com o título “With Our Heads in the Clouds and Our Hearts in the Fields”, fica a amostra da primeira faixa “Untitled Ballad of You and Me”.



Untitled Ballad of You and Me – Sleepingdog ( With Our Heads in the Clouds and Our Hearts in the Fields, 2011)