E os Prémios de 2008 Vão Para...
Pois é! Enfiar listas dos melhores de 2008 quando já vamos a meio do ano seguinte não parece lá muito consequente. Mas importa referir que aqui o estaminé se está nas tintas para o assunto, pois aquilo que pretende é dar-se a conhecer (e é pelas afinidades que depois chegamos às bandas e discos) e partilhar o que gosta. Por outro lado, já aqui se apregoou várias vezes o direito ao conceito de “slow-music”, e é disso que se trata porque a vida não é passada em exclusivo nestas coisas e ter uma opinião reflectida sobre os assuntos tem as suas vantagens, porque apareceu muita coisa cheia a fogo de artifício que já perdeu o brilho por completo. E o ano de 2008 será, pelo menos, de Bradford Cox que decidiu dar à estampa duas obras de fôlego, uma com a sua banda, os Deerhunter, e a outra em nome próprio mas com a designação de Atlas Sound. Dizer que há algo que arrebate é difícil, mas houve coisas boas.
Pois então aqui vai o veredicto:
1. Atlas Sound – Let the Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel. Um título comprido, algo difícil de recordar e dizer direito é um bocado arriscado, mas Bradford Cox dá-nos um disco musicalmente e texturalmente inspirado, introspectivo e melancólico, com sessões espíritas pelo meio. Saíu bem cedo em 2008 mas tem-se mantido fiel ao que promete. 4,5/5
2. Spiritualized – Songs in A & E. Jason Pierce andou pelo limbo à custa de um grave problema de saúde e em resposta manda cá para fora o seu melhor registo desde “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space”. Intenso e tipicamente elaborado, vários são os registos que perduram na memória que, tal como no anúncio (um tanto “cliché”, admito), “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. 4,5/5
3. Sérgio Godinho – Nove e Meia no Maria Matos. Não é propriamente muito comum considerar discos que não são mais que revisão da matéria dada, mas cuidado que o Sérgio dá-nos muito mais do que isso. É toda uma reinterpretação das suas músicas que, tal como uma família ao fim de semana, decide arranjar-se, comprar roupa nova, e sair à rua a passear. E que bem que se passeiam estas canções, algumas delas com mais de 20 anos mas que continuam a fazer todo o sentido passados que estão 35 anos de democracia com alguns amargos de boca. Mas é por isso que o Sérgio faz falta: não só sempre foi pertinente nas suas letras, como no momento em que age. 4/5
4. Why? - Alopecia. Um hip-hop com laivos de indie pop/rock, ou vice-versa. Um disco refrescante a dar ideia que o caldo de culturas é, e será sempre, uma receita para se fazer boa música. Óbvio que há quem arranje os ingredientes e não consiga mais que um caldo insípido pronto a ser tomado por pessoas pálidas e doentes. Acontece que os Why? confeccionaram vários acepipes dignos de menção num bom guia Michelin da música. 4/5
5. Deerhunter – Microcastle/Weird Era Continuation. Bradford Cox strikes again, agora com a banda e na versão 2 em 1. Microcastle dá-nos uma música mais próxima dos cânones tradicionais, sem o ser verdadeiramente, aberta e a respirar uma atmosfera que era mais opressiva em Atlas Sound. No entanto, as coisas voltam a esse estado de espírito em Weird Era Continuation. E não queria deixar de referir as citações, mais ou menos óbvias, a uns The Jesus and Mary Chain. 4/5
6. Bon Iver – For Emma, Forever Ago. Mais um que se refugia num nome que pede algo de quase utópico. Justin Vernon vem mais uma vez demonstrar que quando um tipo se encontra mais ou menos na merda ou em clausura melancólica forçada, consegue expelir cá para fora música e canções do melhor. Alternativamente, pode ser que seja uma fatia de nós, que a consumimos, é que somos arreigadamente melancólicos e não conseguimos ouvir outra coisa. 4/5
7. António Pinho Vargas – Solo. Mais um exemplo de revisão da matéria dada, mas em formato intimista, recatado e minimalista. A riqueza das peças de António Pinho Vargas não se perde nesta transposição para piano. Para ouvir em silêncio e em pleno estado de solidão. 4/5
8. Fleet Foxes – Fleet Foxes. Poderiam bem ganhar o prémio de banda revivalista do ano. Sonoridades folk dos sixties, com coros e ritmos atraentes que não só entram facilmente no ouvido como perduram mais que o simples hit momentâneo. Arriscado em certa medida, mas seguramente bem apostado. Contra terão o facto de a coisa começar a aborrecer se repetirem a fórmula. 4/5
9. Fennesz – Black Sea. Devo esta (e também outras que por aqui se reconhecem) ao facto de ser frequentador assíduo do blogue April Skies. Desde um começo que se enraiza nas fontes electroacústicas de um Xenakis, até uma ambiência que bebe do caldo de Brian Eno (e Robert Fripp, já agora), este austríaco fez um disco que consegue dar mais do que isso, evitando assim ser um mero copista e conseguindo uma obra que sobrevive por si mesma. 4/5
10. Fuck Buttons – Street Horrrsing. Noise em estado puro mas algo filtrado, condimentado com algum sentido melódico. Não é coisa que se ouça frequentemente, mas tem uma solidez de espírito que transpota a música para além de uma simples “boa ideia”. 3,5/5
E pronto... como vêem, o ano de 2008 já antecipava crise para a compra de discos que foi mais modesta. Note-se que mais de metade até foi adquirida este ano, aproveitando já os preços de saldo. De fora ficaram os The Walkmen e os Dead Combo, apenas por motivos financeiros.
1 comment:
Mais vale tarde do que nunca :-)
Algumas idênticas às minhas.
Abraço
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