Friday, 23 April 2010

Sonic Youth @ Coliseu (22 de Abril, 2010)



Foto: (C) Rita Carmo/Espanta Espíritos; BLITZ

Não sendo um frequentador assíduo de concertos nos anos mais recentes, voltar à casa onde há quase um ano tinha ido ver o excelente concerto dos Wilco, colocava as expectativas bastante altas. Com bilhete comprado há mais de 2 meses, esta foi a forma de me impôr a estar presente, e posso dizer que não só não me arrependo como viveria amargurado perder a prestação dos Sonic Youth em nome próprio e não encaixotados num pacote promo em saldo de verão, como tem sido habitual nos últimos anos com as bandas que passam por este país. Para aperitivo, foram oferecidos os portugueses Gala Drop (o tipo disse o nome ao microfone, mas o som estava tão empastelado que não percebi patavina). Abrir com uma espécie de electro-funk-jazz não parecia mau de todo, mas passado o primeiro tema (algo repetitivo), os restantes não mostraram mais do que um enxerto da mesma ideia com variações para ritmo e (por vezes) guitarra. Para alguns até pode ser agradável, mas tudo não passou de música para encher o tempo, recorrendo a meia dúzia de truques fáceis que qualquer tipo com jeito improvisa e entra no esquema sem grandes floreados. O destaque vai todo para o baterista, no entanto, até o facto de o guitarrista ter tocado de costas para o público denuncia uma música que é feita para ouvir enquanto se toma uns copos e se fala com os amigos. Não desagrada, mas também não fica na memória.

Uma hora depois da hora marcada, o quinteto Sonic Youth faz a entrada no palco e começa a atacar o seu último álbum de originais o qual, por circunstâncias diversas, não colheu o meu interesse para o ouvir mais aprofundadamente. Mas é para isso que estes concertos também servem, pois agora é mais um que vai para a “lista dos desejos”. Os temas foram descarregados com a dose avantajada de decibéis que se espera do grupo (os meus ouvidos ainda zumbem em background), sustentado por um wall of sound de guitarras, por vezes dissonantes, conferindo uma dinâmica característica aos temas, onde o trio Gordon - Moore - Ranaldo entrosam de forma extraordinária, como velhos amigos que conhecem todos os seus defeitos e virtudes e se entendem na perfeição. Isto sem desmerecer, muito pelo contrário, a excelente prestação no suporte rítmico dado por Steve Shelley e Mark Ibold, com particular ênfase no dinamismo de Shelley. Às variações dinâmicas acrescem algumas rítmicas e desvarios sónicos, atributo pelo qual são particularmente conhecidos, aspectos estes que conferem à música dos Sonic Youth a sua diversidade e originalidade, algo que a maioria das bandas com coordenadas semelhantes não consegue ou então atola-se em repetidas emulações de fórmulas gastas. De permeio ainda se vão ouvindo temas do período dourado da banda (dois temas do Sister), algo que causa ataques de nostalgia na plateia em alguma malta à minha volta. O concerto passa ainda pela comunhão entre Thurston Moore e os espectadores da linha da frente, mas vai ganhando um crescendo extasiante terminando com a belíssima "Massage the History". A saída do palco naquele momento foi sentida como uma espécie de coitus interruptus, e o certo é que ainda voltaram mais duas vezes ao palco para nos brindarem com mais quatro temas dando assim, no conjunto, uma visão curta da sua carreira entre Bad Moon Rising e Daydream Nation. No fim, após creca de 1 hora e 50 minutos de concerto, notava-se a satisfação plena da turba pelo que se tinha assistido. Os Sonic Youth são um valor seguro ao vivo. São profissionais, são excelentes músicos, criaram a devida empatia com o público e a resposta só poderia ser um concerto, a todos os títulos, memorável. O som, como na última vez, tem nota negativa, embora melhore consideravelmente com a casa cheia, algo que falhou com os Wilco. Quem quisesse falar (cantar) ao microfone dificilmente se fazia perceber, no entanto esse aspecto foi corrigido algumas vezes, embora não as necessárias para que tudo estivesse, efectivamente, perfeito. O rock está vivo e continua a recomendar-se.

4,5/5

Set do concerto no Coliseu (com recurso à internet):
Os temas de The Eternal estão assinalados (*)
No Way*
Sacred Trickster*
Calming The Snake*
Anti-Orgasm*
Stereo Sanctity
Malibou Gas Station*
Walkin Blue*
Poison Arrow*
Schizophrenia
Antenna*
Leaky Lifeboat*
What We Know*
Massage The History*

Encore 1
Sprawl
Cross The Breeze

Encore 2
Shadow of a Doubt
Death Valley 69

That's all folks!

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