Na Senda(i) dos Terramotos
Figura: Localização do sismo de Sendai e contexto tectónico. (C) Nature
O último sismo que atingiu o Japão levou uma panóplia de comentadores de serviço às televisões que variaram entre o engenheiro civil e um astrofísico convertido em especialista de alterações climáticas e, agora pelos vistos, também em catástrofes naturais e processos tectónicos. Que me lembre nenhum geólogo ou geofísico, ou mesmo técnico do Instituto Tecnológico e Nuclear, a entidade que em Portugal monitoriza e gere tudo quanto é resíduo radioactivo que por aqui anda. Pois bem, antes de mais, nos meios de comunicação ninguém mencionou o porquê de um sismo desta magnitude no local em que ocorreu ser inesperado. E porque razão, os meios de prevenção de tsunami acabaram por falhar, nomeadamente as barreiras costeiras que se revelaram insuficientes para aguentar com ondas entre os 10 e os 15 metros. Incluindo, é claro, na central nuclear de Fukushima pois o desastre que lhe sucedeu deveu-se precisamente ao impacto do tsunami e à insuficiência das barreiras costeiras.
O sismo do Japão atingiu o grau 9 na escala de Richter, que é uma escala logarítmica, e portanto o incremento no grau de um sismo não corresponde a um incremento linear da energia libertada, mas exponencial. Dada a magnitude atingida, e atendendo que dentro desta gama houve o sismo em Sumatra em 2004 (9.1) e no Chile em 1960 (9.5), a devastação devida à libertação da energia sísmica foi notavelmente pequena. O pior deveu-se ao tsunami que foi induzido pela movimentação brusca de uma massa da crosta substancial. Na realidade, os verdadeiros especialistas nestes assuntos, não previram que a região de Sendai pudesse ser atingida por sismos desta magnitude. A questão é, porquê? Ora bem, o ambiente tectónico onde se encontra o Japão corresponde ao bordo do local onde, a Oeste, no fundo do oceano, a crosta do oceano Pacífico (a litosfera oceânica) mergulha sob a placa litosférica oceânica que se encontra a Este e sobre a qual se ergue o arquipélago japonês. Este enorme movimento de massas é lento, gradual e nunca contínuo. Aliás, esse é o problema, porque o deslizamento de dois blocos de rocha entre si cria atrito e por vezes o movimento bloqueia até que a força exercida acumule tensão suficiente para desbloquear a progressão do movimento. Assim aconteceu com o sismo de Sendai, quando se liberta essa energia e ocorre um deslizamento brusco numa área de várias centenas de km quadrados. Acontece que os registos longos e repetidos que se vinham acumulando indicavam que sismos da magnitude do sismo de Sendai seria improvável em zonas de mergulho de placas oceânicas (zonas de subducção) em que a idade das placas é antiga. Atendendo a que a idade da litosfera oceânica ao largo do Japão tem cerca de 140 milhões de anos (para um máximo admissível entre 180 e 200 milhões de anos), os cientistas apontavam para que a região de Sendai não seria, por isso, afectada por sismos desta magnitude, precisamente por a crosta oceânica que subducta ser mais fria e densa (consequência da idade) então deslizaria mais rapidamente e facilmente. A somar ao problema, registos históricos de sismos na zona também não apontavam para magnitudes desta ordem de grandeza (máximo registado foi 8). Desta forma, o sistema de prevenção de tsunamis estava construído para suportar um impacto de ondas mas com dimensões menores da que as que vieram a ocorrer. Portanto, foi no capítulo previsão e conhecimento científico em que o processo correu mal. O sismo de Sendai provocou já uma necessidade de revisão dos modelos sísmicos nestes contextos tectónicos. Contudo, há formas alternativas a relatos históricos para deduzir a ocorrência destes fenómenos. Os tsunamis, devido às suas características, geram depósitos de detritos (conhecidos como depósitos de tsunami) que podem revelar muito da energia que lhe está associada. A verdade é que em 2001, investigadores japoneses estudaram um desses depósitos na região de Sendai, datado do século IX e cuja conclusão foi que, na realidade, a região até era afectada por ondas gigantes de mais de uma dezena de metros, mas com um período de recorrência de 800 a 1000 anos. E não é que estavam correctos?
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