Monday, 11 April 2011

AMI, ou Assim se Mostra a Independência

O que dizer das notícias que vieram a público dando Fernando Nobre como cabeça de lista por Lisboa pelo PSD e candidato do mesmo partido a Presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado?

Nunca em todos os actos eleitorias em que participei tive dúvidas em quem votava. As coisas sempre estiveram, para mim, claras como água. A excepção deu-se nas últimas Presidenciais onde me senti perdido sem saber em quem votar, não me revendo minimamente em nenhum dos candidatos a Presidente da República Portuguesa. Estando ainda recenseado na freguesia onde vivem os meus pais, desloco-me religiosamente em todos os actos eleitorais para exercer o meu direito. Naquele dia, não foi diferente. O que foi diferente foi a constante dúvida que me assaltava a cabeça sobre onde iria eu colocar a cruz do meu voto. O princípio de deixar o boletim em branco nunca me agradou e nunca o havia feito, por isso, não era agora que o iria fazer. Apenas dois nomes tinham algumas hipóteses de receberem a minha aprovação, embora contrariada em ambos os casos. A dúvida persistiu até à mesa de voto e no instante em que tinha a caneta na mão e o boletim à minha frente, a decisão foi tomada tal como uma bola que está no topo de uma colina e, por circunstâncias meramente locais, acaba por deslizar por um dos flancos. A cruz recaíu em Fernando Nobre. Não sei se o acto foi consciente ou inconsciente, embora seguramente tenha havido uma nesga de consciência no mesmo. Afinal, descontando as trapalhadas que saíram da boca de Fernando Nobre durante a campanha eleitoral, e não foram poucas, acreditei, ainda que por um breve momento que fosse, que Fernando Nobre era o rosto da independência e a personificação daquilo a que se aproximava mais da dita sociedade civil. Um rosto tosco e algo trapalhão, mas ainda assim um rosto. Observei essa inépcia como uma forma genuina de alguém que, embora não talhado para o combate político, o fazia por um dever de cidadania e de esforço, tal como se empenha nas campanhas de terreno da AMI, ainda que com resultados bem diferentes. Creio que inconscientemente, foi essa crença que me decidiu de forma quase mecânica, a colocar a cruz onde ela acabou por ser colocada. Hoje essa crença esfumou-se, tal como se esfumou da mente da maioria dos seus apoiantes. E é em parcos segundos, os necessários para se ler o cabeçalho de um título de jornal e os primeiros parágrafos desta notíca, que o Dr. Fernando Nobre consegui destruir a sua imagem de independência e prestígio que lhe levou décadas a adquirir e da qual nunca recuperará. E isto porquê? Pela hipótese de ocupar o lugar de segunda figura do Estado Português? O que distingue os grandes homens e mulheres dos pequenos é que os primeiros talham a História à medida da sua ambição, os outros deixam-se talhar pelos acontecimentos, e desses não restará memória de que alguma vez tenham existido. Paz à sua memória, Dr. Fernando Nobre.

2 comments:

M.A. said...

Com atitudes destas, compreendo melhor o desligamento de algum eleitorado em relação a uma certa classe política para a qual o Dr. Nobre chamava a atenção. À falta de melhor, deslealdade é o termo.

Um abraço.

strange quark said...

Ironia das ironias, isto pode ser uma machadada terrível na próxima participação eleitoral, e uma justificação para que a abstenção perdure a níveis vergonhosos. Há atitudes que me deixam perplexo para além do que é razoável. Deslealdade, sem dúvida.

Um abraço