Ben Frost @ Teatro Maria Matos (25 de Abril de 2011)
Para terminar o dia da liberdade, pelas bandas do Maria Matos libertaram-se os demónios sonoros de Ben Frost, um músico australiano que mora para os lados da Islândia, como que a fazer jus à frieza da sua música e do seu apelido. Depois de editar “By the Throat” em 2009, obra que veio apresentar em Lisboa, não faltaram elogios à obra, mormente da parte de Tim Hecker, cuja música partilha muitos pontos em comum.
Num Maria Matos com mais de meia casa e pouco depois das 22 h, o singelo Ben Frost assoma ao palco, descalço, acompanhado pelo contrabaixista Borgar Magnason, e sentado ao piano lança um lacónico “Sorry we're late” começando uma troca de notas musicais com o contrabaixo arranhado por um arco produzindo sons minimalistas naquele que seria o único momento integralmente acústico do concerto. A partir daí Frost aproxima-se do portátil Macintosh e da bateria de amplificadores para, ao correr do momento, ir construindo uma sequência de paineis sonoros que deambulam entre um minimalismo noise, a mistura de ruído digital, loops do som do contrabaixo (sempre tocado com arco), passando a espaços pela guitarra (usada parcimoniosamente e sujeita aos mesmos tratamentos) e pelo piano. Os momentos variam entre o discreto olhar de uma paisagem idilicamente transformada em ambiente dark, até à produção sonora intensa com níveis de volume de fazer inveja às bandas de metal. As paisagens, como By The Throat já o indiciava, são frias e inóspitas com o contabaixo a soltar os uivos lancinates de uma alcateia no penúltimo tema da noite. A sequência de temas não deixa espaço a respirações, e o público apenas num momento apanha uma aberta para lançar umas palmas que são basicamente ignoradas por representarem uma distração ao que se estava a passar em palco. Tal como numa obra orquestral dividida em vários movimentos, as manifestações de agrado e aprovação foram por isso deixadas para o fim. No ar fica uma sensação de estranheza afim de performances deste género, uma vez que o objectivo não é produzir melodias mas sim causar sensações e cada um de nós imaginar as paisagens que os sons sugerem, onde mesmo o simples olhar para o palco e para os músicos pode constituir em si uma distracção. Em qualquer dos casos, as paisagens nunca serão agradáveis nem quentes, antes pelo contrário. São momentos de intensidade que cada espectador vive de maneira diferente e não deixa lugar a escolhas dúbias. Ou se gosta, ou não se gosta. Ao contrário também do já mencionado Tim Hecker, a música de Ben Frost é bem mais crua e despojada de tonalidades melódicas. O resultado porém, mereceu inteiramente a deslocação e o pouco mais de uma hora de actuação.
(4/5)
2 comments:
Este fica-me atravessado na garganta (inveja é o termo mais apropriado). Mas, para me desforrar, já tenho o Tim Hecker agendado para a próxima sexta. ZdB é o local.
Abraço!
Não sabia que vinha cá o Tim Hecker. Tenho pena de não poder ir. Tenho o álbum "Harmony in Ultraviolet" que é muito bom mesmo e parece que o último (já deste ano salvo erro) foi bastante elogiado. Deves ter a oportunidade de o ouvir então. Depois contas como foi, não é?
Um abraço
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