Swans @ Aula Magna
Ontem foi o dia de uma das mais míticas bandas americanas de 80s pisar o palco da Aula Magna, os Swans de Michael Gira. Apesar de não fazerem parte do lote de bandas que enchem salas com facilidade, a Aula Magna apresentava-se razoavelmente composta para os receber, fruto seguramente dos largos anos de actividade da banda (pese embora a interrupção) fomentando uma legião de admiradores que já vai cruzando várias gerações. Da parte que me toca, o encontro veio em finais de 80 até ir residindo um pouco no esquecimento. Renascidos em 2010 com um disco cuja atenção me foi despertada pelo concerto, constituiu assim uma oportunidade de os ver ao vivo, para constatar in loco a intesidade do seu experimentalismo sónico.
Antes porém, a primeira parte deu-nos uma agradável surpresa com os powerdove de Annie Lewandowski que, fazendo-se acompanhar por um guitarrista e tocando ela própria por vezes uma guitarra acústica de menores dimensões, presenteou o público com um punhado de canções melodiosas de uma pop/folk luminosa, com um suporte musical minimalista, de adorno sóbrio e sustentado por sequências de acordes simples, ou notas soltas tocadas de forma espaçada e lenta deixando à voz o desenho principal das canções. A voz essa, apresentava-se frágil mas segura, como se se dirigisse apenas para um punhado de amigos. A grandeza da sala contrastava enormemente com o intimismo da performance, mas ainda assim, notou-se uma aprovação maioritária por parte do público. Os powerdove editaram este ano o seu primeiro longa duração, Be Mine, pela Square Records, e direi que vale a pena fazerem-lhe uma visita.
Após esta introdução de tons tão suaves ninguém suspeitaria a enorme descarga energética que se seguiria. Arrancando já às 22h com um drone contínuo que teimava em persistir sem ninguém em palco (o que parecia já incomodar algumas gentes do público), os músicos dos Swans foram entrando, um a um, espaçadamente em palco construindo sobre o drone inicial um conjunto de estruturas rítmicas sucessivas que terminaram com a entrada de Gira dando assim termo a 30 minutos de pura neurose sónica, incluindo a reinterpretação do tema de abertura do seu último álbum, “No Words/No Thoughts”. E é de reinterpretação que aqui se fala, pois as estruturas melódicas das canções estavam reduzidas ao esqueleto, soterradas numa imensidão de desgarga sonora rítmica de guitarras distorcidas comandadas ao ritmo da bateria e percursões. Esta carga sonora foi levada a uma intesidade tal que era impossível não nos sentirmos quase hipnotizados pela sequências rítmicas repetitivas e densas por vezes unindo dois e três temas de uma vez. Aqui não houve espaço para descanso e os músicos deram muito poucas tréguas ao público, parando por vezes para receber uns aplausos, ou quando finalizado o primeiro tema Gira convida os presentes a ocuparem as cadeiras vazias das doutorais, ou já no final quando apresenta os seus cúmplices em palco. Também não houve lugar a destaques, menção talvez ao baterista que ía comandando os ritmos com um frenesi incansável, tudo sob a batuta de Gira que, várias vezes, ía dando instruções à banda como se de uma orquestra se tratasse. E foi de facto uma comunhão impressionante o que se assistiu em palco e confesso que nunca tinha presenciado a algo semelhante por parte de uma banda ao vivo. Notável também a performance de Thor Harris nas percursões e vários outros instrumentos, incluindo de sopro. Impossível ter saído indiferente deste concerto. Impossível ficarmo-nos por meias-impressões. Foi quase uma descida aos infernos sonoros, sublinhada por um imperativo “Jesus, come down” que Gira solta no final do segundo tema. E assim continuou por 2 horas. Esmagador, é o mínimo que me ocorre dizer. Quanto aos Swans, ainda parece estar longe o seu canto do cisne.
4,5/5
2 comments:
Para quem, como eu, estava com ressaca de concertos, a coisa não podia ter corrido melhor. Os ouvidos ainda se ressentiram durante todo o dia de ontem.
(olha que engraçado, escolhemos a mesma foto)
Um abraço.
Os teus ouvidos e os meus. Parecia que tinha uma almofada no tímpano. Acho que fui apanhando várias ondas de choque do que assisti ao vivo nas 48 horas que se seguiram, como quem só aos poucos é que dá verdadeiramente conta do que assistiu em palco.
Breathtaking!
Um abraço
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