Depois de algum tempo de pausa, eis-me regressado a este tema. Entretanto, num outro blog, e ainda por causa de Michael Crichton, encetei uma breve discussão sobre este assunto, o que é sempre salutar. Desta vez vamos abordar algumas evidências que nos dão razões para ficarmos preocupados.
As medições do CO2 atmosférico iniciaram-se de forma sistemática nos anos 50 no observatório do Mauna Loa no Havai e desde então mostram que a concentração deste gás tem vindo continuamente a aumentar na atmosfera terrestre. Este gráfico, designado como curva de Keeling (superior), é um clássico onde se observam oscilações em forma de serra dentada devidas à variação do CO2 nos períodos de verão e de inverno em face da maior e menor intensidade da fotossíntese, respectivamente. Como é sabido a fotossíntese redunda num processo que, em última análise, transforma o CO2 absorvido em tecidos vegetais, mas há aqui dois aspectos a considerar: o total de CO2 absorvido na fotossíntese, correspondendo ao que designamos por produção primária bruta, não é todo transformado em carbono orgânico, isto porque na ausência da luz solar, as plantas respiram e libertam CO2 nesse processo. A diferença entre ambas as taxas é que determina, de facto, a quantidade de CO2 fixa em tecidos vegetais, ou seja, a produção primária líquida. Conforme constatamos, a biomassa vegetal (na realidade a grande maioria da biomassa terrestre) é um importante sumidouro de carbono da atmosfera, por isso é que a gestão dos solos, a desmatação e ocupação urbanas têm implicações no equilíbrio do CO2 atmosférico.
A par destas observações, os registos da temperatura média ao longo dos anos também demonstram uma clara subida, por vezes com patamares, como durante os anos 60. Já Svante Arrhenius, o químico sueco prémio Nobel da Química em 1903, previu quantitativamente a capacidade de o CO2 poder actuar como gás de efeito de estufa. Parece lógico que, mantendo todas as outras variáveis constantes, os efeitos da crescente introdução de CO2 na atmosfera por parte das actividades humanas tivessem como resultado esta mesma subida da temperatura. Mas será legítimo estabelecer um paralelismo de causa e efeito entre o CO2 e a subida da temperatura atmosférica? Não completamente. Os factores que influenciam o clima na Terra e a temperatura atmosférica não se esgotam no CO2. Tem sido com base nestes pressupostos que muita da contestação às evidências das alterações climáticas se tem manifestado. A dúvida e o cepticismo são fulcrais em ciência e por isso é importante quem age de forma crítica no campo oposto. O que já não é aceitável são pressões políticas e de outra índole que ambas as partes promovem. Assim, alguma contestação recaíu em problemas efectivos, como a dúvida sobre os métodos de medição das temperaturas. Os críticos argumentavam que essas medições estariam viciadas por serem feitas principalmente próximo de aglomerados urbanos, onde essas mesmas temperaturas serão mais elevadas. Por outro lado, as medições efectuadas por satélites pareciam reforçar isso mesmo uma vez que apresentavam uma diferença sistemática que ninguém conseguia explicar de forma convincente. No entanto, essas discrepâncias foram parcialmente eliminadas e publicadas num relatório de Abril de 2006 pelo US Climate Change Science Program, apresentando uma subida consistente das temperaturas na atmosfera a nível global, restando por explicar apenas as diferenças nas zonas tropicais. Outra vertente da contestação já pega em argumentos que são mais heurísticos, baseando-se apenas em situações particulares que servem de generalizações. Exemplos disso são as evidências do arrefecimento que parece afectar presentemente a Antárctica ou, em termos históricos, a existência de períodos particularmente frios (como na Europa do século XVI) ou particularmente quentes (como no início da Idade Média). O que se questiona é se não estaremos nós a atravessar um período equivalente. Estes pequenos episódios serão apresentados noutro texto, quando falar do clima no passado, mas diremos que honestamente, nada se pode garantir sobre esse assunto. Actualmente, as observações indicam uma consistência entre as várias variáveis em questão, nomeadamente o CO2 e o aumento da temperatura.
Que outros exemplos evidenciam aumento das temperaturas médias globais? A resposta é: retracção da cobertura de gelo no polo Norte; retracção dos glaciares a nível global evidenciada, pelo menos, desde os anos 80; subida da linha de altitude de diversas espécies vegetais em várias regiões do globo; aumento da frequência de tempestades violentas; aumento da temperatura média da superfície do oceano. Que mais será preciso ainda?
Artigos anteriores: