Sunday, 7 December 2008

Ciência nos Limites

A abertura recente do LHC (Large Hadron Colider) no CERN pretende disponibilizar a fabulosa energia de 7 TeV (Tera electrões-volt) na colisão entre partículas sub-atómicas numa tentativa de testar o Modelo Padrão (Standard Model) a um nível que não foi até agora atingido. Pois bem, o Modelo Padrão é o modelo correntemente mais aceite sobre a matéria à escala das partículas elementares e que unifica 3 das 4 forças fundamentais da natureza: electro-magnetismo, nuclear fraca (decaimento radioactivo) e nuclear forte (a força que mantém o núcleo coeso). No entanto existem diversos problemas com esta teoria, nomeadamente a existência de muitos parâmetros que são estabelecidos de forma ad-hoc e também o facto de, até ao momento, a força da gravidade resistir de forma feroz à integração na teoria. Até parece que o espírito de Einstein, que se opunha frontalmente à descrição da mecânica quântica e a considerava profundamente incompleta, se encontra presente para amaldiçoar de forma permanente qualquer tentativa de casamento com as restantes forças da natureza, pelo menos, desta forma. Para isso foram propostas aproximações alternativas, a mais mediática das quais a teoria das cordas (string theory) e que até agora não passam disso mesmo, simples propostas alternativas. Se o Modelo Padrão tem problemas, a teoria das cordas parece enovelada nos objectos com que pretende descrever o mundo sub-atómico a ponto de constituir um autêntico nó cego. As ferramentas matemáticas desenvolvidas na teoria das cordas são de tal forma complexas, que muitos físicos passam mais tempo a tratar da matemática do que do fenómeno físico propriamente dito. Para ilustrar este estado de coisas houve até alguém que já sugeriu que a Teoria das Cordas é uma teoria do século XXI acidentalmente descoberta no século XX (arrancou de forma definitiva no final dos anos 70).


Voltando ao LHC. Desta prodigiosa máquina, que entretanto teve problemas técnicos algo graves com os magnetos supercondutores e que a obrigam a estar parada até meados de 2009, espera-se que vá gerar um manancial de partículas com massas cada vez mais pesadas (lembrem-se que, segundo Einstein, energia e massa são equivalentes), uma das quais (e é o troféu máximo desta partida de caça singular) é o bosão de Higgs, assim designada em honra do físico irlandês, Peter Higgs, que postulou a sua existência. Se for descoberta, será seguramente o avanço mais significativo desta fabulosa experiência colocando o Modelo Padrão num nível onde será muito mais difícil de destronar permitindo também, de uma só penada, explicar a massa de todas as partículas sub-atómicas (dependentes dos tais parâmetros ad-hoc). Claro que muito mais se espera deste empreendimento, que incluem aquelas formas estranhas de energia e matéria que andam pelo Universo e que muito recentemente atormentam o espírito dos astrofísicos com uma persistência avassaladora. Finalmente, teremos muito provavelmente chegado ao limite dos grandes aceleradores de partículas, não por incapacidade técnica mas pelo prodigioso investimento financeiro destas experiências. Em alternativa há quem proponha, há mutio, que as observações astronómicas nos põem em contacto com fenómenos energéticos que colocam a energia do LHC ao nível da usada por uma simples lâmpada caseira. Será preciso mudar o paradigma, e qualquer que seja o resultado destas experiências, essa mudança é inevitável.

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