Thursday, 9 April 2009

ProgNósticos: Genesis - II

Parte 2

Para ler a primeira parte.

A pedrada no charco veio em 1974 com o álbum The Lamb Lies Down on Broadway. Este disco nasce de uma ideia de Peter Gabriel a partir de uma viagem pessoal interior (assumida), surrealista (what else, vindo de quem vinha) e marcada pela iconografia norte americana resultante de impressões que Gabriel tinha retirado de uma digressão dos Genesis pelos Estados Unidos. O álbum tem um parto, no mínimo, difícil e tem ainda uma extensão natural nas performances ao vivo que se seguiram (algo de ambicioso e nunca visto à época por uma banda rock) e que haveriam de colocar os Genesis na rota do Pavilhão Dramático de Cascais em 1975. A personalidade de Gabriel começava a crescer e com ela cresciam também as vontades de experimentar mais do que a simples música. Esta atitude não era de todo partilhada pelos restantes elementos da banda, o que associado a problemas familiares criou uma tensão e fractura no grupo que se revelaria definitiva. Curiosamente, apesar da música ter estado fundamentalmente a cargo de Banks, Rutherford, Collins e Hackett, com Gabriel nas letras, o conjunto espelhou bem o espírito que os rodeava e o grupo colocou cá fora o seu álbum mais incaracterístico, mesmo para o género, profundamente negro, a trechos possuidor de um brilhantismo extraordinário, experimental (ainda teve uma colaboração pontual de Brian Eno), ecléctico (explorava uma certa variação de géneros) e apesar de se poder reconhecer algum desequilíbrio, com tempo e analisando profundamente, possui uma força incomum mercê de ser tão humanamente imperfeito e mesmo ambicioso. Pese embora a característica conceptual e operática (se assim a quisermos entender), o disco antecipava algumas pistas para o futuro com músicas mais curtas (a maior parte não possui mais que 4 ou 5 minutos, muitas quedando-se entre o pouco mais de 2 a 3 minutos) e desejos de uma rotura com o passado a qual é bem patente até na capa do disco, uma obra dos famosos estúdios Hipgnosis de Storm Thorgerson. Mas não seria exactamente isso que iria acontecer.


Com a saída de Peter Gabriel, os Genesis podiam voltar a ser o que sempre foram, e foi o que aconteceu. Trick of the Tail (1975) representa a continuidade de uma linha interrompida pelo disco anterior. A saída de Hackett em 1976, uma personagem que na realidade nunca parece ter-se integrado verdadeiramente apesar de a sua guitarra ser uma das marcas da banda, apenas acelerou a transformação dos Genesis num grupo pop, grangeando uma popularidade e sucesso como nunca conheceram em qualquer outro momento da sua carreira. Quanto à herança de The Lamb... ela haveria de ser retomada em pleno por Peter Gabriel em 1980, quando concebeu um disco não só magistral como um dos mais importantes da década que continha, entre outros, os clássicos "Games Without Frontiers" e "Biko". Por mera coincidência (ou talvez não) a tourné visitou o mesmo Dramático de Cascais nesse ano, 5 anos após a despedida dos Genesis. Desde então para cá, nem um nem os outros foram vistos por estas paragens. Dos primeiros não há grandes saudades, mas do segundo sentimos falta.

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