Tuesday, 16 February 2010

Whatever Works! Not Always


Até parece que dei em cinéfilo, mas na realidade serei apenas um amante da 7ª arte com gosto pela coisa que agora arranjou um pouco mais de tempo para reavivar este prazer antigo. Pois bem, os mais atentos reconhecerão no título deste texto o título do último filme de Woody Allen. Falar de Woody Allen, é como falar das férias ou das noites de farra com os amigos. Aparte o exagero de reduzir Woody Allen a uma mera conversa de circunstância, ao olhar para a longa carreira deste realizador fica-me a sensação de alguém que nunca quis fazer do seu cinema mais do que um momento de boa disposição conjugado com (auto)terapia psiquiátrica. Também não quero dar a sensação que não gosto do Woody Allen, o que não podia estar mais longe da verdade. Allen tem a sensibilidade cinematográfica dos mestres que admira e a veia literária adequada aos temas que aborda. Em vários aspectos é um realizador singular. Enquanto que vemos a maioria dos realizadores como uma peça numa engrenagem gigantesca que ele se esforça a todo o custo não atrapalhar, Allen é uma espécie de homem dos 7 instrumentos, o performer de rua que apresenta, toca, canta, dança, lança os foguetes e apanha as canas, e segue descansado para casa dispensando a meia dúzia de amigos que o ajudaram naquele dia. É pois uma free-mind que faz o que lhe dá na real gana como forma de expiar as suas crises existenciais e amorosas, as suas dúvidas teológicas e morais, a sua hipocondria, lançando algumas farpas às realidades sociais que o rodeiam num dado contexto, sendo que este é frequentemente o meio artístico de Nova Iorque.

Nova Iorque, pois! Se há realizador que mostra amor por Nova Iorque, a resposta vem célere em forma de Woody Allen. Veja-se Manhattan e precebe-se porquê. Este último filme parece por isso um regresso do filho pródigo, ou o reatar de uma relação que acabou em divórcio. E nesse aspecto este Whatever Works (Tudo Pode Dar Certo) (a)parece (como) uma súmula de tudo o que Allen já nos deu. Colocar ali todos os fantasmas e problemas já passados e esperar que... whatever works. E se a fluência até nos mostra um filme que tem piada, não aborrece e nos deixa com a sensação de uma hora e meia bem passada, já por outro lado fica aquela sensação de déja vu, em que o efeito surpresa desvanece-se a cada cena que passa pois temos a certeza que Woody Allen, pese embora as citações cinematográficas (com especial ênfase em Apocalypse Now), se cita a si próprio com tal asseverança que praticamente se auto-plagia. E não é só a relação entre Boris (Larry David) e Melody (Evan Rachel Wood) que nos remete para a relação em Manhattan, é a recorrência sobre a sua crise existencial cimentada pelo acto de envelhecer e até o interpelar da audiência (lembremo-nos de Rosa Púrpura do Cairo). Aqui não há lugar ao brilhantismo do argumento de Match Point, nem tão pouco da comédia despretenciosa de Scoop. Poderemos dizer que Woody Allen não se deu mal em Londres e que se dá melhor em Nova Iorque. Mas não por este Whatever Works, mas pelo que fez no passado. E é por isso que é preciso mais que uma simples reconciliação para que essa relação volte a funcionar como algo fresco e que nos diga que vale a pena. Nota positiva para o facto de Larry David não tentar sequer emular os tiques nem a hiperactividade de Allen que dispara palavras ao ritmo alucinante de uma metralhadora, tal como Kenneth Branagh o fez em Celebridades, detalhe que nos dava vontade de lhe despejar o carregador de uma metralhadora em cima.

(3/5)

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