Sunday, 16 March 2008

Recuperados em 2007

Continuando a análise muito pessoal de MMVII, abordamos aqui o assunto numa perspectiva de não correr atrás do que foi notícia, mas de salientar algumas das coisas que valeram a pena. Enquanto que para muitos vale o ditado “o primeiro milho é para os pardais”, aqui na tasca acredita-se que “o segundo rato é que leva o queijo”. Pois bem, o ano transacto assistiu à recuperação de algumas obras musicais dignas de registo, e é delas que aqui damos conta.

Começando talvez por uma jovem banda, registe-se a reedição do EP dos iLiKETRAiNS, “Progress Reform” que já havia saído no ano anterior, sob a chancela da Beggars Banquet com uma faixa bónus. São uma banda a seguir com interesse, e peguei neles devido à entusiasmante insistência da estimada amiga Extravaganza. Editaram o seu primeiro disco (de corpo inteiro) também em 2007, “Elegies to Lessons Learnt”, mas não me cativaram o suficiente quanto este pequeno EP.

Lullaby for a Liquid Pig” de Lisa Germano. Depois desse belíssimo disco que dá pelo nome de “In the Maybe World”, a edição do seu registo anterior é bastante oportuna, acompanhado com um segundo CD de gravações ao vivo, incluindo alguns temas do seu concerto no Santiago Alquimista, em finais de 2006.

Do Tempo do Vinil, é assim que se chama uma iniciativa com direito a blogue que se dedica a reeditar em formato CD (PCM) discos que, na sua maioria, nunca viram outra edição que não em vinilo (de uma vez por todas, a tradução correcta do inglês vinyl é “vinilo” e não “vinil” de acordo com as regras ortográficas, sendo o nome de um grupo funcional de compostos orgânicos, e deriva do latim “vinum”, que quer dizer “vinho”. Os LPs são constituídos por um polímero de vinilo específico, daí a designação). Foi assim com o primeiro dos GNR, “Independança”, mas também os Sheiks (“Missing You”), Jorge Palma (“Com uma Viagem na Palma da Mão”), e Tantra (“Mistérios e Maravilhas” já havia sido editado em CD numa outra ocasião). Para este ano encontram-se na forja o Quarteto 1111 (“Onde Quando Como Porquê Cantamos Pessoas Vivas”), Telectu (“Ctu Telectu”) e o Quinteto Académico. Da chancela da Companhia Nacional de Música, que em 2006 nos tinha devolvido o essencial “Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos” da Banda do Casaco, veio o mais importante disco de rock português dos anos 70: “Mestre” dos Petrus Castrus (Como? O Rui Veloso? Nesta altura ainda não sonhava que viria a ser alguém!).

Jean Michel Jarre decidiu regravar o seu primeiro registo, Oxygène, para a celebração dos 30 anos de existência. Na realidade são 31, pois o disco viu-se editado em 1976 mas só em França. O que tem feito entrou numa vulgaridade enfadonha e não merece que se lhe preste grande atenção sendo, talvez por esta razão, um nome que diz pouco às gerações mais novas. No entanto, Oxygène foi (e continua a ser) um disco magistral, e possuidor de uma frescura que na altura era muito difícil de conseguir. Resiste completamente à erosão do tempo, enquanto que muita música electrónica dos anos 80 soa hoje tal como a estética dos filmes de ficção científica série B dos anos 50: não só datada, mas também irritantemente naïf.

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