Tuesday, 4 March 2008

Sérgio Godinho Bem Assessorado


O ano de 2008 parece musicalmente morno, no meu modesto e limitado ponto de vista, de quem normalmente apenas segue o que vai sendo dito por aí por gente mais bem informada. Tal como no ano transacto, o primeiro CD que adquiri foi de um português. O deste ano recaíu, há cerca de pouco mais de um mês, no “Nove e Meia no Maria Matos” do Sérgio Godinho e os Assessores, a banda que o acompanha ao vivo e em estúdio. Se os ministros tivessem assessores destes diriam seguramente menos asneiras na praça pública. Claro que também era preciso que, seguindo o exemplo do Sérgio Godinho, tivessem algo de útil para dizer. Normalmente, não é o caso por isso vamo-nos quedar pelas melodias e as palavras de Sérgio Godinho, um ídolo que reencontro ao fim de mais de dez anos de divórcio. Confesso! A culpa é inteiramente minha, e deve-se exclusivamente a não ter prestado a devida atenção ao que tem feito entretanto. Boa oportunidade por isso para rever alguma matéria dada neste seu registo ao vivo, em especial do seu último álbum, “Ligação Directa”, de onde provêm 6 das 18 composições do disco. E que disco, senhores! Os arranjos são de uma subtileza e originalidade quase desconcertante. As suas músicas, e várias há dos seus tempos áureos de cantor de intervenção, aparecem aqui vestidas com novas roupas que as tornam reconhecíveis, mas estranhamente joviais e modernas, como se o Sérgio encontrasse um prazer renovado em cantá-las. Esta capacidade de se reinventar sem perder o essencial da sua identidade é uma característica que Sérgio Godinho guarda de outras ocasiões. A primeira, que assisti ao vivo no Instituto Franco-Português, teve como resultado o álbum “Escritor de Canções”. Arranjos minimalistas, condizentes com a presença de 3 elementos em palco, incluindo o próprio Sérgio, Nani Teixeira no baixo e Manuel Faria dos Trovante, responsável também pela produção e misturas. Mais tarde vemos a edição de “Irmão do Meio”. Agora este, desta vez com o Nuno Rafael aos comandos dos arranjos musicais. Desculpem-me se omito outras obras similares, mas estas são as que conheço. E depois, há aquela música inebriante da série infantil dos “Amigos do Gaspar”, objecto raro e pouco recuperado, aqui executada de forma magistral e contagiante, dando uma enorme vontade de extravasar de alegria pelos ritmos e as palavras (sempre) simples do Sérgio. Um contador de histórias exímio e um artesão das palavras e das frases que fazem do Tiago Bettencourt um aprendiz de fraldas, o Sérgio tem sempre algo para nos dizer, qualidade que, bem vistas as coisas, há muito poucos que se possam vangloriar de ter.

Vale a pena ver o Mundo aqui do alto
Vale a pena dar o salto

É tão bom uma amizade assim
Faz tão bem saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom para mim, é bom para quem tão bem me quer

Aí ao lado vai ficar a música "Liberdade", do álbum "À Queima Roupa", porque me parece demasiadamente adequada aos tempos que correm.

1 comment:

strange quark said...

Aos estimados leitores,

O facto de muitas vezes escrever com referências de memória dá em gralhas. Corrigi a seguinte informação: o tema Liberdade é do álbum À Queima Roupa de 1974 e não do álbum Pano Crú de 1978 como estava mencionado no post. Creio que o facto de estar com o nome do álbum de 1978 na cabeça estes dias me induziu em erro. O álbum À Queima Roupa é dos poucos da primeira fase do Sérgio Godinho que não tenho, sendo igualmente um disco, como o nome indica, muito incisivo dado o momento em que foi lançado (após o 25 de Abril). É também, por isso, o seu disco mais datado.

Aqui fica a correcção com o devido pedido de desculpas...