Wednesday 25 February 2009

A Origem da Censura

Agora foi em Braga, onde a PSP apreendeu um conjunto de livros cujo crime era terem na capa uma reprodução da obra de Gustave Courbet, A Origem do Mundo. Este país anda com acessos de moralismo e censura a mais para o meu gosto, e a um nível que me começa a preocupar mais do que a crise financeira global. Pergunto-me se a entrada no Museu d'Orsay estará interdita a menores de 18 anos. Talvez não esteja... mas só porque o museu não é em Braga. É caso para dizer: vão para a “origem do mundo” da vossa mãe!


Sátira de Tanja Ostojić à UE, baseada na obra de Courbet (igualmente censurada lá para os lados da Austria, se bem me recordo)

Tuesday 24 February 2009

Coisas do Arco da Velha (#6)


Home Taping is Killing Music” era a mensagem que por vezes se encontrava nas capas interiores em papel (enventualmente forradas a plástico por dentro) dos discos de vinilo importados de Inglaterra. O logotipo, com uma cassete e dois ossos cruzados, cita não só a simbologia pirata mas também a morte e constitui um sinal dos tempos em que, tal como hoje, se copiava a música. Mas as diferenças eram muitas, para não dizer substanciais. Estas diferenças podem resumir-se a dois aspectos fundamentais: o formato de cópia e respectivo suporte que não era de todo portátil e a inexistência de redes de partilha que não fossem para além do grupo de amigos do bairro. Assim, havia pelo menos alguém que comprava o disco e que se dispunha a emprestar aos outros para o poderem gravar. E os outros eram um grupo de dois ou três (uma dezena eventualmente) de amigos, que o faziam numa atitude comunitária de partilha, ou seja, eu gasto os meus cobres nestes discos, tu gastas naqueles, e depois trocamos. Havia um genuino prazer de ouvir a música, e houvesse dinheiro nos bolsos para a comprar, ninguém na realidade trocava o vinilo pela fita da cassete que enrolava, ficava gasta, degradava rapidamente e tinha uma qualidade sonora que deixava, e muito, a desejar. Hoje, a internet e a produção musical em formato digital alterou por completo este padrão (de consumo e de atitude) e fez com que este aviso pareça estranhamente obsoleto e exageradamente alarmista à época, fruto de uma indústria que, na altura tal como hoje, conviveu mal com o mercado que quis sempre controlar à força, incapaz de ter visão e prever o alcance e dimensão que o problema tem nos dias de hoje quando os primeiros CDs chegaram ao mercado. Aliás, foi precisamente nesta altura em que a ganância das editoras chegou ao seu grau superlativo quando pairou no ar a morte anunciada do vinilo promovendo assim junto das classes com maior poder de compra a substituição maciça dos seus discos antigos por CD. Um erro crasso de onde todos sairam a perder e mais um exemplo de falta de visão cuja melhor elegia foi escrita por José Vitor Henriques ao afirmar “que o vinilo se vestiu de preto para assistir ao enterro do CD”, e eu acrescento, “...ingloriamente assassinado pelo mp3”. A cópia e distribuição de música tornou-se de tal forma facilitada e generalizada que o seu consumo deixou de ser feito com prazer e reflexão, para passar a ser voraz e urgente, como quem consome compulsivamente e de forma doentia numa sociedade inundada de produtos e informação. A questão já não é ter os discos de que se gosta, é conseguir ter o maior número de discos possíveis. Não importa sequer se temos ou não tempo para os escutar, o que importa é dizer que se ouviu ou conhece o maior número possível de bandas. Mas que outra coisa estaríamos à espera num tempo em que cada vez mais se olha sem ver e se ouve sem escutar?

Friday 20 February 2009

É Carnaval e o Magalhães Não Leva a Mal


Agora que venha o Ministério Público mandar prender-me ou fechar esta merda!

Wednesday 18 February 2009

O Tempo dos Cardeais

Agora é a vez de um tal D. José Saraiva Martins que vem a púlpito enviar mensagens que seguramente julga sábias e, quiçá, divinas. Não só reiterou as recentes afirmações do Cardeal Patriarca de Lisboa sobre casamentos com muçulmanos como deu ainda vários passos em frente (dependendo da perspectiva, claro): declarou que a homossexualidade não é normal, tal como não é normal o casamento de duas pessoas do mesmo sexo o qual, finalmente, não permite uma educação normal das crianças.

No meio de tanta normalidade e vontade reguladora, é caso para perguntar se de facto a educação que D. José Martins recebeu foi normal. Mas segundo a sua perspectiva se calhar até não foi, pois não consta que nos seminários hajam outros seres que não sejam uns tipos de batina e todos do mesmo sexo. Só isso, Sr. Cardeal, é que de facto me permite compreender a coerência das suas afirmações.

Monday 9 February 2009

O Que é Que a Carmen Miranda Tem?

Não esperem que responda à questão no título, pois a efeméride dos 100 anos do nascimento da portuguesa mais famosa de sempre (cujo sabor do tropicalismo brasileiro a levou à meca dos famosos), serve para recordar o tema de uma canção de John Cale, última faixa do seu álbum “Words for the Dying” (1989), que para além de um tributo à pessoa de Carmen Miranda é também um tema fenomenal temperado com as electrónicas de Brian Eno.

Since the soul of Carmen Miranda had captured the mind of man Dismissed with her generation for the price of a can-can

Para ouvir:

The Soul of Carmen MirandaJohn Cale, “Words for the Dying” (1989)