Friday 23 October 2009

Manifesto Anti-Dogma

Por vezes a sociedade portuguesa é assaltada por certo tipo de desvarios que, se não fossem caricatos, seriam certamente tristes (para não dizer assustadoramente preocupantes se quisermos pensar adequadamente sobre algumas destas manifestações cada vez mais frequentes). A recente polémica que as declarações de José Saramago sobre a Bíblia causaram denotam uma sociedade que está ainda muito longe da sã convivência do debate de ideias. Os cristãos têm todo o direito em se sentirem incomodados, ofendidos ou lá o que quiserem com as declarações de Saramago, mas não podem nunca limitar a sua liberdade de opinião, nem a de mais ninguém. Por muito polémicas que as declarações sejam, estão a anos-luz de distância de se poderem configurar sequer como matéria jurídica. Tudo isto fica ainda mais surrealista quando o eurodeputado do PSD, Mário David, tendo vergonha de ser compatriota de Saramago, sugere que o mesmo renuncie à sua cidadania. Mais, numa elaboradíssima lógica de raciocínio, retira do leque das pessoas de bom carácter todas aquelas que não professam os seus valores religiosos. Finalmente, se os católicos lessem realmente a Bíblia (ou pensassem sobre o que leram) facilmente veriam que muitas afirmações que por lá andam convivem mal com a sociedade capitalista ocidental, com quem promove a injustiça social, o liberalismo do capital e a acumulação de riqueza. Mas para isso, julgo eu, talvez seja necessário ter um quociente de inteligência superior ao do senhor eurodeputado.

Morra o Dogma, morra. Pim!

Wednesday 14 October 2009

Um Texto Inútil Sobre um Episódio... Triste

Muita tinta está a fazer correr por esse país fora um vídeo que mostra Maitê Proença a (tentar...) fazer humor/ironia(?) com Portugal. A coisa é tão só de uma pobreza confrangedora que nem piada consegue ter. Se eu me sentisse insultado (que não me sinto, pois aquilo nem esse sentimento me consegue provocar) só se fosse pela incapacidade real de fazer humor com o assunto. E o facto de as pessoas (neste caso os portugueses) se sentirem desconfortáveis com a situação, apenas revela igualmente falta de inteligência e algum provincianismo que ainda nos caracteriza. Só me consigo recordar do episódio com um amigo de Madrid que conheci há já vários anos em Münster na Alemanha, ter ficado admirado quando descobriu que o famoso Manuel da série Fawlty Towers, afinal era de Barcelona e não do México como a Televisão Espanhola sempre impingiu. Pobre do povo que não consegue rir de si próprio. Quanto ao episódio que parece estar a provocar tanta celeuma na população, ao ser encaminhado para o respectivo vídeo no Youtube, associado encontrava-se este, da mesma Maitê, que só me deixa o sentimento que a esta mulher eu consigo perdoar tudo, até os episódios mais tristes da sua vida.

Saturday 10 October 2009

O Que Fazer Para Ganhar um Nobel da Paz

Em tempos, mais concretamente em 1968 ou por aí perto, Hans Krebs (o tal do ciclo) deu uma palestra na abertura do departamento de Bioquímica da Universidade Inglesa de Newcastle upon Tyne cujo título era esse mesmo: como se tornar um laureado com o Prémio Nobel? Daí nasceu uma das mais inspiradas peças de reflexão sobre a investigação científica e como o ambiente e a envolvência em equipa assim como a herança dos mestres são fundamentais para se vir a ter sucesso na matéria. Esse texto foi publicado na revista Nature e garanto que quem o lê pela primeira vez fica com a sua vida e forma de olhar a ciência profundamente modificada.

Pois bem, nesse sentido, pus-me a cogitar sobre o problema: o que fazer para ganhar um Nobel da Paz? Como parte do problema já estava tomado pelo Krebs, e não verei forma de alguma vez este texto vir a ser publicado na Nature, lembrei-me precisamente do Nobel da Paz. Acontece que para mim, o prémio encerra uma contradição na sua atribuição. Teria por garantido que tipos que são profundamente pacíficos e pacifistas, que não fazem mal a uma mosca, convivendo alegremente e em harmonia com toda a espécie de humanidade que por aí anda, seriam os candidatos na linha da frente. Mas depois uma pessoa reflecte mais profundamente e chega à conclusão que estes tipos, na realidade, não dão motivos nenhuns sequer para a existência de um prémio destes. Que sentido fará dar um prémio a alguém que luta pela Paz quando toda a gente vive em plena harmonia entre si? Nenhuma dessas pessoas, na realidade, luta pela paz. Elas vivem em paz. Para quê lutar por uma coisa que têm em demasia na sua vida? Não fazendo esforço absolutamente nenhum, têm precisamente o que querem. Não esperem que alguém lute para arranjar comida num banquete que a tem em quantidade suficiente para alimentar 10 vezes o número de convivas que por lá passeiam. Não faz sentido nenhum. Creio que o comité que atribui o Nobel da Paz deve ter chegado à mesma incongruência que qualquer cidadão com dois dedos de testa chegaria. Têm de ver a coisa de outra maneira. Então, se um tipo gosta de lutar pela paz, quer ganhar um Nobel na categoria, mas não tem nenhum motivo para lutar por ela porque já toda a gente vive em paz, o que vai fazer então? Uma hipótese é começar a lançar boatos na opinião pública, sobre as tendências sexuais desviantes do vizinho, ou sobre as burlas torpes do patrão, ou sobre as sacanices baixas do colega. Assim, pode começar a chegar a algum lado. O pessoal de repente já não anda todo com boa cara. Há assim uns tipos que já vão de trombas na rua para saber quem foi o cabrão que disse aquelas nojeiras sobre a sua pessoa lá no bairro. Mas ainda assim, não é suficiente. O que para aí não faltam são desaguisados do género que se desvanecem no meio de uns copos ou de umas palmaditas nas costas. Isto nem sequer é mediático. A coisa tem de ser em grande, para ter impacto. Então, e se um tipo achar que deve pôr na linha a horda de bárbaros que nem sequer fala a sua língua, professa a sua religião, tem recursos naturais que era melhor sermos nós a controlar e que nos deveria prestar vassalagem quando pretendemos impor as nossas visões aos outros? E se essa horda de bárbaros não aceita as nossas condições? Vai daí, lançamos uma espécie de boato exemplar que mete as hordas de bárbaros a lutar entre si, de forma sanguinária, destruindo a estrutura social, as famílias, a cultura e tudo o mais que possa ser devorado pela guerra. Assim sim, o nosso aspirante a premiado (que definitivamente não é, nem nunca pode ser, um bárbaro) já tem uma causa por que lutar: pôr aquela horda de bárbaros a entenderem-se entre si e a convecê-los que assim não vão a lado nenhum. Não só acaba por ter esperança de conseguir os seus intentos, como oferece, de forma desinteressada, ajuda económica a troco de pouca coisa, que no fundo não é mais do que pretendia desde o início. E no fim ainda ganha um prémio: o Nobel da Paz. Isto porque finalmente percebeu, tal como o comité que o promove, que sem haver quem promova a guerra, não faz sentido haver quem lute pela Paz. Como eu gostava de viver num Mundo sem laureados com o Nobel da Paz.

Hoje, dia 10 de Outubro de 2009, é o Dia Mundial contra a Pena de Morte, e os Estados Unidos foram o sexto país com mais execuções de condenados à pena capital no ano transacto, segundo relatórios internacionais. Diria que, para bom entendedor meia palavra basta.

Friday 9 October 2009

Madeirocracia

Na Madeira respira-se a democracia com as fossas nasais bem abertas e pulmão cheio de tal forma que nós os continentais, habituados que estamos a viver asfixiados, até temos dificuldade em respirar quando lá chegamos. A Madeira é uma autêntica corrente de ar democrática, e a única coisa que não é nada democrática é a distribuição de bordoada. Aparentemente, esta é apenas servida a uns quantos eleitos.

Thursday 8 October 2009

Still Vinyl... After All These Years

Pois o vinilo respira boa saúde e recomenda-se, para quem gosta de alimentar espíritos com a calentura delirante do seu som. Assim se realiza mais uma edição do Still Vinyl 2009 no Hotel Park Atlantic Lisboa (antigo Meridien), Rua Castilho, 149 em Lisboa, nos dias 31 Outubro e 1 de Novembro. O horário ao público é no Sábado das 14:30 h às 21:30 h e no Domingo das 14:30 h às 19:30 h. A entrada é gratuita, por isso não custa nada, nem que seja espreitar.

Saturday 3 October 2009

Plágio ou Citação?

O mundo actual está de tal forma conectado e a informação corre com tal rapidez e facilidade que é natural cruzarem-se à nossa frente um manacial de referências cujas origens temos dificuldade em restabelecer. Na música, este facto encontra-se também cada vez mais presente. No entanto, o caso que aqui vou apresentar nem sequer se enraíza directamente neste problema, até porque as bandas se citam com frequência e essa citação constitui uma forma de homenagearem quem acham que lhes dá a inspiração para fazerem o que fazem: música. O que me levou a colocar aqui estas duas canções, “Rest My Chemistry” dos Interpol, por oposição a “Where Is My Mind” dos Pixies, foi o facto de há já quase um mês vir a ouvir a primeira no rádio do meu carro e, como nem sequer acho grande piada aos Interpol e só comecei a dar atenção a partir da linha principal da guitarra, imediatamente pensar que alguém se tinha lembrado de fazer uma cover da canção dos Pixies, abrandando-lhe o ritmo. Claro que segundos depois percebi que não se tratava de nada disso. Na realidade não quero com isto chegar a lado nenhum em particular, até porque não é óbvio se houve aqui a intenção, ou não, de plagiar a linha de guitarra da canção dos Pixies. Mas que elas são assustadoramente parecidas, lá isso são.

Aqui ficam para vossa apreciação: