Thursday 31 December 2009

Boas Entradas Para Todos em 2010...

… e em especial aos que esperam que o ano que está aí mesmo ao virar da esquina lhes traga resposta aos seus anseios.

Wednesday 30 December 2009

Irreal Social

No rescaldo da recente ocupação da sede do BPP no Porto por parte de clientes que possuem as suas contas congeladas, sou confrontado com a seguinte afirmação de um dos ocupantes nos foruns noticiosos: desde o 25 de Abril, e mesmo antes disso, que não se recorda de qualquer carga policial contra pessoas de bem. Ora bem, a minha memória anterior ao 25 de Abril (de 74 para o caso de haver ainda dúvidas) é muito limitada, mas garanto que depois disso vi muitas cargas policiais (muitas mesmo) contra pessoas que admito serem igualmente de bem, desde trabalhadores, simples cidadãos, estudantes e até polícias. Antes da dita cuja data até parece que as havia com uma frequência inusitada contra a classe trabalhadora, mas se calhar era por não serem pessoas de bem.

Ora bem! É sempre um risco muito grande estarmos aqui a opinar sobre assuntos cujos meandros não conhecemos completamente, como é este caso do BPP. Contudo, há uma reflexão que me permito fazer, e essa é a dos efeitos causados por este capitalismo desenfreado e desregulado que atirou alguns gigantes financeiros ao tapete. Os governos, mesmo o americano, são reféns desta gente e em vez de deixarem o mercado actuar, como o fariam com qualquer empresa, dão em injectar ajudas financeiras e outros paliativos para suportar um sistema ansioso por voltar aos mesmos vícios. Eu sei que é chato perder as poupanças, mas direi que o nível de pessoas que colocava o dinheiro no BPP tinha por obrigação saber que há operações financeiras que são como os jogos do casino, ou seja, enquanto a coisa corre bem os dividendos são muito superiores ao que é normal e até moral, mas se corre mal o pé de meia pode mesmo ficar reduzido a um simples calcanhar. Isto se não nos pusermos a pensar de onde se obtém esses dividendos fabulosos, a esmagadora maioria dos quais em paraísos fiscais ao abrigo de qualquer fiscalização, e sem conhecer se a fonte primária é do tráfico de droga, de armas, mulheres, ou qualquer outro método para lavar dinheiro. A redenção para estes pecados é feita através de uma rede interminável de ligações que fazem perder qualquer contacto entre a fonte dos juros fabulosos e os depositantes, permitindo que todos possam ir para a cama descansados com a certeza de que terão um lugar no céu.

Thursday 24 December 2009

Uma Prenda no Sapatinho

Com o aproximar do Natal, "paz e amor" e essas tretas todas, aqui o estabelecimento vem agradecer aos resistentes visitantes pela p(resist/aci)ência (riscar o que não interessa) em vir aqui espreitar o que cá vou deixando. Por isso, deixo-vos mais uma das musiquinhas que me fizeram as delícias do ano que agora finda. Na pessoa de Bill Callahan (aka Smog), eis "Eid Ma Clack Shaw" do seu último trabalho, Sometimes I Wish We Were an Eagle.



Bill Callahan - Eid Ma Clack Shaw

Boas Festas!

Monday 7 December 2009

A Crítica e a Liberdade de Opinião

Isto tem andado muito parado e este texto marinava por aqui há mais de 6 meses, ou algo parecido. É pois com recurso ao fundo de catálogo que venho aqui estrebuchar um pouco o tasco.

João Lopes, co-autor do blogue Sound + Vision, tem sido autor de várias reflexões sobre a alegada falsa democraticidade na internet e da inconsequente liberdade de opinião que ela encerra, revelando-se antes um palco onde impera a degradação de valores (e em algum outro momento histórico se apregoou o contrário face às novas realidades sociais?). Creio que concordaremos que se trata de um tema controverso e seguramente pouco consensual. Mas numa das suas investidas (já há algum tempo, note-se, e rapidamente ficará claro há quanto tempo foi) provocou em mim este desejo de também achar que devo dizer algo sobre o assunto. Nem sei bem porque o faço, até porque o blogue não é lido por mais que meia dúzia de visitantes, a maioria ocasionais, mas é sempre uma forma de veicular uma opinião que pode incendiar outras e nesta perspectiva nunca temos verdadeiramente a certeza onde tal virá a acabar. A base de partida veio de um texto, por sinal pouco simpático, do crítico Luís Miguel Oliveira no suplemento Ípsilon sobre o filme “Slumdog Millionaire” de Danny Boyle, que não só gerou muita polémica com amores e ódios a degladiarem-se na praça pública como potenciou na altura alguns comentários que raiaram o mau gosto e insulto baixo. É certo que a última frase de Luís Miguel Oliveira pedia uma espécie de “amor com amor se paga”, mas a minha perspectiva de discussão é a de respeitar a inteligência do meu interlocutor, admitindo que efectivamente o é. E se, como o autor reclama, tem o direito de ser violento quando quiser então também me parece lógico (porque, claro está, somos apenas humanos) que se arrisca a receber a dose respectiva de respostas violentas. Serve ainda o assunto para recordar que, numa recente entrevista de Francisco José Viegas, se referiu o quanto a polémica se encontra arredada da moderna sociedade ao abrigo do pernicioso epíteto do politicamente correcto. Mas, para que serve este intróito? Foi com base nele que João Lopes, uma vez mais, se questionou sobre a pertinência e utilidade dessa instituição democrática que é a “caixa de comentários” aberta e sem restrições, onde todos podemos fazer de demónios ou simplesmente libertar as nossas raivas mais profundas e básicas por mais politicamente incorrectas e abjectas que elas sejam. Ao abrigo do anonimato de um nickname estas caixas de comentários têm a particularidade de nos revelarem uma franja social que afinal é bem menos comportada e padronizada do que idealizamos (e secretamente desejamos). Se pensarmos que falamos de uma franja social que tem acesso à internet, então concluímos que muito seguramente haverá poucos ou nenhuns representantes de aglomerações urbanas degradadas de onde não nos chocaria tanto virem manifestos de opinião de nível tão básico. Esses têm, pelo menos, a desculpa de serem social e culturalmente excluídos. Não! Certamente estaremos a falar de muitas pessoas sem razões de maior para reclamarem ou se sentirem excluidas pela sociedade (pelo menos não o serão da sociedade da informação). Como diria um antigo interlocutor na internet no passado em resultado de uma agressividade inusitada contra a sua pessoa, de (nick)nome Prometeu, “é apenas humano”. E é disso que se trata, afinal compreender e praticar a democracia e liberdade na internet é aceitar a condição humana que nos rege, cheia de contradições, imperfeições, injustiças e tudo o mais que ela encerra. A democracia, ao contrário do que efectivamente parece julgar a maioria, deve tornar-nos necessariamente mais responsáveis porque a liberdade de expressão permite precisamente a manifestação de correntes de opinião que são pouco ou mesmo nada democráticas para já não dizer insultuosas, mas para as resolver temos instrumentos jurídicos instituídos naquilo a que convencionámos chamar de Estado de Direito. Instituir um autoritarismo que proibe essa multiplicidade de correntes de opinião tout court é à partida uma negação da própria democracia e em nada contribui para debelar o problema, antes o potencia e deixa em todos nós a tal sensação de irresponsabilidade para combater as avalanches de vitupérios anti-democráticos que sobejamente assaltam a internet, pois o próprio sistema se encarrega de os encerrar a sete chaves quando se torna necessário. Alguém faz o trabalho por nós. Será como na educação de um filho, quando é mais fácil dar uma bofetada do que incutir o necessário sentido de responsabilidade pelos erros de conduta. E agora pergunto: não é assim que funcionam as ditaduras? Não é este aumento do sentido de irresponsabilidade individual e social (“quero lá saber disto tudo”, “cada um cuide de si”, “são todos uns vendidos”) que faz também aumentar os crescentes desejos de retorno a um passado quando tudo era mais autoritário e, por isso, mais directo e simples? E já agora, não é na alegada falta de “maturidade democrática” dos portugueses com que o poder central se justifica para tomar certas decisões sem consultar os principais interessados: o povo que governa? Numa coisa, contudo, estaremos de acordo: não deveremos abdicar de pensar. E se hoje há cada vez menos gente com vontade para o fazer, como recorrentemente afirma João Lopes, então é nossa obrigação mostrar o contrário agindo civica e responsavelmente, ou corremos o risco de repisar velhas fórmulas autoritárias, para não dizer fascistas.

Quanto à liberdade de expressão na caixa de comentários, creio que cabe a cada um, administrador do seu blogue, jornal ou outro meio qualquer, decidir sobre a forma como pretende gerir e aceitar esses comentários. Eu por mim volto a socorrer-me das sábias palavras que Prometeu escreveu em tempos no blogue da Radar acerca de um assunto em que fui igualmente envolvido de forma involuntaria e que subscrevo por completo:

Quanto à espécie de "hate mail" que por causa disso apareceu no meu blog, não me parece importante. É um efeito lateral da liberdade de expressão, a que nem chamaria perverso, mas apenas humano. É por isso que tenho por princípio não apagar comentário algum do meu blog, por boçal que possa ser. Em primeiro lugar porque lhe justifica o baptismo de mal frequentado, em segundo porque, e voltamos ao que deu origem a esta pequena confusão, as palavras servem acima de tudo para caracterizar quem as profere.

E é assim mesmo, pois sem outra qualquer referência ou imagem, nós aqui somos exactamente isso: as palavras que escrevemos.