Tuesday 25 January 2011

Os Melhores de 2010 #3

Ora, continuando na senda dos melhores álbuns do ano passado, as honras hoje cabem a Gil Scott-Heron, o poeta e músico americano, especialmente notabilizado pelo tema “The Revolution Will Not Be Televised” de 1970 presenteou-nos com um disco após 16 anos de silêncio. Trata-se de uma obra curta, com diversos textos declamados entre temas cantados, movendo-se por territórios musicais bastante actuais mas que o próprio ajudou a fundar nos idos 70's. I'm New Here é um testemunho pungente de um homem que olha para o que é fruto daquilo que foi e dos que o rodearam. “I'm New Here” é também um tema composto por Bill Callahan que aqui é usado por Gil Scott-Heron de uma forma mais melódica mas musicalmente despojado para dar o mote com um significativo “No matter how far wrong you've gone/You can always tournaround”. Possuidor de uma voz forte e penetrante ao melhor estilo de um blues-man de ar agastado a denunciar a vida conturbada na última década, Gil Scott-Heron consegue ir ao fundo de si mesmo para chegar ao fundo dos que o ouvem. E para que não restem dúvidas, o tema que hoje fica em exposição bem pode servir de lição para as bandas que fizeram do trip-hop a sua matriz mas que parecem ter esquecido, algures pelo caminho, como se faz boa música.

(4/5)





Me and the Devil – Gil Scott-Heron (I'm New Here, 2010)

Monday 24 January 2011

Comentário Oficial às Eleições Presidenciais de Ontem

A gerência espera que o candidato Abstenção não renuncie ao mandato para que foi eleito à primeira volta em favor do 2º candidato mais votado. Estamos em crer que nenhum outro candidato reflecte tão fielmente a nobre atitude do povo português*.

* é assim mesmo, em letra pequenina.

Saturday 22 January 2011

Não Lembra ao C######

Os idiotas que baptizam crianças com nomes como Lyonce Viiktórya deviam levar com uma queixa na Comissão para a Protecção de Menores.

Wednesday 19 January 2011

Ai a Maldonna da Katy!

A sério! Cada vez me custa mais a compreender as razões de João Lopes.

Se alguém belisca a Madonna arrisca-se a levar uma dentada e um sermão sobre a ditadura de alguma coisa. Confesso que já não sei o que é pior, se defender os símbolos religiosos ou os ídolos endeusados. Mas tal como com a prédica da Katy, não só não se pode obrigar os mais jovens a evitarem o ridículo, como o mesmo se aplica aos menos jovens. Aparte este detalhe, cada um é livre de dizer o que lhe der na real gana, mas se quer tornar públicos os seus pensamentos poupe-se ao menos os outros com as tristes figuras que se fazem.

Sunday 16 January 2011

Mais Balanços de 2010


Numa perspectiva de dar a conhecer os gostos pessoais e assim contribuir, como outros contribuem para comigo, para despertar a curiosidade do que ainda não se provou.

Cinema:

O ano de 2010 não foi particularmente memorável. Houve um punhado de filmes que me despertaram suficientemente o interesse. Outros houve que perdi e espero recuperar mais tarde, como por exemplo, “O Segredo dos Seus Olhos”. O veredicto:


1. A Single Man – Tom Ford
2. O Escritor Fantasma – Roman Polanski
3. Shutter Island – Martin Scorcese
4. A Estrada – John Hillcoat
5. A Rede Social – David Fincher
6. Nas Nuvens – Jason Reitman
7. A Origem/The Inception – Christopher Nolan
8. Tamara Drewe – Stephen Frears
9. Tudo Pode Dar Certo – Woody Allen

Para esquecer:
Alice no País das Maravilhas – Tim Burton

Concertos:

Muito mais abonado que em anos anteriores, alguns foram objecto de comentário aqui na chafarica:


1. Grizzly Bear @ Coliseu dos Recreios
2. Sonic Youth @ Coliseu dos Recreos
3. Tindersticks @ Coliseu dos Recreios
4. Faust @ Teatro Maria Matos
5. The Walkmen @ Coliseu dos Recreios

O Coliseu levou claramente a melhor, o que é mau porque as condições sonoras são frequentemente sofríveis. De entre os que actuaram nas primeiras partes:


1. Danças Ocultas (1ª parte Tindersticks)
2. Cibelle (1ª parte Grizzly Bear)
3. Os Golpes (1ª parte The Walkmen)
4. Gala Drop (1ª parte Sonic Youth)

Finalmente, não vou muito em novidades literárias porque tenho dificuldade em distinguir o trigo do joio do mar que se publica. Refiro apenas um monumento que li no ano de 2010 e que me deixou de rastos:


As Benevolentes” de Jonathan Littell

Até breve!

Friday 14 January 2011

Os Melhores de 2010 #2

Segundo capítulo da saga “o ano passado em formato musical”, desta vez com as honras a caberem a Micah P. Hinson. O americano tranquilo deixa-nos com um disco que consegue superar o nível do que nos tem habituado, com aquela country/folk por vezes meio freak, por vezes sofisticada, por vezes experimental, por vezes simplemente normal. No seu quinto registo de longa duração, agora sob o título “... and the Pioneer Saboteurs” como se em cada nova gravação nos dissesse que se faz acompanhar por uma orquestra de improváveis cúmplices, alarga o espírito da sua cruzada, não se fazendo rogado a exercícios de distorção ao nível do melhor que há no mercado, servindo-nos um disco fresco e amplo nos espaços estéticos que percorre. Por muito estranho que seja enquanto objecto country/folk, o certo é que algumas vocalizações entrecortadas com cordas ao ritmo das tribos indígenas das planícies norte americanas localizam claramente a geografia por onde se move. Some-se a isto tudo um sentido melódico, a espaços contemplativo e ritmado, e estamos perante dos projectos musicais mais singulares e originais que se tem vindo a mostrar nos últimos anos. Fiquemos então com um dos momentos altos, “The Cross That Stole This Heart Away”, onde alguns germes de distorção abraçam elegantemente uma estrutura melódica simples, mas suficientemente penetrante a ponto de nos dar um nó na garganta.

(4,5/5)





The Cross That Stole This Heart Away – Micah P. Hinson (...and the Pioneer Saboteurs, 2010)

Para ouvir, só mesmo no blogue...

Thursday 13 January 2011

Os Melhores de 2010 #1

Pois bem, segue uma série de publicações sobre os discos que melhor me ficaram na memória no ano que findou. A primeira série de 5, são também os meus preferidos pela mesma ordem. Os restantes virão ao sabor dos sons.

Começamos por essa obra fantástica que é o disco de John Grant, “Queen of Denmark”. O ex-vocalista dos The Czars regressa das cinzas com um disco assumidamente pessoal e possuidor de um punhado de canções elegantes e belas, incisivas e penetrantes que não nos deixa indiferentes á primeira audição e a todas as que se seguem. Para este disco, John Grant contou com a colaboração dos Midlake, que imprimem à música um estilo assumidamente vintage seventies.


Para audição fica uma das pequenas pérolas deste disco, “I Wanna to go to Marz”, que nos leva a percorrer todos os sabores de uma montra de gelados em que o doce da letra contrasta assumidamente com a melancolia angustiante da música, a puxar para uma nostalgia feliz, mas perdida.

(4,5/5)



I Wanna Go To Marz - John Grant (Queen of Denmark, 2010)

Monday 3 January 2011

Quattro


Pode ser que seja da crise, mas a verdade é que este blogue está em crise. Não é financeira, mas de ideias e tempo para o manter. Ainda assim, algo me anima a vir cá lembrar a efeméride, que foi exactamente há 4 anos que tive a triste ideia de me armar aos cucos. A ideia de manter um espaço que me deu alegrias e algum prazer passou a ser um fardo a competir com as cada vez mais solicitações de cariz profissional. O abandono da blogosfera tem sido gradual para muita gente, com novos atractivos a captar a atenção de todos nós, como o Facebook. Em vez de perdermos tempo a escrever longos textos, as novas catedrais virtuais deixam-nos pouco mais que um punhado de caracteres para dizer o que nos vais na alma. Portanto, sinto que isto é um pouco como a crise do comércio tradicional face aos centros comerciais, a troca da ementa regional pelo fast-food.

Bom, mas se ainda cá vim é porque ainda vou partilhar algumas impressões com quem por aqui ainda vai passando. Coisas curtas essencialmente.

Tenham um bom 2011.