Tuesday 22 November 2011

It's The End of the World as We Know It (and I Feel Fine)

Lembrando um texto recente da chafarica, notícias fresquinhas apontam cada vez com mais segurança que o Higgs possa ser uma simples miragem. De momento resta a gama de 114-141 GeV para o encontrar (a gama entre 141 e 476 GeV já foi esquadrinhada). Lá para Dezembro já haverá notícias da análise dos resultados entratanto acumulados.

Quanto aos neutrinos superluminais, o grupo responsável pela experiência não só rebateu as objecções colocadas até ao momento por vários físicos bem como outro grupo pertencente aos laboratórios envolvidos repetiram a experiência e obtiveram mais um conjunto de 20 eventos (o que não é muito), com a diferença que os pulsos de protões usados para gerar os neutrinos diminuiram para uns insignificantes 3 nanosegundos (em vez dos 10,5 microsegundos da experiência inicial) por forma a reduzir a incerteza no intervalos de tempo medidos, eliminando as dúvidas na correspondência do evento gerador associado ao neutrino detectado. Ainda assim, o grupo reproduziu a diferença de 60 nanosegundos relativa à velocidade das partículas de luz. Se bem que neste caso o cepticismo continue, não se prevê que o assunto fique resolvido, como no caso do Higgs, até Dezembro, mas antes somente daqui a uns dois ou três anos.

Finalmente, muitos físicos e filósofos da ciência vêm debatendo desde o princípio do século XX o significado a famosa função de onda (é uma realidade física? É uma probabilidade?). M. F. Pusey, J. Barrett, e T. Rudolph publicaram um artigo (The quantum state cannot be interpreted statistically) com um teorema que relança não só a questão, como parece indicar que o dita função de onda das partículas elementares tem mesmo um significado físico real. Pese embora o seu carácter abstracto e teórico, as implicações do resultado são muito profundas por voltarem a reequacionar a interpretação da realidade quântica, para todos os efeitos, uma realidade sem correspondência com absolutamente nada que vivenciamos no dia a dia.

Agradece-se aos R.E.M. o empréstimo do título.

Monday 21 November 2011

Reflexões III

As notícias dão-nos conta que no Egipto já há, pelo menos, mais de três dezenas de mortos em confrontos com a autoridade. No fundo, isto é como com as estações do ano. Primeiro veio a Primavera e com ela a esperança. Depois veio o Verão e a confiança. No entanto, a inevitabilidade do tempo diz-nos que a seguir vem sempre o Outono e que nenhuma esperança retorna sem passar pelo Inverno.

Friday 11 November 2011

Reflexões II

Alguém que explique ao Otelo Saraiva de Carvalho que os governos agora não se derrubam com armas mas sim com taxas de juro.

Thursday 10 November 2011

Reflexões I

Um Primeiro Ministro com o nome de Papademos, só pode ser uma excelente escolha para enfrentar os males da Grécia.

Sunday 6 November 2011

Max Richter @ Teatro Maria Matos (5 de Novembro de 2011)


De volta à escrita, e depois do concerto de Bonnie "Prince" Billy neste mesmo palco (crítica aqui), foi a vez de dar lugar à música melancólica de Max Richter. Com o objectivo de apresentar o seu último trabalho, Infra (2010), o concerto acabou por ser dividido em duas partes. Na primeira parte, a tela ao fundo do palco dá lugar a uma animação minimalista de personagens femininas e masculinas que se passeiam incessantemente de um lado para o outro, ao passo que Max Richter introduz as componentes electro-acústicas com um pequeno portátil e que sustentam as peças musicais que se desenvolvem ao piano e com uma pequena orquestra de câmara (dois violinos, uma viola e dois violoncelos). No seu elenco aparecem John Metcalfe (viola), nem mais nem menos que um ex-membro dos Durutti Column de Vini Reilly e recentemente responsável pelos arranjos dos últimos discos de Peter Gabriel, e que com Louisa Fuller (1º violino) forma o The Duke Quartet. Os temas de Infra vão-se desfiando ao sabor de uma peça orquestral dividida por movimentos, e que só terminam com o final da primeira parte do concerto. A música do disco, desconhecida para mim até aquele momento, vem na continuidade do seu trabalho anterior, em que os elementos electro-acústicos introdutórios dão o mote para um ambiente carregado de negrume e uma opressão claustrofóbica sublinhada pelas bátegas de água da chuva sendo depois melancolicamente sobrespostos pela música do piano (minimalista e afim dos tons melódicos dos compositores clássicos de princípio do século XX) mas acima de tudo comandados pelo quinteto de cordas, cujas referências se situam claramente na esfera de um Michael Nyman mas de raíz assumidamente mais classissista. Finda a apresentação, seguem-se 20 minutos de intervalo para dar lugar à segunda parte, onde Richter revisita parte da sua obra anterior. E que melhor maneira de começar senão por esse excelso disco que é The Blue Notebooks (2004), obra onde as palavras de Kafka são veiculadas pela voz da actriz Tilda Swindon, com o tema “On the Nature of Daylight”. Assim, a segunda parte torna-se mais descontraída e mais motivadora de empatia com o público que enchia a sala (para surpresa minha e dos meus companheiros destes concertos no Maria Matos), certo de que a música de Richter que acompanhou filmes como Shutter Island de Scorcese ou, em particular, Valsa com Bashir de Ari Folman onde assinou a banda sonora, tenha motivado esta adesão. Os temas vão-se seguindo e o concerto termina com o maravilhoso “The Trees”, infelizmente manchado por problemas de som onde o irritante feedback inicial nem sequer foi o pior momento. O crescendo final que estava reservado para o concerto por vezes foi penoso de ouvir. Quanto aos músicos estiveram em forma, passe o pormenor de em duas ou três ocasiões a harmonia de conjunto ter momentaneamente falhado, mas rapidamente corrigida que nem terá dado tempo para a esmagadora maioria dos presentes perceber. 3,5/5

Friday 7 October 2011

A Ciência da Arte

«Notação é uma arte, não uma ciência», admite Standard&Poor's

Ou seja, nós não estamos cientificamente falidos, mas sim artisticamente fodidos.

Thursday 6 October 2011

Os Cristais Que Não o São


Este ano os Prémios Nobel estão a chamar-me um pouco mais a atenção, neste caso porque o da Química premeia alguém que se move por uma ciência que me é particularmente cara: a Cristalografia. Assim, o israelita Dan Shechtman, que em 1984 trabalhava no NIST (National Institute of Standards and Technology, na altura conhecido como National Bureau of Standards), recebeu o Prémio Nobel da Química de 2011 por ter descoberto os quasi-cristais. O significado da descoberta advém do facto de se julgar que apenas as substâncias cristalinas (toda a substância sólida que apresenta periodicidade translacional nas três direcções do espaço) produziam padrões de difracção de raios-X e de abrir ao conhecimento uma multiplicidade de formas como os átomos de uma estrutura sólida podem ser arrumados. O facto de os cristais terem periodicidade (ou se quisermos, simetria) translacional, implica necessariamente (e é facilmente demonstrado matematicamente) que admite apenas um número limitado de simetrias de rotação, a bem dizer, 5. Estas simetrias designam-se por 1, 2, 3, 4 e 6 e representam o número de vezes em que podemos dividir a rotação completa de uma circunferência, ou seja, 360º. O estranho de tudo isto foi quando Dan Shechtman obteve um padrão de simetria rotacional 10 e por vezes 5, ou seja, em forte contradição com as restrições impostas pela simetria translacional. Como não se acreditava que outras substâncias, que não as cristalinas, podiam apresentar estes padrões, a reacção inicial foi de rejeitar o resultado. A persistência do laureado e de outros seus colaboradores, permitiu-lhes ir em frente e publicar os resutados na Physical Reiew Letters em 1984 abrindo assim caminho a um conjunto de outras estruturas cuja característica principal é sererem simétricas, mas aperiódicas, que o mesmo é dizer, sem simetria translacional. A estas novas estruturas deu-se o nome de quasi-cristais.

Os padrões aperiódicos não eram contudo novos e haviam já sido gerados e descobertos por matemáticos. Os mais famosos dos quais são devidos ao matemático inglês Roger Penrose, e são conhecidos como Padrões de Penrose (Penrose tillings). Estabelecer a ponte entre estes padrões e as novas estruturas descobertas foi bastante rápido. De salientar finalmente que os quasi-cristais estudados são normalmente ligas metálicas e são todos sintéticos. Contudo, e por mero acaso, neste ano de 2011, foi publicada a descoberta do primeiro quasi-cristal natural, na revista American Mineralogist, com o sugestivo nome de icosaedrite (devido à simetria 5 do icosaedro) e com a composição Al63Cu24Fe13.

Para terminar, uma nota para referir que ao contrário do título da notícia do Público, os manuais de cristalografia não estavam errados, nem nunca estiveram, como se depreende do que aqui escrevi.

Wednesday 5 October 2011

E o Nobel da Física vai para...

…a expansão acelerada do Universo. Os premiados são os físicos Saul Perlmutter do Lawrence Berkley National Laboratory e University of California at Berkley, Brian P. Schmidt da Australian National University e Adam G. Riess da John Hopkins University. E o tema é também muito especial a este blogue, dado que no seu espírito inscreve-se a divulgação científica, e este tema agora laureado com o Nobel da Física, foi objecto de um dos primeiros textos sobre ciência [1 e 2] que aqui foram publicados. A história empolgante que envolveu esta descoberta extraordinária, e que levou a revista Science a elegê-la em 1999 como a descoberta científica do ano, vem muitíssimo bem descrita no livro The Extravagant Universe, também ele uma das primeiras “críticas literárias” aqui do tasco.


Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess

Monday 3 October 2011

Música Para Embalar

Sleepingdog é o nome sob o qual a neerlandesa Chantal Acda grava desde 2006 e conta já com 3 álbuns no currículo, sempre em parceria com Adam Wiltzie dos Stars of the Lid e Dead Texan, pugnando por uma melancolia ambiental poderosa e sofisticada onde a voz de Chantal percorre sons afins de uma folk pastoral. Já deste ano e com o título “With Our Heads in the Clouds and Our Hearts in the Fields”, fica a amostra da primeira faixa “Untitled Ballad of You and Me”.



Untitled Ballad of You and Me – Sleepingdog ( With Our Heads in the Clouds and Our Hearts in the Fields, 2011)

Thursday 29 September 2011

Tragédia Grega: Epílogo



Epifania da Tragédia.

Wednesday 28 September 2011

Tuesday 27 September 2011

Tragédia Grega: Acto III


Símbolo a usar pelos nacionais dos Estados endividados da UE sempre que se desloquem à rua.

Monday 26 September 2011

Tragédia Grega: Acto II



© Tom Trouw

Saturday 24 September 2011

Tragédia Grega


Do FMI ao FIM: Fodidos por Insolvência Monetária.

Friday 23 September 2011

Sciencequake


De tempos a tempos há descobertas científicas que têm um impacto extraordinário na sociedade. Desde ontem que uma notícia percorre os meios de comunicação dando conta que cientistas italianos, em conjunto com o CERN, estiveram 3 anos a medir neutrinos emitidos no CERN em Genebra (partículas de massa quase quase nula, e que podem atravessar o interior do planeta de um lado ao outro sem qualquer problema, já que interagem muito pouco com a matéria normal), e chegaram à conclusão que fizeram a distância que separa o emissor de neutrinos do detector (situado no laboratório de Gran Sasso em Abruzzo, na Itália), em menos 60 nanosegundos (com um erro de 10 ns) do que deveriam se se deslocassem à velocidade da luz. Isso significa que o postulado base da Teoria da Relatividade Restrita de Einstein, de que nada se desloca a uma velocidade superior à de uma partícula de luz, que se designa por fotão, está incompleto. Em primeiro lugar, este resultado não invalida a teoria de Einstein, eventualmente torna-la-á menos completa e generalizável do que se julga. Em segundo lugar, este resultado é por demais surpreendente, de tal maneira que mesmo os cientistas que efectuaram a experiência são, porventura, dos mais cépticos. Mas o impacto de uma descoberta deste calibre é de tal maneira grande, ou não fossem as teorias de Einstein um dos pilares base do edifício científico humano, que conforme é comum nestes meios dizer-se: “extraordinary claims require extraordinary evidence”. E assim o mais certo é ficarmos uns anos em banho-maria à espera de uma replicação da experiência para verificar, efectivamente, se os resultados se confirmam ou não. É assim que isto funciona. A outra descoberta do momento, ou melhor, a falta dela, é que no LHC (Large Hadron Collider) já foram esquadrinhados os níveis de energia entre 145 e 466 GeV (Giga electrão-volt) e nem sinal do bosão de Higgs. Ou seja, procurou-se basicamente onde o dito bosão poderia estar e... nem vê-lo! Mas neste caso, tal como no da notícia de ontem, é preciso tempo para reconfirmar os dados. No caso do Higgs, actualmente a banda de confiança de que o bosão não estará lá é de 95%, o que significa que ainda há uma probabilidade de 5% de ter escapado aos cientistas. Mas à medida que os dados acumulam, essa banda vai diminuindo até um ponto que só quase por crença é que ainda se acredita que possa existir. Qualquer destes casos trarão implicações extraordinárias para as duas principais teorias da actualidade: a Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica. Se se confirmarem os resultados, um mundo excitante de novos modelos e ideias irá mais uma vez mudar um pouco mais a nossa concepção do Mundo.

Thursday 22 September 2011

Bons Princípios


Escapada cinéfila, com mais de duas semanas de atraso, serve a presente nota para falar de um singelo e simpático filme que dá pelo infeliz nome de “Assim é o Amor” mercê da criatividade dos distribuidores que assim se lembraram de baptizar este “Beginners” de Mike Mills. E é de principiantes que o filme trata, principiantes no desenrolar de uma nova vida, no sentido do recomeço. O filme deambula por um presente que vai buscar justificações a um passado distante e a um bem mais recente. Oliver (Ewan McGregor) vai desfiando os últimos 4 anos da sua vida a partir do dia em que o seu septuagenário pai (Christopher Plummer) se assume como gay depois do falecimento da sua mãe. A partir desse dia, o puzzle com muitas das memórias de infância passa a encaixar coerentemente. Mas é através da relação com o pai, à medida que também vai desfolhando a sua relação do presente com Anna (Málanie Laurent), que Oliver parece encaminhar-se para uma vida emocional mais estável e duradoura. Mas como em tudo o que implica trilhar novos caminhos, nada é simples nem fácil, e é através da lenta compreensão, ou mesmo apreciação, da atitude do pai perante a vida e que culmina com a sua luta com o cancro, que Oliver tem a coragem de dar o passo que, até aí, se vira incapacitado. Excelente trabalho de actores e uma montagem competentíssima, sem nunca deixar o espectador perdido, com pequenos blocos de marcos da cultura popular que enquadram momentos chave da vida dos personagens. É bom ver filmes assim.

(4/5)

Monday 19 September 2011

País Irreal

Nesta última semana, as notícias absurdas sucederam-se a um ritmo alucinante. A bem dizer, a culpa não está nas notícias, mas naquilo que configuram sobre um Governo que parece estar a cair num estado de desespero e desorientação inauditos. Se se mantivessem os prémios do Restaurante instaurados nos primórdios deste estabelecimento, creio que seria difícil apresentar um vencedor. Vamos então por partes.

Descobre-se na Madeira que existe um buraco orçamental de mais de 1.100 milhões de euros, ao que o palhaço de serviço do costume já veio contra-argumantar que o fez “em legítima defesa dos ataques do governo socialista”, que “não está minimamente preocupado com a situação”, que a “obra continuará a ser feita”, que “não haverão cortes salariais na região”, e tudo o mais que o mais criativo dos políticos possa imaginar. Se Passos Coelho já tinha levado um murro no estômago com as agências de rating, agora parece ter levado uma bordoada na face e um potapé nos colhões que até se torce de dores no chão. O Ministro das Finanças, o testa de ferro do Governo, subitamente calou-se. E o país continua a ver passar o cortejo carnavalesco com o folião Jardim à cabeça, a bater palmas e a rir-se. Entretanto já vieram notícias a público que, quer Cavaco Silva, quer a PGR, sabiam da situação. Vai-se a ver e os dividendos da venda de acções do BPN por parte do PR foram investidos na zona franca da Madeira.

O Governo cometeu a inacreditável proeza de incluir na lista de organismos a extinguir o Centro Internacional de Luta contra a Poluição no Atlântico Nordeste (CILPAN), coisa que não tem poderes nem competência para o fazer porque o dito organismo foi criado ao abrigo de um tratado internacional entre a Comissão Europeia, a Espanha, a França, Marrocos e Portugal. Não fosse tudo isto triste e de um embaraço monumental para a aventesma (para não dizer profundamente incompetente e estúpido) que teve a brilhante ideia, e até dava vontade de rir.

Afinal o projecto do TGV vai em frente... mas em via única. Aqui deixo apenas o comentário de um leitor do Público que afirmava que estava profundamente convencido que se tratava de um título do Inimigo Público. Acho que não é preciso dizer rigorosamente mais nada.

Para terminar, desejo apenas que em breve, quer madeirenses quer continentais, saibam onde fica a Praça Tahrir.

Monday 12 September 2011

Six Organs of Admittance @ Teatro Maria Matos (10 Setembro de 2011)


De volta às impressões sobre concertos, e agora que se aproximam uma mão cheia de acepipes neste mesmo Teatro Maria Matos (excelente programação, nunca será demais reforçar), desta vez coube ao guitarrista Ben Chasny na versão Six Organs of Admittance a abertura das hostilidades para a rentrée. Guitarrista de créditos firmados deambulando pelas franjas folk do presente século, embora intervaladas por ambientes mais eléctricos, foi a primeira versão que trouxe ao palco do Maria Matos. Sozinho em palco, com uma guitarra que ia dedilhando com destreza assinalável, só lá para o quarto tema é que as notas saiam sem atropelos nas partes mais exigentes das composições. E as composições iam-se sucedendo entre pequenos instrumentais e simples canções numa voz de segundo plano que reforça os traços mais intimistas e sombrios das melodias. Estas por seu lado, tendem para a divagação e raramente se repetem, a não ser nos pequenos detalhes, o que a páginas tantas até dá espaço para mandar umas piadas à custa de estilos musicais. A tempos Ben Chasny vai referindo o nome de alguns temas, como “Elk River” ou “Drinking with Jack” e nós imaginamos o pôr do sol e a melancolia de uma paisagem florestada vista de um alpendre de madeira, garrafa na mão e dois dedos de conversa com risos pelo meio. Este bem podia ser um dos vários efeitos visuais que a sequência de notas que saem da guitarra de Chasny nos sugerem. Um agradável concerto, intimista, bem apreciado e recebido por uma sala cheia, a dar o prazer de uma hora bem passada. (4/5)

Tuesday 6 September 2011

Face-te Fude

Aquilo que poderia ter-se transformado numa forma inteligente de espetar uma farpa no governo, se dito de forma jocosa, vai ficar no anuário como mais uma atoarda da silly season, tal a seriedade com que o Bastonário da Ordem dos Médicos propôs taxar a dita “comida rápida”. Há certos pensamentos que, quando demasiadamente digeridos, dão na mesma substância que o cartoonista brasileiro Laerte ilustra tão bem nesta tira a propósito do mesmo assunto:


(C) Laerte

Sunday 7 August 2011

Paragem...



Visitantes ocasionais e perdidos na blogosfera, a chafarica vai para férias... Boas férias também.

Saturday 9 July 2011

A Morte Improvisada


Morreu hoje Jorge Lima Barreto, contava 61 anos. Figura incontornável da música experimental e improvisada em Portugal, ajudou a moldar uma certa franja musical portuguesa que se movia na fronteira entre o pop/rock e a música erudita. O seu prmeiro projecto, a Anar Band, é partilhado com Rui Reininho e tem um único registo discográfico em 1976/77. Mas viria a ser mais tarde, em 1982 com a edição de “Ctu Telectu” (a reedição foi aqui mencionada na altura), primeiro registo dos Telectu agora com o ex-GNR Vítor Rua, que o nome de Jorge Lima Barreto viria a ter maior proeminência, pese embora o cariz ultra-minoritário dos que acompanharam o percurso da banda. A presença nos palcos do CAM da Gulbenkian marca o local onde vi os Telectu pela primeira vez, até uma sessão ao ar livre e um simples piano para improvisar, na Expo, para não mais o reencontrar. A obra é relativamente vasta se considerarmos o público a que se dirigia, e as colaborações diversas, em especial na esfera da improvisação, tais como Carlos Zíngaro e vários músicos estrangeiros. Para além da vertente de compositor e músico, Jorge Lima Barreto também se preocupou com questões de musicologia e de música moderna com vários livros publicados, de onde se destaca, pela maior visibilidade relativa, “Musica Minimal Repetitiva” e “Rock & Droga”. Sem dúvida que a cultura portuguesa perdeu uma pedra importante, mal-grado a polémica que gerava no seio do meio artístico, e em especial em Portugal, onde este é demasiadamente pequeno.

Friday 8 July 2011

A Única Notícia Que Haverá Aqui Sobre os Festivais

Lá para os lados de Algés descobriu-se que para ir até Marte são precisos bem mais do que 30 segundos.

Wednesday 6 July 2011

Portulixo

Ontem uma agência de rating colocou o país... ou melhor, a sua dívida, ao nível do lixo. Mas o mais curioso é verificar a prole de alguns economistas e gestores virem agora a terreiro a classificar esta decisão de, nada mais nada menos, terrorista. Sim, esses mesmos, que agora finalmente vêm consagrado no governo do país a possibilidade de uma política liberal, a tal que representa a salvação para os nossos problemas, a tal cuja negação por anteriores governos representava um forte condicionamento às classifcações dadas pelas mesmas agências, as quais foram sempre justificadas por razões superiores de mercado. Esta mesma gente, ontem como hoje, não percebe que no lixo já estamos nós todos, que para o poder do capitalismo mundial, os povos não são mais que lixo, os trabalhadores não são mais que uma simples peça numa engrenagem que visa o lucro e a ganância das especuladores. Estamos num patamar em que por mais roupa que tiremos do nosso corpo, teremos sempre roupa a mais em cima. E isso inclui a nossa pele.

Saturday 28 May 2011

A Revolução do Gil

Raras vezes faço ecos de óbitos, mas Gil Scott-Heron foi um dos nomes fundamentais da música negra americana, nome influente no desenvolvimento dos estilos musicais hoje conhecidos como rap e hip-hop. Possuidor de uma voz de barítono vinda das profundezas da alma, Scott-Heron havia editado um disco o ano passsado, por sinal enaltecido aqui como um dos melhores que saíram durante o ano, após mais de uma dezena de anos de silêncio. Como gesto de homenagem ao homem que foi e ao legado que nos deixa, fica aquele que será, porventura, o seu tema mais celebrado, “The revolution will not be televised”.



The revolution will not be televised - Gil Scott-Heron (Small Talk at 125th and Lenox, 1970)

Sunday 15 May 2011

FMI, ou...

Fode-Me Intensamente.

Friday 6 May 2011

Chico Experts

Agora que vamos tendo uma ideia da forma como nos vão apertar os calos nos próximos anos, têm-se desmultiplicado em debates e comentários vários “especialistas” de economia que não se cansam de lançar para o ar meia dúzia de opiniões avulsas e gratuitas sobre a sua maneira peculiar de poupar dinheiro ao Estado. Numa das que ouvi, por alguém de quem se diz ter nome na praça, o seu discurso pegava em meia dúzia de indicadores, tais como os rácios docentes/alunos em Portugal, para vaticinar logo com uma ligeireza descomunal a forma como cortar despesa na Educação. Pois bem, eu nem sequer quero estar com veleidades equivalentes, até porque tenho de me remeter à minha humilde posição de pessoa vulgar e comum, sem a mesma visão presciente de sumidades deste calbre, para contra-argumentar sobre o que se passa na Educação, matéria que em grande parte desconheço mas que também reconheço ter os seus problemas. Mas não resisto a fazer um exercício semelhante: Como na Assembleia da República, dos 230 deputados do hemiciclo eu ouço intervir, em média, apenas uma dúzia deles, parece-me óbvio onde cortar nos gastos desmesurados da instituição, logo a começar no número de deputados seguido do pessoal de apoio para aquela gente toda.

Se os nossos “especialistas” não conseguem construir opiniões melhores do que aquelas que se ouvem da boca do homem da rua, melhor será as televisões deixarem de pagar aos comentadores e convidados de estúdio e façam mas é directos com abordagens aos transeuntes ocasionais. Não só a informação não piora, como ficaremos a saber qual o verdadeiro sentir do povo.

Friday 29 April 2011

Pacote de Ajuda Externa

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras confirmou a recepção de um pedido de naturalização por parte do Super-Homem.

Thursday 28 April 2011

A Quimera do Som

Amanhã será a vez de Tim Hecker se apresentar ao público na Galeria Zé dos Bois. Música que é, em grande parte, alma gémea da de Ben Frost, Hecker apresentará seguramente os temas que constituem o seu última longa-duração, Ravedeath, 1972, editado já este ano, gravado na fria Reykjavik com ajuda à produção do mesmo Ben Frost. Como amostra fica um dos temas do seu álbum de 2006, Harmony in Ultraviolet.



Chimera – Tim Hecker (Harmony in Ultraviolet, 2006)

Wednesday 27 April 2011

Soul Mates

Ainda no rescaldo do último concerto, fica aqui a evidência do pontos de contacto que eram óbvios entre os concertos deste mês.



We Love You Michael Gira - Ben Frost (Theory of Machines, 2007)

Ou então, a desolação dos Cárpatos ao som dos lobos.



The Carpathians – Ben Frost (By the Throat, 2009)

Tuesday 26 April 2011

Ben Frost @ Teatro Maria Matos (25 de Abril de 2011)

Para terminar o dia da liberdade, pelas bandas do Maria Matos libertaram-se os demónios sonoros de Ben Frost, um músico australiano que mora para os lados da Islândia, como que a fazer jus à frieza da sua música e do seu apelido. Depois de editar “By the Throat” em 2009, obra que veio apresentar em Lisboa, não faltaram elogios à obra, mormente da parte de Tim Hecker, cuja música partilha muitos pontos em comum.


Num Maria Matos com mais de meia casa e pouco depois das 22 h, o singelo Ben Frost assoma ao palco, descalço, acompanhado pelo contrabaixista Borgar Magnason, e sentado ao piano lança um lacónico “Sorry we're late” começando uma troca de notas musicais com o contrabaixo arranhado por um arco produzindo sons minimalistas naquele que seria o único momento integralmente acústico do concerto. A partir daí Frost aproxima-se do portátil Macintosh e da bateria de amplificadores para, ao correr do momento, ir construindo uma sequência de paineis sonoros que deambulam entre um minimalismo noise, a mistura de ruído digital, loops do som do contrabaixo (sempre tocado com arco), passando a espaços pela guitarra (usada parcimoniosamente e sujeita aos mesmos tratamentos) e pelo piano. Os momentos variam entre o discreto olhar de uma paisagem idilicamente transformada em ambiente dark, até à produção sonora intensa com níveis de volume de fazer inveja às bandas de metal. As paisagens, como By The Throat já o indiciava, são frias e inóspitas com o contabaixo a soltar os uivos lancinates de uma alcateia no penúltimo tema da noite. A sequência de temas não deixa espaço a respirações, e o público apenas num momento apanha uma aberta para lançar umas palmas que são basicamente ignoradas por representarem uma distração ao que se estava a passar em palco. Tal como numa obra orquestral dividida em vários movimentos, as manifestações de agrado e aprovação foram por isso deixadas para o fim. No ar fica uma sensação de estranheza afim de performances deste género, uma vez que o objectivo não é produzir melodias mas sim causar sensações e cada um de nós imaginar as paisagens que os sons sugerem, onde mesmo o simples olhar para o palco e para os músicos pode constituir em si uma distracção. Em qualquer dos casos, as paisagens nunca serão agradáveis nem quentes, antes pelo contrário. São momentos de intensidade que cada espectador vive de maneira diferente e não deixa lugar a escolhas dúbias. Ou se gosta, ou não se gosta. Ao contrário também do já mencionado Tim Hecker, a música de Ben Frost é bem mais crua e despojada de tonalidades melódicas. O resultado porém, mereceu inteiramente a deslocação e o pouco mais de uma hora de actuação.

(4/5)

Monday 11 April 2011

AMI, ou Assim se Mostra a Independência

O que dizer das notícias que vieram a público dando Fernando Nobre como cabeça de lista por Lisboa pelo PSD e candidato do mesmo partido a Presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado?

Nunca em todos os actos eleitorias em que participei tive dúvidas em quem votava. As coisas sempre estiveram, para mim, claras como água. A excepção deu-se nas últimas Presidenciais onde me senti perdido sem saber em quem votar, não me revendo minimamente em nenhum dos candidatos a Presidente da República Portuguesa. Estando ainda recenseado na freguesia onde vivem os meus pais, desloco-me religiosamente em todos os actos eleitorais para exercer o meu direito. Naquele dia, não foi diferente. O que foi diferente foi a constante dúvida que me assaltava a cabeça sobre onde iria eu colocar a cruz do meu voto. O princípio de deixar o boletim em branco nunca me agradou e nunca o havia feito, por isso, não era agora que o iria fazer. Apenas dois nomes tinham algumas hipóteses de receberem a minha aprovação, embora contrariada em ambos os casos. A dúvida persistiu até à mesa de voto e no instante em que tinha a caneta na mão e o boletim à minha frente, a decisão foi tomada tal como uma bola que está no topo de uma colina e, por circunstâncias meramente locais, acaba por deslizar por um dos flancos. A cruz recaíu em Fernando Nobre. Não sei se o acto foi consciente ou inconsciente, embora seguramente tenha havido uma nesga de consciência no mesmo. Afinal, descontando as trapalhadas que saíram da boca de Fernando Nobre durante a campanha eleitoral, e não foram poucas, acreditei, ainda que por um breve momento que fosse, que Fernando Nobre era o rosto da independência e a personificação daquilo a que se aproximava mais da dita sociedade civil. Um rosto tosco e algo trapalhão, mas ainda assim um rosto. Observei essa inépcia como uma forma genuina de alguém que, embora não talhado para o combate político, o fazia por um dever de cidadania e de esforço, tal como se empenha nas campanhas de terreno da AMI, ainda que com resultados bem diferentes. Creio que inconscientemente, foi essa crença que me decidiu de forma quase mecânica, a colocar a cruz onde ela acabou por ser colocada. Hoje essa crença esfumou-se, tal como se esfumou da mente da maioria dos seus apoiantes. E é em parcos segundos, os necessários para se ler o cabeçalho de um título de jornal e os primeiros parágrafos desta notíca, que o Dr. Fernando Nobre consegui destruir a sua imagem de independência e prestígio que lhe levou décadas a adquirir e da qual nunca recuperará. E isto porquê? Pela hipótese de ocupar o lugar de segunda figura do Estado Português? O que distingue os grandes homens e mulheres dos pequenos é que os primeiros talham a História à medida da sua ambição, os outros deixam-se talhar pelos acontecimentos, e desses não restará memória de que alguma vez tenham existido. Paz à sua memória, Dr. Fernando Nobre.

Sunday 10 April 2011

Swans @ Aula Magna


Ontem foi o dia de uma das mais míticas bandas americanas de 80s pisar o palco da Aula Magna, os Swans de Michael Gira. Apesar de não fazerem parte do lote de bandas que enchem salas com facilidade, a Aula Magna apresentava-se razoavelmente composta para os receber, fruto seguramente dos largos anos de actividade da banda (pese embora a interrupção) fomentando uma legião de admiradores que já vai cruzando várias gerações. Da parte que me toca, o encontro veio em finais de 80 até ir residindo um pouco no esquecimento. Renascidos em 2010 com um disco cuja atenção me foi despertada pelo concerto, constituiu assim uma oportunidade de os ver ao vivo, para constatar in loco a intesidade do seu experimentalismo sónico.


Antes porém, a primeira parte deu-nos uma agradável surpresa com os powerdove de Annie Lewandowski que, fazendo-se acompanhar por um guitarrista e tocando ela própria por vezes uma guitarra acústica de menores dimensões, presenteou o público com um punhado de canções melodiosas de uma pop/folk luminosa, com um suporte musical minimalista, de adorno sóbrio e sustentado por sequências de acordes simples, ou notas soltas tocadas de forma espaçada e lenta deixando à voz o desenho principal das canções. A voz essa, apresentava-se frágil mas segura, como se se dirigisse apenas para um punhado de amigos. A grandeza da sala contrastava enormemente com o intimismo da performance, mas ainda assim, notou-se uma aprovação maioritária por parte do público. Os powerdove editaram este ano o seu primeiro longa duração, Be Mine, pela Square Records, e direi que vale a pena fazerem-lhe uma visita.


Após esta introdução de tons tão suaves ninguém suspeitaria a enorme descarga energética que se seguiria. Arrancando já às 22h com um drone contínuo que teimava em persistir sem ninguém em palco (o que parecia já incomodar algumas gentes do público), os músicos dos Swans foram entrando, um a um, espaçadamente em palco construindo sobre o drone inicial um conjunto de estruturas rítmicas sucessivas que terminaram com a entrada de Gira dando assim termo a 30 minutos de pura neurose sónica, incluindo a reinterpretação do tema de abertura do seu último álbum, “No Words/No Thoughts”. E é de reinterpretação que aqui se fala, pois as estruturas melódicas das canções estavam reduzidas ao esqueleto, soterradas numa imensidão de desgarga sonora rítmica de guitarras distorcidas comandadas ao ritmo da bateria e percursões. Esta carga sonora foi levada a uma intesidade tal que era impossível não nos sentirmos quase hipnotizados pela sequências rítmicas repetitivas e densas por vezes unindo dois e três temas de uma vez. Aqui não houve espaço para descanso e os músicos deram muito poucas tréguas ao público, parando por vezes para receber uns aplausos, ou quando finalizado o primeiro tema Gira convida os presentes a ocuparem as cadeiras vazias das doutorais, ou já no final quando apresenta os seus cúmplices em palco. Também não houve lugar a destaques, menção talvez ao baterista que ía comandando os ritmos com um frenesi incansável, tudo sob a batuta de Gira que, várias vezes, ía dando instruções à banda como se de uma orquestra se tratasse. E foi de facto uma comunhão impressionante o que se assistiu em palco e confesso que nunca tinha presenciado a algo semelhante por parte de uma banda ao vivo. Notável também a performance de Thor Harris nas percursões e vários outros instrumentos, incluindo de sopro. Impossível ter saído indiferente deste concerto. Impossível ficarmo-nos por meias-impressões. Foi quase uma descida aos infernos sonoros, sublinhada por um imperativo “Jesus, come down” que Gira solta no final do segundo tema. E assim continuou por 2 horas. Esmagador, é o mínimo que me ocorre dizer. Quanto aos Swans, ainda parece estar longe o seu canto do cisne.

4,5/5

Tuesday 29 March 2011

Caridadezinha

Ao ler isto:

Os gestores do programa de ajuda ao Malawi posto em marcha pela cantora Madonna, que previa a construção de uma academia para raparigas, foram afastados dos seus cargos depois de terem gasto 3,8 milhões de dólares no projecto de uma escola que nunca chegará a ser construída.” in Público, 26 de Março de 2011.
Escusado será dizer que o dinheiro foi gasto em futilidades e salários.

Só me faz lembrar que, em termos de futilidades inúteis e mecanismos de auto-promoção, há coisas que nunca mudam:



Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde descansada
Mastigando a torrada
Com muita pena do pobre
Coitada

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

O pobre no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Alvo para os desportistas
Da caridade

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

E nós que queremos ser irmãos
Mas nunca sujamos as mãos
É uma vida decente
Não passeio ou aguardente
O que é justo
E há-que dar a toda a gente

Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta é falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha


Sunday 20 March 2011

Na Senda(i) dos Terramotos


Figura: Localização do sismo de Sendai e contexto tectónico. (C) Nature

O último sismo que atingiu o Japão levou uma panóplia de comentadores de serviço às televisões que variaram entre o engenheiro civil e um astrofísico convertido em especialista de alterações climáticas e, agora pelos vistos, também em catástrofes naturais e processos tectónicos. Que me lembre nenhum geólogo ou geofísico, ou mesmo técnico do Instituto Tecnológico e Nuclear, a entidade que em Portugal monitoriza e gere tudo quanto é resíduo radioactivo que por aqui anda. Pois bem, antes de mais, nos meios de comunicação ninguém mencionou o porquê de um sismo desta magnitude no local em que ocorreu ser inesperado. E porque razão, os meios de prevenção de tsunami acabaram por falhar, nomeadamente as barreiras costeiras que se revelaram insuficientes para aguentar com ondas entre os 10 e os 15 metros. Incluindo, é claro, na central nuclear de Fukushima pois o desastre que lhe sucedeu deveu-se precisamente ao impacto do tsunami e à insuficiência das barreiras costeiras.

O sismo do Japão atingiu o grau 9 na escala de Richter, que é uma escala logarítmica, e portanto o incremento no grau de um sismo não corresponde a um incremento linear da energia libertada, mas exponencial. Dada a magnitude atingida, e atendendo que dentro desta gama houve o sismo em Sumatra em 2004 (9.1) e no Chile em 1960 (9.5), a devastação devida à libertação da energia sísmica foi notavelmente pequena. O pior deveu-se ao tsunami que foi induzido pela movimentação brusca de uma massa da crosta substancial. Na realidade, os verdadeiros especialistas nestes assuntos, não previram que a região de Sendai pudesse ser atingida por sismos desta magnitude. A questão é, porquê? Ora bem, o ambiente tectónico onde se encontra o Japão corresponde ao bordo do local onde, a Oeste, no fundo do oceano, a crosta do oceano Pacífico (a litosfera oceânica) mergulha sob a placa litosférica oceânica que se encontra a Este e sobre a qual se ergue o arquipélago japonês. Este enorme movimento de massas é lento, gradual e nunca contínuo. Aliás, esse é o problema, porque o deslizamento de dois blocos de rocha entre si cria atrito e por vezes o movimento bloqueia até que a força exercida acumule tensão suficiente para desbloquear a progressão do movimento. Assim aconteceu com o sismo de Sendai, quando se liberta essa energia e ocorre um deslizamento brusco numa área de várias centenas de km quadrados. Acontece que os registos longos e repetidos que se vinham acumulando indicavam que sismos da magnitude do sismo de Sendai seria improvável em zonas de mergulho de placas oceânicas (zonas de subducção) em que a idade das placas é antiga. Atendendo a que a idade da litosfera oceânica ao largo do Japão tem cerca de 140 milhões de anos (para um máximo admissível entre 180 e 200 milhões de anos), os cientistas apontavam para que a região de Sendai não seria, por isso, afectada por sismos desta magnitude, precisamente por a crosta oceânica que subducta ser mais fria e densa (consequência da idade) então deslizaria mais rapidamente e facilmente. A somar ao problema, registos históricos de sismos na zona também não apontavam para magnitudes desta ordem de grandeza (máximo registado foi 8). Desta forma, o sistema de prevenção de tsunamis estava construído para suportar um impacto de ondas mas com dimensões menores da que as que vieram a ocorrer. Portanto, foi no capítulo previsão e conhecimento científico em que o processo correu mal. O sismo de Sendai provocou já uma necessidade de revisão dos modelos sísmicos nestes contextos tectónicos. Contudo, há formas alternativas a relatos históricos para deduzir a ocorrência destes fenómenos. Os tsunamis, devido às suas características, geram depósitos de detritos (conhecidos como depósitos de tsunami) que podem revelar muito da energia que lhe está associada. A verdade é que em 2001, investigadores japoneses estudaram um desses depósitos na região de Sendai, datado do século IX e cuja conclusão foi que, na realidade, a região até era afectada por ondas gigantes de mais de uma dezena de metros, mas com um período de recorrência de 800 a 1000 anos. E não é que estavam correctos?

Friday 11 March 2011

Há Já Um Tempo Que Em Privado Venho Dizendo Isto

Há no meio dos escritores uma grande quantidade de gente de valor muito discutível, mas acham-se absurdamente importantes. Suspeito que há gente de maior nível intelectual noutros meios, como o científico.

Entrevista a Enrique Vila-Matas, escritor catalão, no suplemento Ípsilon do Público, Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2011.

Wednesday 9 March 2011

Vamos à Luta Camaradas

De vez em quando aparece nos meios de comunicação social um assunto que assume características do mais absurdo que possamos imaginar e inicia-se uma controversa troca de opiniões sobre uma banalidade que não merece mais palavras que as que foram escritas até agora neste texto. Desta vez coube ao Festival da Canção, instituição essa de enorme prestígio para a música nacional e grande estandarte da cultura portuguesa na Eurolândia, e à canção vencedora de Os Homens da Luta. Pois bem, contrariamente a muita alma ofendida e envergonhada desta terra com tal decisão, a opinião da gerência da casa é a seguinte:

Congratulamos e aplaudimos efusivamente o par de trolhas musicais que são Os Homens da Luta pela brilhante canção Luta é Alegria pois finalmente, ao fim dos provectos anos que leva esta instituição, os portugueses colocaram como sua representante uma canção que não só se encontra verdadeiramente ao nível do que o Festival merece como ao nível daquilo que verdadeiramente é.

E para assistir a este resultado nem sequer tive que pagar 0,60 euros + IVA.

Monday 7 March 2011

O Planeta dos Macacos

The results of a Nature poll of scientists involved in animal research reveal that nearly one-quarter of respondents have been negatively affected by animal-rights activists, or seen it happen to someone they know. In some places, including the United Kingdom, the figure is higher than one-third. The large number of people affected will surprise many of Nature's readers. Researchers have suffered fire bombings, physical attacks, destruction of personal property and campaigns of harassment. But the statistics do not necessarily reflect the current prevalence of violent activist behaviour - rather, they reveal how such activity instils a lingering fear that is difficult to forget.”

Primeiro parágrafo do Editorial da revista Nature, 24 de Fevereiro de 2011.

O Mundo está longe de ser a preto e branco, mas a questão que aqui se levanta é a de uma natureza mais profunda que afecta as sociedades do mundo desenvolvido. Os cientistas não são gente insensível e sem escrúpulos, ou então são na mesma medida dos que existem em todas as franjas da sociedade (arautos da moralidade incluídos). O que isto configura é a transformação perigosa de ideais que deveriam efectivamente contribuir para o progresso social humano em abjectos sistemas fascistas e terroristas.

Tuesday 1 March 2011

Mercado das Transferências

As saídas de José Alberto Carvalho e Judite de Sousa para a TVI são boas notícias, embora mais no domínio do “wishful thinking” que da efectiva oportunidade que estas saídas representam para a RTP passar a ter um verdadeiro serviço público noticioso. As novas contratações da TVI em nada acrescentam ao que a estação já é (nem melhor nem pior), e esperar mais do que isso é o mesmo que esperar que a próxima edição do Correio da Manhã se bata pelos mesmos leitores do Jornal de Letras. Constitui, isso sim, a oportunidade de a RTP passar a ter uma informação mais séria, aprofundada e menos colada ao poder político. E já agora, por mais uns trocos não podiam levar também a Fátima Campos Ferreira?

Tuesday 1 February 2011

A Rede Social

Se dúvidas haviam sobre o impacto das redes sociais na convivência moderna, creio que se esfumaram de vez com os acontecimentos na Tunísia e Egipto.

Por cá, aguarda-se pacientemente que as novas tecnologias cheguem à Madeira.

Tuesday 25 January 2011

Os Melhores de 2010 #3

Ora, continuando na senda dos melhores álbuns do ano passado, as honras hoje cabem a Gil Scott-Heron, o poeta e músico americano, especialmente notabilizado pelo tema “The Revolution Will Not Be Televised” de 1970 presenteou-nos com um disco após 16 anos de silêncio. Trata-se de uma obra curta, com diversos textos declamados entre temas cantados, movendo-se por territórios musicais bastante actuais mas que o próprio ajudou a fundar nos idos 70's. I'm New Here é um testemunho pungente de um homem que olha para o que é fruto daquilo que foi e dos que o rodearam. “I'm New Here” é também um tema composto por Bill Callahan que aqui é usado por Gil Scott-Heron de uma forma mais melódica mas musicalmente despojado para dar o mote com um significativo “No matter how far wrong you've gone/You can always tournaround”. Possuidor de uma voz forte e penetrante ao melhor estilo de um blues-man de ar agastado a denunciar a vida conturbada na última década, Gil Scott-Heron consegue ir ao fundo de si mesmo para chegar ao fundo dos que o ouvem. E para que não restem dúvidas, o tema que hoje fica em exposição bem pode servir de lição para as bandas que fizeram do trip-hop a sua matriz mas que parecem ter esquecido, algures pelo caminho, como se faz boa música.

(4/5)





Me and the Devil – Gil Scott-Heron (I'm New Here, 2010)

Monday 24 January 2011

Comentário Oficial às Eleições Presidenciais de Ontem

A gerência espera que o candidato Abstenção não renuncie ao mandato para que foi eleito à primeira volta em favor do 2º candidato mais votado. Estamos em crer que nenhum outro candidato reflecte tão fielmente a nobre atitude do povo português*.

* é assim mesmo, em letra pequenina.

Saturday 22 January 2011

Não Lembra ao C######

Os idiotas que baptizam crianças com nomes como Lyonce Viiktórya deviam levar com uma queixa na Comissão para a Protecção de Menores.

Wednesday 19 January 2011

Ai a Maldonna da Katy!

A sério! Cada vez me custa mais a compreender as razões de João Lopes.

Se alguém belisca a Madonna arrisca-se a levar uma dentada e um sermão sobre a ditadura de alguma coisa. Confesso que já não sei o que é pior, se defender os símbolos religiosos ou os ídolos endeusados. Mas tal como com a prédica da Katy, não só não se pode obrigar os mais jovens a evitarem o ridículo, como o mesmo se aplica aos menos jovens. Aparte este detalhe, cada um é livre de dizer o que lhe der na real gana, mas se quer tornar públicos os seus pensamentos poupe-se ao menos os outros com as tristes figuras que se fazem.

Sunday 16 January 2011

Mais Balanços de 2010


Numa perspectiva de dar a conhecer os gostos pessoais e assim contribuir, como outros contribuem para comigo, para despertar a curiosidade do que ainda não se provou.

Cinema:

O ano de 2010 não foi particularmente memorável. Houve um punhado de filmes que me despertaram suficientemente o interesse. Outros houve que perdi e espero recuperar mais tarde, como por exemplo, “O Segredo dos Seus Olhos”. O veredicto:


1. A Single Man – Tom Ford
2. O Escritor Fantasma – Roman Polanski
3. Shutter Island – Martin Scorcese
4. A Estrada – John Hillcoat
5. A Rede Social – David Fincher
6. Nas Nuvens – Jason Reitman
7. A Origem/The Inception – Christopher Nolan
8. Tamara Drewe – Stephen Frears
9. Tudo Pode Dar Certo – Woody Allen

Para esquecer:
Alice no País das Maravilhas – Tim Burton

Concertos:

Muito mais abonado que em anos anteriores, alguns foram objecto de comentário aqui na chafarica:


1. Grizzly Bear @ Coliseu dos Recreios
2. Sonic Youth @ Coliseu dos Recreos
3. Tindersticks @ Coliseu dos Recreios
4. Faust @ Teatro Maria Matos
5. The Walkmen @ Coliseu dos Recreios

O Coliseu levou claramente a melhor, o que é mau porque as condições sonoras são frequentemente sofríveis. De entre os que actuaram nas primeiras partes:


1. Danças Ocultas (1ª parte Tindersticks)
2. Cibelle (1ª parte Grizzly Bear)
3. Os Golpes (1ª parte The Walkmen)
4. Gala Drop (1ª parte Sonic Youth)

Finalmente, não vou muito em novidades literárias porque tenho dificuldade em distinguir o trigo do joio do mar que se publica. Refiro apenas um monumento que li no ano de 2010 e que me deixou de rastos:


As Benevolentes” de Jonathan Littell

Até breve!

Friday 14 January 2011

Os Melhores de 2010 #2

Segundo capítulo da saga “o ano passado em formato musical”, desta vez com as honras a caberem a Micah P. Hinson. O americano tranquilo deixa-nos com um disco que consegue superar o nível do que nos tem habituado, com aquela country/folk por vezes meio freak, por vezes sofisticada, por vezes experimental, por vezes simplemente normal. No seu quinto registo de longa duração, agora sob o título “... and the Pioneer Saboteurs” como se em cada nova gravação nos dissesse que se faz acompanhar por uma orquestra de improváveis cúmplices, alarga o espírito da sua cruzada, não se fazendo rogado a exercícios de distorção ao nível do melhor que há no mercado, servindo-nos um disco fresco e amplo nos espaços estéticos que percorre. Por muito estranho que seja enquanto objecto country/folk, o certo é que algumas vocalizações entrecortadas com cordas ao ritmo das tribos indígenas das planícies norte americanas localizam claramente a geografia por onde se move. Some-se a isto tudo um sentido melódico, a espaços contemplativo e ritmado, e estamos perante dos projectos musicais mais singulares e originais que se tem vindo a mostrar nos últimos anos. Fiquemos então com um dos momentos altos, “The Cross That Stole This Heart Away”, onde alguns germes de distorção abraçam elegantemente uma estrutura melódica simples, mas suficientemente penetrante a ponto de nos dar um nó na garganta.

(4,5/5)





The Cross That Stole This Heart Away – Micah P. Hinson (...and the Pioneer Saboteurs, 2010)

Para ouvir, só mesmo no blogue...

Thursday 13 January 2011

Os Melhores de 2010 #1

Pois bem, segue uma série de publicações sobre os discos que melhor me ficaram na memória no ano que findou. A primeira série de 5, são também os meus preferidos pela mesma ordem. Os restantes virão ao sabor dos sons.

Começamos por essa obra fantástica que é o disco de John Grant, “Queen of Denmark”. O ex-vocalista dos The Czars regressa das cinzas com um disco assumidamente pessoal e possuidor de um punhado de canções elegantes e belas, incisivas e penetrantes que não nos deixa indiferentes á primeira audição e a todas as que se seguem. Para este disco, John Grant contou com a colaboração dos Midlake, que imprimem à música um estilo assumidamente vintage seventies.


Para audição fica uma das pequenas pérolas deste disco, “I Wanna to go to Marz”, que nos leva a percorrer todos os sabores de uma montra de gelados em que o doce da letra contrasta assumidamente com a melancolia angustiante da música, a puxar para uma nostalgia feliz, mas perdida.

(4,5/5)



I Wanna Go To Marz - John Grant (Queen of Denmark, 2010)

Monday 3 January 2011

Quattro


Pode ser que seja da crise, mas a verdade é que este blogue está em crise. Não é financeira, mas de ideias e tempo para o manter. Ainda assim, algo me anima a vir cá lembrar a efeméride, que foi exactamente há 4 anos que tive a triste ideia de me armar aos cucos. A ideia de manter um espaço que me deu alegrias e algum prazer passou a ser um fardo a competir com as cada vez mais solicitações de cariz profissional. O abandono da blogosfera tem sido gradual para muita gente, com novos atractivos a captar a atenção de todos nós, como o Facebook. Em vez de perdermos tempo a escrever longos textos, as novas catedrais virtuais deixam-nos pouco mais que um punhado de caracteres para dizer o que nos vais na alma. Portanto, sinto que isto é um pouco como a crise do comércio tradicional face aos centros comerciais, a troca da ementa regional pelo fast-food.

Bom, mas se ainda cá vim é porque ainda vou partilhar algumas impressões com quem por aqui ainda vai passando. Coisas curtas essencialmente.

Tenham um bom 2011.