Thursday 31 January 2008

Personalidade do Mês (Dezembro)

O tempo e a inspiração não são muitas vezes nossos companheiros e esta rubrica, que já viu melhores dias, está a dar os últimos suspiros. Ainda que venha a haver mais uma pequena e divertida incursão para balanço, pelo menos terminamos o ano findo com a eleição da última personalidade. O prémio vai, inteirinho e merecidamente para:

António Nunes, Director da ASAE, apanhado a fumar num casino às primeiras horas do ano de 2008.

Comentário do Comité do Restaurante:

Depois de termos vindo a mandar repetidas mensagens subliminares acerca das crescentes atitudes pidescas da sociedade, eis que o feitiço se vira contra o feiticeiro, e é o Director da ASAE uma das primeiras vítimas do próprio sistema controleiro que ajuda a sustentar. É um pouco como colocar ratoeiras para os ratos e ser o primeiro a entalar os tomates. Ui! Tal destreza merece indubitavelmente o reconhecimento da nossa equipa. Mas o mais notável é que, à custa deste episódio, estes importantes estabelecimentos culturais, que toda a gente sabe serem ao ar livre, acabaram convenientemente fora da alçada da lesgislação. Ou os tipos que lá vão e trabalham são todos fumadores, ou o Estado está-se positivamente a borrifar para eles. Ou então, somos nós que vimos demasiados filmes e assalta-nos à memória a cena do Senador que é apanhado numa cena altamente comprometedora pelos capangas de D. Corleone em “O Padrinho II”. Por acaso, também se tratavam de casinos... ela há cada coincidência!

Wednesday 23 January 2008

Over The Volcano

Os cientistas Hugh Corr e David Vaughan do British Antarctic Survey, após analisarem um conjunto de dados de radar colhidos num voo há três anos, verificaram a existência de uma camada reflectora nos gelos da Antárctica (mais forte que a do substrato geológico) cuja única explicação plausível é corresponder a um nível de cinzas vulcânicas de uma erupção recente. O artigo foi recentemente publicado na Nature Geoscience. Na realidade, estaremos na presença de um vulcão activo debaixo dos gelos da Antárctica, cujo último rugido ecoou há uns breves 2000 anos atrás. O ponto quente respectivo situa-se na região de Pine Island da Camada de Gelo da Antárctica Ocidental, um local onde os glaciares retraem a uma taxa superior à de outras regiões do continente. Embora se desconfiasse que existissem vulcões activos debaixo da espessa camada de gelo, tal nunca tinha sido confirmado até hoje. Se bem que conhecido como um continente gelado, a Antárctica possui alguns vulcões activos que emergem desse imenso mar branco, o mais importante dos quais é o Monte Erebus, na Ilha de Ross, cuja actividade contínua tem vindo a ser observada desde os anos 70.

(C) NASA

Agora imagine o leitor o espetáculo explosivo que é uma erupção destas, dando origem ao que se designa por freato-magmatismo. Se colocar água fria em cima de um ferro em brasa dá o que todos sabemos, o que serão as toneladas de gelo a derreter sobre a rocha fundida que emerge a uns confortáveis 1000ºC? Estima-se que o buracão terá sido enorme, e a pluma, que espalhou as cinzas por uma área equivalente ao País de Gales, terá atingido os 12 km de altitude.

Tuesday 22 January 2008

A Coisa Aqui Está Preta!

Uma pequena digressão por assuntos científicos, que já me dão algumas saudades, numa tentativa de os encaixar no escasso tempo disponível para os escrever. No entanto, o assunto que aqui venho abordar tem um espaço especial neste estabelecimento, até pelo facto de ter sido o primeiro a ser abordado, agora novamente por razões equivalentes: polémica! E esse assunto é o da Matéria Negra e da Energia Negra.

Comecemos pela primeira parte, a Matéria Negra. Os métodos para a detecção de um tipo de matéria que ninguém ainda sabe bem o que é, baseiam-se na gravidade, ou seja, os halos de matéria negra detectam-se pela deformação que induzem nas imagens das galáxias distantes, tudo pelo facto de a luz seguir o percurso mais curto entre pontos no espaço-tempo e este se encontrar deformado pela presença de matéria (seja ela negra ou não). Acontece que nas observações de clusters (agrupamentos) de galáxias que se fundem entre si, os gases são arrastados para o centro de gravidade comum dos clusters. Observações recentes do “Bullet Cluster” revelam isso mesmo e mais, que os halos gigantescos de matéria negra coincidem com as galáxias do cluster e não com os gases no seu centro de gravidade. Estas observações vão precisamente no sentido da opinião corrente sobre este assunto, ou seja, que a matéria negra é uma matéria que não interage consigo própria e as zonas onde a sua densidade é maior são precisamente aquelas onde se concentra a matéria normal com que convivemos no dia-a-dia. Mas agora eis que um novo cluster, na constelação de Orion a 2,4 mil milhões de anos-luz de distância, designado Abell 520 vem estragar a festa. Tal como no caso anterior corresponde à fusão de dois clusters mas onde, surpreendentemente, a quantidade enorme de matéria negra do cluster se encontra, não nas zonas onde estão as galáxias, mas precisamente onde está o gás no centro de gravidade do cluster. A equipa responsável por esta descoberta, liderada por Andisheh Mahdavi e Henk Hoekstra, da Universidade de Victoria na British Columbia, escreveu na revista Astrophysical Journal que esta dissociação entre galáxias e matéria negra não pode ser facilmente explicada pelo paradigma corrente sobre a matéria negra. Agora, os físicos estão outra vez “aflitos”, à espera que outras observações independentes e cuidadas venham a confirmar esta observação. E à espera estão já dos dados do Telescópio Espacial Hubble, para virem a saber se afinal a matéria negra até interage consigo mesma através de uma força da natureza (candidata a ser a quinta, depois da gravidade, electro-magnética, fraca e nuclear forte) por agora completamente desconhecida. Constitui também a hipótese para que a Dinâmica Newtoniana Modificada (Modified Newtonian Dynamics, MOND) seja considerada para descrever essa “nova” força. Esta teoria, inventada em princípios de 80 por Mordehai Milgrom do Instituto de Ciência de Weizmann em Rehovot, Israel, pode ser uma das respostas possíveis.

Agora, para não deixar as águas deste Universo demasiado calmas, eis que Subir Sarkar, físico teórico da Universidade de Oxford, no Reino Unido, escreveu um tratado onde sugere que a energia negra, uma estranha força que parece obrigar o Universo a expandir, pode na realidade ser apenas o efeito de uma bolha enorme de espaço vazio em torno da nossa Galáxia. O artigo que escreveu está disponível no arquivo electrónico ArXiv. Acontece que estas bolhas são conhecidas e podem explicar as observações sobre as supernova que levaram à conclusão que a expansão do Universo está a acelerar. Mais um aviso à navegação: é preciso continuar com observações cuidadas e verificar se os dados obtidos confirmam ou não as conclusões.

Definitivamente, como diria Chico Buarque: A coisa aqui está preta!...

Tuesday 15 January 2008

A Distinção InVulgar da Música

O último single dos Goldfrapp (A&E), a avançar o próximo álbum que está ao virar da esquina, causa-me um certo desconforto em tentar descortinar o que às vezes se considera boa música de música simplesmente vulgar. Pois bem, a dita música não começa nem bem nem mal, simplesmente se ignora se estiver a passar num dado momento em que estejamos a fazer outra coisa qualquer. Mas lá para o refrão, aquilo soa mesmo um bocado a banda sonora de filme tipo comédia-romântica ligeira de fim de tarde de domingo na televisão. Se não fosse a Allison Goldfrapp a cantar aquilo, alguém dos esclarecidos animadores (parece que é assim que lhe chamam) musicais de rádios mais decentes lhe passava cartão como parecem estar a passar? É que, de facto, o mínimo que se pode qualificar aquela música é de vulgar. Fica bem a condizer com o “airplay” da RFM, por exemplo. Longe parecem ir os tempos do brilhante “Felt Mountain” e mesmo “Black Cherry”. Para alguém que colaborou com nomes como Tricky, esperava-se um pouco mais de clarividência, o que não pronuncia nada de bom para o álbum que aí vem...


Peguei neste assunto por pensar numa atitude, que deveria dar um belíssimo estudo sociológico, de considerar algo bom simplesmente pelo embrulho em que vem coberto. Faz-me lembrar uma crónica audiófila do José Vítor Henriques sobre a apresentação de umas colunas “high-end” da Wilson Audio no CES 2004. O próprio Wilson em pessoa decide apresentar e pedir para avaliar o som das novas colunas modelo Sophia (variante mais modesta das Watt/Puppy que custam o suficiente para comprar um BMW série 5). Com uma panóplia de críticos audiófilos reconhecidos vindos dos 4 cantos do Mundo, não se cansaram de elogiar, com os mais variados adjectivos, o belíssimo som que dali saía. Mas nenhum deles conhecia a fonte. Depois de conquistados os espíritos críticos, desvenda-se a fonte... um iPod a debitar mp3. Para um verdadeiro audiófilo, ouvir mp3 é o mesmo que servir comida de plástico a quem vai regularmente a restaurantes de primeira, mas um facto é que comeram... e bem ao que parece, apesar de terem tido a necessidade de tomar um digestivo para aliviar o orgulho ferido!

Monday 14 January 2008

O Pântano da Política

O título é um bocado chavão, mas sintetiza muito bem o que pretendo exprimir. O propósito desta minha vontade de debitar mais um texto aqui para a chafarica, que assim dá mais um passo importante para vir a ser fechada pela ASAE, é o famigerado novo aeroporto de Lisboa. Em primeiro lugar, o que se passou nos últimos meses tem um de dois propósitos: passar um atestado de estupidez a todos os portugueses, autores dos estudos técnicos incluídos, ou então foi uma gigantesca manobra de diversão encenada por quem pretendia tomar uma decisão que já estava tomada, legitimando-a assim perante a opinião pública. Acho no mínimo estranho que se tenham gasto anos e milhões em estudos técnicos para a localização do novo aeroporto quando afinal, em pouco menos de 6 meses, não só se estuda uma nova localização, como se decide favoravelmente por essa mesma localização. Notável, até pelo que se poderia ter poupado se se encomendasse o estudo às pessoas certas.

Não tenho, como a esmagadora maioria dos portugueses, qualquer opinião formada acerca do assunto. Não li os estudos técnicos, por isso não emito opiniões para o ar como muito se gosta de fazer neste país. Mas isso não me impede de notar as circunstâncias, algo estranhas, de como todo este processo decorreu. Por acaso até cheguei a discutir, em duas ocasiões, com uma das pessoas envolvidas nos estudos sobre a nova localização do aeroporto de Lisboa. Muito embora os argumentos de quem os apresenta sejam muitas vezes um guia já orientado para a sua própria opinião, confesso que não estou completamente convencido sobre a lucidez da decisão tomada. Mas está tomada, e já há muito que se previa que a decisão, mais do que técnica, seria política. Se pensarmos, por exemplo, na proximidade ao Estuário do Tejo e a respectiva população de aves e o que isso representa para a segurança aérea, creio que seria um dos argumentos passíveis de discussão mais reflectida.

Já nos meandros da política, vemos uma oposição que muda de opinião de forma tão volúvel como o governo. Esta acusa o governo, e em particular o ministro Mário Lino, de não ser coerente e acabar por defender a localização de Alcochete da mesma forma que havia feito com a Ota. Vejamos: se o ministro continuasse a defender a Ota e fosse esta a sua opção, a oposição acusaria seguramente o governo de arrogante e autista. Isto não só não é sério, como é demagógico e não abona nada em favor de uma classe política, cujo nível se pauta pelo da locomoção das serpentes. Brincar irresponsavelmente às democracias custará muito caro à sociedade, que se verá um dia a pagar a factura com juros de mora. E agora nos recordam que com esta decisão, o Estado se apressou a colocar em cima da mesa a renegociação do contrato de exclusividade com a Lusoponte, o tal que foi assinado pelo actual presidente da referida empresa na altura em que era ministro das obras públicas do governo de Cavaco Silva.

Se a Ota era um pântano, deixe-se ao critério do leitor a avaliação que fará de S. Bento.

Wednesday 9 January 2008

Sexo, Alcool e Moscas

Não pensem já os estimados clientes que a linha deste blogue sofreu mais um desvio editorial. No passado dia 3, o site da revista Nature anunciava que um estudo efectuado em moscas da fruta com alcoolismo crónico (confesso que tenho alguma curiosidade em saber como conseguiam embebedar as moscas), levava a que as referidas moscas apresentassem uma hiperactividade sexual. Para quem já começa a ter segundos pensamentos sobre o assunto, refira-se que como contra-indicação as moscas apresentavam uma forte tendência para perseguirem tudo o que tivesse asas, fêmeas e machos incluidos.

Saturday 5 January 2008

Afinal Vai Haver Rally

Os fanáticos deste desporto já não precisam de estar tristes pois hoje, conforme previsto, irá ter lugar o Rally Lisboa-Margem Sul. O Governo, desgostoso com a notícia do cancelamento do Lisboa-Dakar, viu Mário Lino levantar-se no Conselho de Ministros e propôr, em consonância com a sua tese defendida em Maio, que o Rally tivesse lugar entre Lisboa e a Margem Sul, pois assim se obviariam os problemas de segurança colocados pelos picuínhas dos franceses. O partido do governo está convencido que o anunciado cancelamento foi obra do Sarkozy, com inveja de o Rally já não começar em Paris, instigado pelo Luis Filipe Meneses, por sua vez com inveja de não ter a Carla Bruni.

Imagem adaptada do logotipo oficial do Lisboa-Dakar.

Outra Nota Positiva
: Sendo Setúbal relativamente perto de Lisboa, poupa-se o meio ambiente, evitando levar aqueles monstros para paragens que mais valia estarem livres dessas máquinas horrendas.

Thursday 3 January 2008

Um Ano de Misérias e Desventuras


Este blogue miserável faz 1 ano e... inacreditavelmente ainda mexe!

Em face de tamanha casmurrice por parte da equipa cá da tasca, iremos homenagear o nosso estimado padroeiro, Douglas Adams, com uma referência ao seu livro de cujo título aqui a chafarica retirou o nome, publicado em 2004 pela Saída de Emergência. Se o estimado cliente é daqueles que ainda não leu a obra máxima de Douglas Adams, ainda tem este ano para se redimir. Vamos também deixar em audição o tema “Paranoid Android” dos Radiohead, pois é uma referência à personagem Marvin, the Paranoid Android, dessa maravilhosa trilogia que é “The Hitchhiker's Guide to the Galaxy”. Além disso, é um tema composto ao melhor estilo do “velho” Rock Progressivo, por muito que esta observação chateie os Radiohead e muita gente a quem o estilo causa arrepios de espinha. Ora tomem!




Convém lembrar que neste espaço não se exultam, normalmente, os anos findos. Para nós, são sempre o pior que ocorreu e por isso os anos que vêm são repetidamente salutares e bem-vindos na esperança de que o que se lista abaixo poder, de uma vez por todas, não se voltar a repetir.

O pior de 2007:

1. Não ter desistido de escrever neste blogue (o futuro vai continuar negro).
2. Ter recebido uma carta elogiosa do Paulo Portas.
3. Não ter tido tempo de arranjar uma licenciatura em engenharia antes de a Universidade Independente fechar.
4. O Santana Lopes ter deixado de andar por aí para passar a andar por aqui (esperemos que isso não inclua este blogue).
5. Ter recebido uma notificação para proibir os nossos clientes de fumarem a partir deste ano enquanto vêm aqui ler umas coisitas parvas e sem interesse.

Olha! Só agora reparei que este é o post nº 100! Parabéns, estimado cliente, acabou de ganhar um conjunto de senhas pré-compradas para a linha 83 da Carris!

Bom 2008!

Wednesday 2 January 2008

Balanços do Ano de 2007

Coisas que me puseram de bem com o ano (e com a vida):

  • Amadeo de Souza Cardoso na Gulbenkian
  • Dali na Tate Modern
  • Nitin Sawhney no mítico Royal Albert Hall

A boa disposição no cinema:
  • “Morte num Funeral” de Frank Oz

Música que nos fez suster a respiração:
  • Mário Laginha Trio - “Espaço”

Música que nos fez mexer os neurónios:
  • Battles - “Mirrored”

Perdas para a música:
  • Max Roach
  • Karlheinz Stockhausen
  • Oscar Peterson

A frase do ano:
  • “Porreiro, pá!” - José Sócrates, Prmeiro Ministro em 2007

Antecipamos já a frase para o ano de 2021 (isto não é futurologia, é a realidade):
  • “Fixe, meu!” - José Sócrates, Presidente do Conselho em 2021 após um golpe de estado e a reinstauração da PIDE.

O Presidente Inexperiente do ano:
  • Cavaco Silva, questionando-se sobre o que é necessário para os portugueses terem mais filhos. Valha-nos Santa Engrácia!...

Decisão do ano e dos próximos 20 anos também:
  • Novo aeroporto internacional de Lisboa

Embaixador da Língua Portuguesa do ano:
  • Joe Berardo.