Tuesday 15 January 2008

A Distinção InVulgar da Música

O último single dos Goldfrapp (A&E), a avançar o próximo álbum que está ao virar da esquina, causa-me um certo desconforto em tentar descortinar o que às vezes se considera boa música de música simplesmente vulgar. Pois bem, a dita música não começa nem bem nem mal, simplesmente se ignora se estiver a passar num dado momento em que estejamos a fazer outra coisa qualquer. Mas lá para o refrão, aquilo soa mesmo um bocado a banda sonora de filme tipo comédia-romântica ligeira de fim de tarde de domingo na televisão. Se não fosse a Allison Goldfrapp a cantar aquilo, alguém dos esclarecidos animadores (parece que é assim que lhe chamam) musicais de rádios mais decentes lhe passava cartão como parecem estar a passar? É que, de facto, o mínimo que se pode qualificar aquela música é de vulgar. Fica bem a condizer com o “airplay” da RFM, por exemplo. Longe parecem ir os tempos do brilhante “Felt Mountain” e mesmo “Black Cherry”. Para alguém que colaborou com nomes como Tricky, esperava-se um pouco mais de clarividência, o que não pronuncia nada de bom para o álbum que aí vem...


Peguei neste assunto por pensar numa atitude, que deveria dar um belíssimo estudo sociológico, de considerar algo bom simplesmente pelo embrulho em que vem coberto. Faz-me lembrar uma crónica audiófila do José Vítor Henriques sobre a apresentação de umas colunas “high-end” da Wilson Audio no CES 2004. O próprio Wilson em pessoa decide apresentar e pedir para avaliar o som das novas colunas modelo Sophia (variante mais modesta das Watt/Puppy que custam o suficiente para comprar um BMW série 5). Com uma panóplia de críticos audiófilos reconhecidos vindos dos 4 cantos do Mundo, não se cansaram de elogiar, com os mais variados adjectivos, o belíssimo som que dali saía. Mas nenhum deles conhecia a fonte. Depois de conquistados os espíritos críticos, desvenda-se a fonte... um iPod a debitar mp3. Para um verdadeiro audiófilo, ouvir mp3 é o mesmo que servir comida de plástico a quem vai regularmente a restaurantes de primeira, mas um facto é que comeram... e bem ao que parece, apesar de terem tido a necessidade de tomar um digestivo para aliviar o orgulho ferido!

13 comments:

Unknown said...

Ui! Pelo que descreves, acho que vou pensar duas vezes em ouvir esse avanço do 4º álbum... Help! Para mim, o único álbum realmente bom dos Goldfrapp foi 'Felt Mountain'.

Hum?

strange quark said...

Hehe! Eu até acho que o pessoal deve ouvir, e há lá momentos que até tornam a música menos má. Mas realmente onde quero chegar é que a avaliação que muitas vezes fazemos de uma música, um livro, um produto, ou outra coisa qualquer, está inevitavelmente condicionada (umas vezes mais, outras menos) por quem o fez ou criou, e pelo facto de essa pessoa nos merecer uma maior ou menor estima.

O exercício que proponho é o seguinte: o que é que cada um de nós pensaria desta música se se abstrair, por completo, de quem é a compositora e a cantora? Na realidade não está em causa se se gosta ou não. Pessoalmente não gosto, mas isso é simplesmente o meu feito! :)

strange quark said...

"...feitio!", não "...feito!" :P

rita maria josefina said...

oh agora já disseste o nome da cantora e compositora fica difícil!
mas isso aconteceu me com aqueles que tu tanto gostas, os She Wants Revenge que neste ultimo álbum se espalharam ao compridissississimo, e eu e os restantes fãs esperávamos algo maior e melhor.. e acredita que há muitos que dão valor ao ultimo álbum.. já li por ai umas coisinhas sobre o dito que vai lá vai...
é só um exemplo..
tb me estou a lembrar dos super fãs de Bowie que não conseguem distinguir os grandes altos da sua carreira com os tramados baixos.. pensam que foi tudo bom..
bottom line..
parece que na musica o amor também é cego, neste caso, surdo :)

strange quark said...

Pois, há muito, mas mesmo muito, poucos que se podem orgulhar de mostrar um curriculo musical sem manchas, e Bowie não é um deles... Já o Tom Waits... Uma parte do problema acredito mesmo que resulta da cedência ao "brilho das luzes" com as inevitáveis consequências de que a criação artística deixa de ser livre a partir desse momento.

Outro aspecto que creio se pode levantar com o "post" que escrevi é o da formatação do gosto musical. A análise musical não é, nem nunca foi, uma ciência exacta e nem sequer chegou a ser imprecisa. Muito embora se apregoe que é possível definir o mau-gosto eu, pessoalmente, tenho sérias dúvidas. Com a música, talvez por fazer uma espécie de clique em alguns dos nossos sentidos mais básicos e por ser uma linguagem verdadeiramente universal que nos une numa só espécie, verifica-se que as sonoridades que despertam sentimentos em cada um de nós são, muitas vezes, radicalmente diferentes, por muito que isso nos pareça incompreensível.

O mais importante é levarmos isto como um prazer, e não a sério :)

rita maria josefina said...

cada ouvido seu sentido! e mai nada:)
somos todos diferentes que é impossível sentirmos a musica da mesma maneira. e ao fim de contas é isso que a torna tão especial, seja ela de que género for..

M.A. said...

Parece que a Dido encontrou concorrente à altura!
Este tema só vem reforçar aquilo que eu já desconfiava há muito: estes dois nunca valeram grande coisa, apesar de ainda ter dado alguma atenção àquela coisa com uma capa horrível que dá pelo nome "Felt Mountain".

strange quark said...

Hehe! Parece que sim... :)

Dos Goldfrapp guardo uma boa memória do Felt Mountain, que até considero um dos discos que vale a pena realçar na década que decorre, embora tenhas razão quanto ao gosto duvidoso da capa... e do Black Cherry há umas certas coisas interessantes, mas nunca me convenceu plenamente.

Anonymous said...

Tens toda a razão, Mário. Disseste mesmo tudo. Eu tava até a pensar em esboçar algo sobre minha profunda decepção com os Goldfrapp...ao contrário de ti, gosto muito do Black Cherry, talvez até mais que a sublime estréia, mas acho que a eles se contaminaram com esta história do electro e perderam o passo. Supernature é mau, este Seventh Tree consegue ser pior. Para nosso lamento.

strange quark said...

Presley Wellvis,

Quanto ao Black Cherry, digamos que gosto "um pouquinho"... mas o que vem aí é mesmo mau! Embora haja por aí muita mente esclarecida que até nem diz mal do single de avanço... opiniões! O que me deixa perplexo é depois ouvir essas mesmas mentes dizerem mal do airplay da RFM... opiniões, mais uma vez!

Um abraço

O Puto said...

Adorei (e adoro) o "Felt Mountain", até mesmo antes de ser editado, pois vi os Goldfrapp ao vivo em Junho de 2000. Gostei muito de "Black Cherry", admirei a coragem nessa viragem brusca na sonoridade e ao vivo os dois primeiros discos casam muito bem. Também gostei de "Supernature", apesar de não deixar de pensar que eles precisavam de mudar de direcção. A ver vamos, ou melhor, a ouvir vamos...

O Puto said...

Acabei de ver o videoclip de "A&E". A música é inócua e o teledisco é pavoroso, apesar de me ter dado umas ideias para o Carnaval.

strange quark said...

Inócua é mesmo um termo adequado...