Monday 14 January 2008

O Pântano da Política

O título é um bocado chavão, mas sintetiza muito bem o que pretendo exprimir. O propósito desta minha vontade de debitar mais um texto aqui para a chafarica, que assim dá mais um passo importante para vir a ser fechada pela ASAE, é o famigerado novo aeroporto de Lisboa. Em primeiro lugar, o que se passou nos últimos meses tem um de dois propósitos: passar um atestado de estupidez a todos os portugueses, autores dos estudos técnicos incluídos, ou então foi uma gigantesca manobra de diversão encenada por quem pretendia tomar uma decisão que já estava tomada, legitimando-a assim perante a opinião pública. Acho no mínimo estranho que se tenham gasto anos e milhões em estudos técnicos para a localização do novo aeroporto quando afinal, em pouco menos de 6 meses, não só se estuda uma nova localização, como se decide favoravelmente por essa mesma localização. Notável, até pelo que se poderia ter poupado se se encomendasse o estudo às pessoas certas.

Não tenho, como a esmagadora maioria dos portugueses, qualquer opinião formada acerca do assunto. Não li os estudos técnicos, por isso não emito opiniões para o ar como muito se gosta de fazer neste país. Mas isso não me impede de notar as circunstâncias, algo estranhas, de como todo este processo decorreu. Por acaso até cheguei a discutir, em duas ocasiões, com uma das pessoas envolvidas nos estudos sobre a nova localização do aeroporto de Lisboa. Muito embora os argumentos de quem os apresenta sejam muitas vezes um guia já orientado para a sua própria opinião, confesso que não estou completamente convencido sobre a lucidez da decisão tomada. Mas está tomada, e já há muito que se previa que a decisão, mais do que técnica, seria política. Se pensarmos, por exemplo, na proximidade ao Estuário do Tejo e a respectiva população de aves e o que isso representa para a segurança aérea, creio que seria um dos argumentos passíveis de discussão mais reflectida.

Já nos meandros da política, vemos uma oposição que muda de opinião de forma tão volúvel como o governo. Esta acusa o governo, e em particular o ministro Mário Lino, de não ser coerente e acabar por defender a localização de Alcochete da mesma forma que havia feito com a Ota. Vejamos: se o ministro continuasse a defender a Ota e fosse esta a sua opção, a oposição acusaria seguramente o governo de arrogante e autista. Isto não só não é sério, como é demagógico e não abona nada em favor de uma classe política, cujo nível se pauta pelo da locomoção das serpentes. Brincar irresponsavelmente às democracias custará muito caro à sociedade, que se verá um dia a pagar a factura com juros de mora. E agora nos recordam que com esta decisão, o Estado se apressou a colocar em cima da mesa a renegociação do contrato de exclusividade com a Lusoponte, o tal que foi assinado pelo actual presidente da referida empresa na altura em que era ministro das obras públicas do governo de Cavaco Silva.

Se a Ota era um pântano, deixe-se ao critério do leitor a avaliação que fará de S. Bento.

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