Friday 29 April 2011

Pacote de Ajuda Externa

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras confirmou a recepção de um pedido de naturalização por parte do Super-Homem.

Thursday 28 April 2011

A Quimera do Som

Amanhã será a vez de Tim Hecker se apresentar ao público na Galeria Zé dos Bois. Música que é, em grande parte, alma gémea da de Ben Frost, Hecker apresentará seguramente os temas que constituem o seu última longa-duração, Ravedeath, 1972, editado já este ano, gravado na fria Reykjavik com ajuda à produção do mesmo Ben Frost. Como amostra fica um dos temas do seu álbum de 2006, Harmony in Ultraviolet.



Chimera – Tim Hecker (Harmony in Ultraviolet, 2006)

Wednesday 27 April 2011

Soul Mates

Ainda no rescaldo do último concerto, fica aqui a evidência do pontos de contacto que eram óbvios entre os concertos deste mês.



We Love You Michael Gira - Ben Frost (Theory of Machines, 2007)

Ou então, a desolação dos Cárpatos ao som dos lobos.



The Carpathians – Ben Frost (By the Throat, 2009)

Tuesday 26 April 2011

Ben Frost @ Teatro Maria Matos (25 de Abril de 2011)

Para terminar o dia da liberdade, pelas bandas do Maria Matos libertaram-se os demónios sonoros de Ben Frost, um músico australiano que mora para os lados da Islândia, como que a fazer jus à frieza da sua música e do seu apelido. Depois de editar “By the Throat” em 2009, obra que veio apresentar em Lisboa, não faltaram elogios à obra, mormente da parte de Tim Hecker, cuja música partilha muitos pontos em comum.


Num Maria Matos com mais de meia casa e pouco depois das 22 h, o singelo Ben Frost assoma ao palco, descalço, acompanhado pelo contrabaixista Borgar Magnason, e sentado ao piano lança um lacónico “Sorry we're late” começando uma troca de notas musicais com o contrabaixo arranhado por um arco produzindo sons minimalistas naquele que seria o único momento integralmente acústico do concerto. A partir daí Frost aproxima-se do portátil Macintosh e da bateria de amplificadores para, ao correr do momento, ir construindo uma sequência de paineis sonoros que deambulam entre um minimalismo noise, a mistura de ruído digital, loops do som do contrabaixo (sempre tocado com arco), passando a espaços pela guitarra (usada parcimoniosamente e sujeita aos mesmos tratamentos) e pelo piano. Os momentos variam entre o discreto olhar de uma paisagem idilicamente transformada em ambiente dark, até à produção sonora intensa com níveis de volume de fazer inveja às bandas de metal. As paisagens, como By The Throat já o indiciava, são frias e inóspitas com o contabaixo a soltar os uivos lancinates de uma alcateia no penúltimo tema da noite. A sequência de temas não deixa espaço a respirações, e o público apenas num momento apanha uma aberta para lançar umas palmas que são basicamente ignoradas por representarem uma distração ao que se estava a passar em palco. Tal como numa obra orquestral dividida em vários movimentos, as manifestações de agrado e aprovação foram por isso deixadas para o fim. No ar fica uma sensação de estranheza afim de performances deste género, uma vez que o objectivo não é produzir melodias mas sim causar sensações e cada um de nós imaginar as paisagens que os sons sugerem, onde mesmo o simples olhar para o palco e para os músicos pode constituir em si uma distracção. Em qualquer dos casos, as paisagens nunca serão agradáveis nem quentes, antes pelo contrário. São momentos de intensidade que cada espectador vive de maneira diferente e não deixa lugar a escolhas dúbias. Ou se gosta, ou não se gosta. Ao contrário também do já mencionado Tim Hecker, a música de Ben Frost é bem mais crua e despojada de tonalidades melódicas. O resultado porém, mereceu inteiramente a deslocação e o pouco mais de uma hora de actuação.

(4/5)

Monday 11 April 2011

AMI, ou Assim se Mostra a Independência

O que dizer das notícias que vieram a público dando Fernando Nobre como cabeça de lista por Lisboa pelo PSD e candidato do mesmo partido a Presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado?

Nunca em todos os actos eleitorias em que participei tive dúvidas em quem votava. As coisas sempre estiveram, para mim, claras como água. A excepção deu-se nas últimas Presidenciais onde me senti perdido sem saber em quem votar, não me revendo minimamente em nenhum dos candidatos a Presidente da República Portuguesa. Estando ainda recenseado na freguesia onde vivem os meus pais, desloco-me religiosamente em todos os actos eleitorais para exercer o meu direito. Naquele dia, não foi diferente. O que foi diferente foi a constante dúvida que me assaltava a cabeça sobre onde iria eu colocar a cruz do meu voto. O princípio de deixar o boletim em branco nunca me agradou e nunca o havia feito, por isso, não era agora que o iria fazer. Apenas dois nomes tinham algumas hipóteses de receberem a minha aprovação, embora contrariada em ambos os casos. A dúvida persistiu até à mesa de voto e no instante em que tinha a caneta na mão e o boletim à minha frente, a decisão foi tomada tal como uma bola que está no topo de uma colina e, por circunstâncias meramente locais, acaba por deslizar por um dos flancos. A cruz recaíu em Fernando Nobre. Não sei se o acto foi consciente ou inconsciente, embora seguramente tenha havido uma nesga de consciência no mesmo. Afinal, descontando as trapalhadas que saíram da boca de Fernando Nobre durante a campanha eleitoral, e não foram poucas, acreditei, ainda que por um breve momento que fosse, que Fernando Nobre era o rosto da independência e a personificação daquilo a que se aproximava mais da dita sociedade civil. Um rosto tosco e algo trapalhão, mas ainda assim um rosto. Observei essa inépcia como uma forma genuina de alguém que, embora não talhado para o combate político, o fazia por um dever de cidadania e de esforço, tal como se empenha nas campanhas de terreno da AMI, ainda que com resultados bem diferentes. Creio que inconscientemente, foi essa crença que me decidiu de forma quase mecânica, a colocar a cruz onde ela acabou por ser colocada. Hoje essa crença esfumou-se, tal como se esfumou da mente da maioria dos seus apoiantes. E é em parcos segundos, os necessários para se ler o cabeçalho de um título de jornal e os primeiros parágrafos desta notíca, que o Dr. Fernando Nobre consegui destruir a sua imagem de independência e prestígio que lhe levou décadas a adquirir e da qual nunca recuperará. E isto porquê? Pela hipótese de ocupar o lugar de segunda figura do Estado Português? O que distingue os grandes homens e mulheres dos pequenos é que os primeiros talham a História à medida da sua ambição, os outros deixam-se talhar pelos acontecimentos, e desses não restará memória de que alguma vez tenham existido. Paz à sua memória, Dr. Fernando Nobre.

Sunday 10 April 2011

Swans @ Aula Magna


Ontem foi o dia de uma das mais míticas bandas americanas de 80s pisar o palco da Aula Magna, os Swans de Michael Gira. Apesar de não fazerem parte do lote de bandas que enchem salas com facilidade, a Aula Magna apresentava-se razoavelmente composta para os receber, fruto seguramente dos largos anos de actividade da banda (pese embora a interrupção) fomentando uma legião de admiradores que já vai cruzando várias gerações. Da parte que me toca, o encontro veio em finais de 80 até ir residindo um pouco no esquecimento. Renascidos em 2010 com um disco cuja atenção me foi despertada pelo concerto, constituiu assim uma oportunidade de os ver ao vivo, para constatar in loco a intesidade do seu experimentalismo sónico.


Antes porém, a primeira parte deu-nos uma agradável surpresa com os powerdove de Annie Lewandowski que, fazendo-se acompanhar por um guitarrista e tocando ela própria por vezes uma guitarra acústica de menores dimensões, presenteou o público com um punhado de canções melodiosas de uma pop/folk luminosa, com um suporte musical minimalista, de adorno sóbrio e sustentado por sequências de acordes simples, ou notas soltas tocadas de forma espaçada e lenta deixando à voz o desenho principal das canções. A voz essa, apresentava-se frágil mas segura, como se se dirigisse apenas para um punhado de amigos. A grandeza da sala contrastava enormemente com o intimismo da performance, mas ainda assim, notou-se uma aprovação maioritária por parte do público. Os powerdove editaram este ano o seu primeiro longa duração, Be Mine, pela Square Records, e direi que vale a pena fazerem-lhe uma visita.


Após esta introdução de tons tão suaves ninguém suspeitaria a enorme descarga energética que se seguiria. Arrancando já às 22h com um drone contínuo que teimava em persistir sem ninguém em palco (o que parecia já incomodar algumas gentes do público), os músicos dos Swans foram entrando, um a um, espaçadamente em palco construindo sobre o drone inicial um conjunto de estruturas rítmicas sucessivas que terminaram com a entrada de Gira dando assim termo a 30 minutos de pura neurose sónica, incluindo a reinterpretação do tema de abertura do seu último álbum, “No Words/No Thoughts”. E é de reinterpretação que aqui se fala, pois as estruturas melódicas das canções estavam reduzidas ao esqueleto, soterradas numa imensidão de desgarga sonora rítmica de guitarras distorcidas comandadas ao ritmo da bateria e percursões. Esta carga sonora foi levada a uma intesidade tal que era impossível não nos sentirmos quase hipnotizados pela sequências rítmicas repetitivas e densas por vezes unindo dois e três temas de uma vez. Aqui não houve espaço para descanso e os músicos deram muito poucas tréguas ao público, parando por vezes para receber uns aplausos, ou quando finalizado o primeiro tema Gira convida os presentes a ocuparem as cadeiras vazias das doutorais, ou já no final quando apresenta os seus cúmplices em palco. Também não houve lugar a destaques, menção talvez ao baterista que ía comandando os ritmos com um frenesi incansável, tudo sob a batuta de Gira que, várias vezes, ía dando instruções à banda como se de uma orquestra se tratasse. E foi de facto uma comunhão impressionante o que se assistiu em palco e confesso que nunca tinha presenciado a algo semelhante por parte de uma banda ao vivo. Notável também a performance de Thor Harris nas percursões e vários outros instrumentos, incluindo de sopro. Impossível ter saído indiferente deste concerto. Impossível ficarmo-nos por meias-impressões. Foi quase uma descida aos infernos sonoros, sublinhada por um imperativo “Jesus, come down” que Gira solta no final do segundo tema. E assim continuou por 2 horas. Esmagador, é o mínimo que me ocorre dizer. Quanto aos Swans, ainda parece estar longe o seu canto do cisne.

4,5/5