Thursday 28 February 2008

Songs in A & E


Dou conta de, ultimamente, andar a falar muito dos Spiritualized apesar de serem uma referência tardia. O disco “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space” foi a magistral porta de entrada no Universo de Jason Pierce (ou J. Spaceman, como preferirem), dando-nos uma lufada de sons e arranjos musicais inebriantes que nos encantam a cada nova audição, tendo ainda a particularidade de nos levar a descobrir novas paisagens de cada vez que colocamos o CD no leitor respectivo. Pois bem, a curiosidade pessoal pelos Spiritualized andou mais em back-tracking do que propriamente em fast-forward, e até ao momento tem sido deveras compensadora. Não prestei muita atenção ao que veio depois do “Senhoras e Senhores Nós Estamos a Flutuar no Espaço” mas agora, que Jason Pierce parece recuperado de um problema de saúde que o atormentou durante muito tempo, surgem novas sobre o anunciado novo registo dos Spiritualized, com o título “Songs in A & E”, a sair em 26 de Maio de 2008. Suponho que o A e o E sejam referências a notas musicais (Lá e Mi respectivamente), mas não deixei de notar a coincidência com o título do horroroso single de avanço do último registo dos Goldfrapp. Esperemos que as coincidências se fiquem por aqui, e é certo que as qualidades do frontman dos Spiritualized parecem demonstrar que é daqueles tipos que não é capaz de fazer maus discos, somente discos menos bons.

Entretanto, a 19 de Maio estaremos seguramente com a Alma em Fogo!

Tuesday 26 February 2008

Um Sistema Solar Gémeo?

Descobrir exoplanetas (planetas noutros sistemas solares) não é uma tarefa fácil e muito menos directa. Alguns dos métodos usados baseiam-se na medição da luminosidade de uma estrela durante um certo período, detectando diminuições periódicas na sua luminosidade reflexo, precisamente, do trânsito de um planeta que orbita essa estrela bloqueando, temporariamente, uma certa quantidade de luz que deveria chegar até ao telescópio onde fazemos as observações. Outro método comum recorre a pequenas oscilações na posição da estrela resultado da interacção gravitacional entre esta e potenciais planetas que a orbitam. Em qualquer dos casos, as medições são difíceis e têm a desvantagem de serem principalmente sensíveis para planetas com uma certa dimensão e períodos orbitais curtos. Por isso mesmo, uma grande parte dos planetas descobertos correspondem ao que se designa por “Júpiters quentes” (hot Jupiters), não só devido à sua dimensão mas também ao facto de orbitarem a distâncias consideravelmente inferiores à que orbita o planeta Júpiter no nosso Sistema Solar.


Recentemente, Scott Gaudi da Universidade Estadual do Ohio, recorrendo à análise do efeitos de “lente gravitacional” na luz emitida por uma estrela, descobriu não um, mas dois planetas num outro sistema solar, com a incrível coincidência de possuirem massas e posições equivalentes às dos planetas Júpiter e Saturno no nosso Sistema Solar. O nome que o sistema recebeu foi o muito instrutivo OGLE-2006-BLG-109L, tendo a descoberta sido publicada na revista Science. O efeito de “lente gravitacional” é o efeito que uma dada quantidade de matéria provoca na trajectória de um raio de luz que passa nas suas imediações. Desde que Einstein formulou a Teoria da Relatividade Geral que o efeito de “lente gravitacional” é conhecido como uma consequência da mesma. Ou seja, se existir uma grande acumulação de matéria numa dada região do espaço-tempo, esse mesmo espaço-tempo encontra-se deformado tal como uma bola deforma a superfície de uma membrana elástica sobre a qual repousa. A luz que atravessa essa mesma região segue exactamente o percurso mais curto entre dois pontos no espaço-tempo o que significa que a sua trajectória se “encurva” nas imediações dessa acumulação de matéria. Esta “curvatura” não é uma verdadeira curvatura, da mesma forma que se quisermos viajar de avião de Lisboa até Vancouver o piloto traça uma linha recta sobre a superfície terrestre, que por sua vez é uma superfície esférica. Daí que, estando nós habituados a olhar para mapas dos continentes (projecções planas), sejamos tentados a assinalar essa rota unindo com uma régua os pontos de partida e de chegada. No entanto, a verdadeira rota do avião traduz-se por uma linha curva que quase passa pelo Polo Norte até chegar ao seu destino, precisamente porque a superfície de referência não é um plano mas uma esfera.

Quanto à razão pela qual esta descoberta é particularmente excitante, apenas remeto para este post que já escrevi por aqui há um tempo.

Monday 25 February 2008

A Máquina Mole











Os Soft Machine, comumente associados à cena de Canterbury de onde eram oriundos, são uma das foças criadoras do então rock psicadélico em finais de 60, mas haveriam de enveredar rapidamente por uma corrente do rock progressivo remexendo nas raízes do jazz e tornando-os pioneiros no género jazz-rock e de fusão. Já referidos aqui no estabelecimento uma vez, vêm a propósito de ter lido recentemente, no suplemento ípsilon, uma referência à distribuição em Portugal das reedições dos dois primeiros registos dos Soft Machine: o seu primeiro disco homónimo e o designado “Volume Two”. Nada mais oportuno dada a edição em 2007 de originais de dois dos seus fundadores: Robert Wyatt e Kevin Ayers. Do segundo pouco conheço, para além da sua participação no mítico disco ao vivo “June 1, 1974” que juntou, para além de Kevin Ayers, Brian Eno, John Cale e Nico tendo ainda as colaborações de Mike Oldfield e de Robert Wyatt. Quanto a Robert Wyatt, tendo uma obra algo marginal aos principais circuitos comerciais, seguiu um rumo muito próprio e coerente que lhe reserva um lugar entre os músicos a quem o tempo não causa mazelas. O último “Comicopera” (para ser lido como Comic Opera), é ainda herdeiro de muito do que os Soft Machine propuseram no já distante final da década de 60. Nos Soft Machine, Ayers não passaria do primeiro registo do grupo, enquanto que Wyatt se manteria apenas até ao terceiro que, diga-se, é uma pena não estar incluído no lote. Para além de terem sido saídas difíceis, o caso de Wyatt ainda regista em 1973 uma infeliz queda da janela de um apartamento, completamente embriagado, tendo ficado paraplégico (e não tetraplégico, como refere a peça do suplemento ípsilon) e confinado a uma cadeira de rodas. Um acidente que mudou a sua vida e um momento bem marcado pela edição do disco “Rock Bottom” em 26 de Julho 1974, o qual inicia um périplo de excelentes obras musicais frequentemente partilhadas com a sua companheira de sempre, Alfreda Benge, autora também do grafismo das obras e com a qual casou nesse mesmo dia. Essa mesma data, aniversário do ataque a Moncada pela revolução cubana em 1953, não é um mero acidente mas mais um reflexo do seu activismo e militância política a qual permeia os seus discos posteriores.


Uma oportunidade para (re)descobrir esta excelente banda: os Soft Machine.

Wednesday 20 February 2008

Um Porto de Abrigo

Uma amiga da blogosfera vai partir e não pode levar consigo um companheiro que muito estima. É um pedido que aqui fica para quem possa ajudar, dar uma solução ou simplesmente divulgar.


Já tenho um novo lar...

Para me conhecerem.

Para me contactarem: yellowastronaut@gmail.com

Sunday 10 February 2008

Balanescu Quartet @ CCB (7 de Fevereiro de 2008)

Após um longo jejum de concertos, acabei por iniciar o ano cruzando-me com velhos conhecidos: o Balanescu Quartet. Segundo os promotores, a Incubadora d'Artes, tratava-se de um retorno após 10 anos de ausência dos nossos palcos. Pelos vistos, a promotora deve achar que a Casa da Música fica no Burkina Faso, e talvez uma leitura do blogue do Puto elimine equívocos desnecessários. Passaram, de facto, quase 10 anos desde que eu os vi numa actuação ao ar livre que me deixou siderado. Não estava à espera das mesmas sensações, não só porque as condições são completamente diferentes mas também porque há sempre algo de irrepetível nos momentos que consideramos admiráveis. O mesmo não parece ter pensado a maior parte da assistência. Para iniciar a noite, sinto logo que sou mal recebido, pois no momento em que me dirijo aos assistentes para me sentar pesou à minha volta uma certa aura pedante, que me deixa uma triste consternação pelas atitudes provincianas desta ambiência lisboeta. Já durante o concerto ainda haveria de me deliciar interiormente com um sorriso irónico pela cereja em cima do bolo deste peculiar ambiente, irrepreensivelmente colocada pela maioria da assistência, na ignorância que nunca se deve aplaudir uma obra musical entre os seus andamentos. Entre isto e o tipo com o Mercedes topo de gama, exibindo a pulseira dourada a chocalhar no relógio metalizado vindo da feira da ladra, óculos escuros, e anel vistoso no dedo mindinho, não há muita diferença.


O Balanescu Quartet entrou em palco a horas, com Alexander Balanescu (mais o seu inseparável chapéu negro) e Kathryn Wilkinson nos violinos (pena não ter a Clare Connors, que era uma das forças criativas do grupo), James Shenton na viola e Nicholas Holland no violoncelo. Dividido em duas partes, o concerto inicia-se com Alexander Balanescu a fazer a introdução aos temas. O espectáculo começa com uma longa peça musical, a última que Alenxander Balanescu compôs para uma performance de um artista da República Checa. É uma suite com 6 andamentos e bastante agradável de seguir, possuindo momentos de grande tensão e dramatismo, fazendo por vezes uso do diálogo entre instrumentos e opondo sequências musicais com predomínio de graves alternadas com sequências onde predominam os agudos. Nas partes mais convencionais nota-se que Alexander Balanescu tem muita dificuldade em se despir das referências de Michael Nyman. Quanto às pausas nas peças musicais com andamentos, estas fazem parte do seu discurso e como tal devem ser respeitadas e não interrompidas, mas a maioria da assistência fez questão de ignorar o assunto por 5 vezes. Após um curto intervalo, o quarteto volta ao palco, agora para nos brindar com peças musicais mais afins da obra editada disponível. Começa com um dos primeiros temas compostos por Alexander Balanescu para o quarteto, uma espantosa canção, dita de amor, que deriva rapidamente para um universo mais caótico e dissonante, num registo que me fez lembrar a sua actuação de 1998. Seguiram-se duas peças do último trabalho editado de originais, “Maria T” (2005), “Aria” seguido de um tema com referências ao folclore Romeno. As duas composições seguintes provinham do álbum “Luminitza” (1994), porventura o seu trabalho mais consistente. O quarteto apresentou o tema “Still With Me”, num arranjo que usou música gravada para colmatar as naturais limitações que uma formação deste género tem para produzir todas as sonoridades originais do tema. Foi o momento fraco do concerto, pois a mistura simplesmente não resultou ao vivo e deixou no ar um quê de artificial. A seguir os músicos pegaram na excelente peça “Luminitza”, que dá o título ao álbum e pode dizer-se que, aqui, ganharam o público, apesar de terem estado um tanto ou quanto embrulhados na parte final da peça. Mas acabaram por se saír bem, a ponto de arrancarem uma ovação que os obrigou a voltar ao palco. O concerto terminou com a adaptação do tema “The Model” dos Kraftwerk. A julgar pela reacção espontânea do público aos primeiros acordes, era no fundo isto que a esmagadora maioria estava à espera. Saíram seguramente algo desiludidos, mas ainda bem, pois não considero que esta seja a mais interessante das facetas que o Balanescu Quartet podia ter trazido. Nota negativa para a acústica da sala conjugada com o sistema de som, que por vezes engordava os graves do violoncelo raiando a distorção, o que se tornava desagradável ao ouvido de quem se encontrava na plateia.

Resultado: um bom concerto, merecedor de uns 3,5/5.

Thursday 7 February 2008

Shine a Light










Cinema e música de mãos dadas não é propriamente uma novidade, embora nem sempre venha acompanhado da melhor receita. Vem isto a propósito do recentemente estreado (4 de Fevereiro nos cinemas do Tio Sam, segundo rezavam umas crónicas por aí) filme-documentário de Martin Scorcese sobre os Rolling Stones, de seu título “Shine a Light”. Acima de tudo é uma reunião de dois ícones monumentais em cada uma das expressões artísticas. Scorcese conta-se entre os mais académicos cineastas da actualidade, com uma obra consistente que guarda já presença cativa no panteão dos clássicos futuros. Os Rolling Stones são o exemplo paradigmático dos tubarões da música, aquela espécie altamente eficaz que sobreviveu quase incólume ao agitado desenrolar da história da Terra, a que nem os dinossáurios resistiram, desde os tempos em que por aqui apareceram peixes pela primeira vez. Por cá fala-se que o documentário chegará em Abril, mas esperemos que não seja no dia 1.

E porque o título é tambem o de uma composição dos Spiritualized, quando J. Spaceman (a.k.a . Jason Pierce) decidiu dar corpo a uma banda que em 1992 edita o seu primeiro trabalho, “Lazer Guided Melodies”, a antecipar o magistral “Ladies and Gentlemen we are Floating in Space”, aqui fica em exposição lateral a beleza melancólica e distorcida das guitarras com saxofone dos Spiritualized. Esta é também uma singela homenagem aos vultos que se uniram para fazerem reluzir mais uma luz: Martin Scorcese e os Rolling Stones (Mick Jagger, Ron Wood, Keith Richards, Charlie Watts, Bill Wyman e não esquecendo o malogrado Brian Jones).

Ainda apanhei este clássico:

The Rolling Stones - shine a light


Found at skreemr.com


The Rolling Stones - "Shine a Light", Exile on Main St. (1972)

Wednesday 6 February 2008

Faces Ocultas


A sonda Messenger anda a explorar o planeta mais próximo do nosso Sol: Mercúrio. Em resultado dessa missão, chegaram recentemente imagens da sua superfície nunca antes observada (imagem superior; clicar na imagem para ver em detalhe). Para além das simples imagens, observa-se uma superfície, cuja actividade parece bem mais interessante e activa do que se julgara anteriormente (imagem inferior; clicar na imagem para ver em detalhe). O aspecto mais óbvio são as sua inúmeras crateras, tal como as da nossa lua, resultado do impacto de objectos celestes de dimensão variável. A sua observação cuidada permite inclusivamente traçar uma cronologia relativa destes eventos, através das relações de sobreposição entre as diferentes estruturas morfológicas. Nos bordos de algumas dessas crateras, e em especial da que se encontra no canto inferior esquerdo, observa-se a dispersão de material na sua superfície sugerindo que essa mesma dispersão tenha ocorrido através de um meio fluido. Outro aspecto deveras interessante é a estrutura linear que se observa com uma orientação nordeste-sudoeste e que corresponde a uma escarpa em resultado da deformação da superfície do planeta por forças compressivas, sugerindo o que de mais próximo podemos imaginar aos processos tectónicos na Terra, que moldaram, entre outras coisas, as nossas cadeias de montanhas. Finalmente, a cratera que se observa no canto superior direito terá sido das últimas estruturas a serem formadas, dada a dispersão radial dos materiais que se observa em resultado do impacto que a originou.


Notícias sem dúvida interessantes, e mais um passo para o conhecimento dos nossos vizinhos (ainda) muito desconhecidos.

Imagem da superfície adquirida durante a primeira passagem da sonda em 14 de Janeiro de 2008, a 11 588 km da superfície do planeta Mercúrio.

Fonte (informação e imagens): NASA / Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory / Carnegie Institution of Washington