Tuesday 26 February 2008

Um Sistema Solar Gémeo?

Descobrir exoplanetas (planetas noutros sistemas solares) não é uma tarefa fácil e muito menos directa. Alguns dos métodos usados baseiam-se na medição da luminosidade de uma estrela durante um certo período, detectando diminuições periódicas na sua luminosidade reflexo, precisamente, do trânsito de um planeta que orbita essa estrela bloqueando, temporariamente, uma certa quantidade de luz que deveria chegar até ao telescópio onde fazemos as observações. Outro método comum recorre a pequenas oscilações na posição da estrela resultado da interacção gravitacional entre esta e potenciais planetas que a orbitam. Em qualquer dos casos, as medições são difíceis e têm a desvantagem de serem principalmente sensíveis para planetas com uma certa dimensão e períodos orbitais curtos. Por isso mesmo, uma grande parte dos planetas descobertos correspondem ao que se designa por “Júpiters quentes” (hot Jupiters), não só devido à sua dimensão mas também ao facto de orbitarem a distâncias consideravelmente inferiores à que orbita o planeta Júpiter no nosso Sistema Solar.


Recentemente, Scott Gaudi da Universidade Estadual do Ohio, recorrendo à análise do efeitos de “lente gravitacional” na luz emitida por uma estrela, descobriu não um, mas dois planetas num outro sistema solar, com a incrível coincidência de possuirem massas e posições equivalentes às dos planetas Júpiter e Saturno no nosso Sistema Solar. O nome que o sistema recebeu foi o muito instrutivo OGLE-2006-BLG-109L, tendo a descoberta sido publicada na revista Science. O efeito de “lente gravitacional” é o efeito que uma dada quantidade de matéria provoca na trajectória de um raio de luz que passa nas suas imediações. Desde que Einstein formulou a Teoria da Relatividade Geral que o efeito de “lente gravitacional” é conhecido como uma consequência da mesma. Ou seja, se existir uma grande acumulação de matéria numa dada região do espaço-tempo, esse mesmo espaço-tempo encontra-se deformado tal como uma bola deforma a superfície de uma membrana elástica sobre a qual repousa. A luz que atravessa essa mesma região segue exactamente o percurso mais curto entre dois pontos no espaço-tempo o que significa que a sua trajectória se “encurva” nas imediações dessa acumulação de matéria. Esta “curvatura” não é uma verdadeira curvatura, da mesma forma que se quisermos viajar de avião de Lisboa até Vancouver o piloto traça uma linha recta sobre a superfície terrestre, que por sua vez é uma superfície esférica. Daí que, estando nós habituados a olhar para mapas dos continentes (projecções planas), sejamos tentados a assinalar essa rota unindo com uma régua os pontos de partida e de chegada. No entanto, a verdadeira rota do avião traduz-se por uma linha curva que quase passa pelo Polo Norte até chegar ao seu destino, precisamente porque a superfície de referência não é um plano mas uma esfera.

Quanto à razão pela qual esta descoberta é particularmente excitante, apenas remeto para este post que já escrevi por aqui há um tempo.

4 comments:

O Puto said...

Isso não era conhecido com o fenómeno de paralaxe?

strange quark said...

Benvindo pré-aniversariante...

Bem, paralaxe é a variação da posição relativa de um objecto num dado fundo fixo por via de ser observado de dois pontos distintos. É como quando fechamos, alternadamente, o olho direito e esquerdo os objectos que nos estão mais próximos parecem "mudar de posição".

O efeito de lente gravitacional provoca inclusivamente duplicação da imagem de um objecto, muito embora o efeito final seja equivalente ao da paralaxe no sentido em que a posição aparente do objecto se encontra "deslocada" no fundo cósmico. Imaginemos um objecto maciço que esteja no caminho da luz que provém de uma estrela distante até nós. O percurso da luz pode ser desviado através de ambos os lados do corpo maciço, daí que nós vejamos a estrela em duplicado. Outro efeito comum é a ocorrência de arcos luminosos resultantes da deformação da imagem de galáxias distantes.

Lente Gravitacional
Paralaxe

extravaganza said...

Paralaxe ou seja lá o que for, eu mudava-me já para laxe! :)

(Estas coisas lidas em português são muito mais claras. Tenho um bocado de dificuldade com o pensamento abstracto... :s)

strange quark said...

Laxe é fixe... é um local onde cada um de nós vê as coisas em função do sítio onde está e onde os diferentes pontos de vista são perfeitamente reconciliáveis.

O problema é que ainda não vendem bilhetes para lá(xe)... :))