Wednesday 28 March 2007

O Portugal dos Pequeninos

Ao que consta, no último Domingo teve lugar uma votação que serviu de pretexto para eleger a personalidade de um português que, no fundo, foi bem pequenino. Este português teve a capacidade de moldar o país ao seu estilo de tal forma que, ainda hoje, encontramos marcas fortes na sociedade, ou não fosse o resultado desta peculiar votação reflexo disso mesmo. Esta personagem tinha também características assaz peculiares.

Tinha medo de saír de casa, e crê-se que o mais longe que se aventurou para fora do país foi a Badajoz.

Era poupadinho e guardava o dinheiro debaixo do colchão e nunca investiu no país e muito menos nas pessoas.

Não apreciava que as pessoas fossem à escola, pois achava que deviam dar o corpo ao trabalho bem cedo na vida. A Vida era a Universidade do povo.

A pobreza, cultural e material, a que os portugueses estavam votados era o maior garante da sua própria permanência no poder.

Rezava diariamente 3 pais nossos e 2 avé marias e assim mandava que se fizesse por todo o seu reino.

Mandava prender e matar quem o dasafiasse e se atrevesse a pensar de maneira diferente.

Castigava todos os mal comportados, cujo único crime era terem uma visão de modernidade para a sua vida e para a terra onde nasceram.

Tudo ainda sob a benção de uma igreja que se confundia com o estado e com o peso de séculos de atraso.

Gostava do mofo e do bafio, e fez com que impregnassem as entranhas do povo.

O direito de expressão, apesar de ilusório, só era permitido aos bons chefes de família.

Às mulheres não permitia acessos de autonomia e liberdade de movimentos sem consentimento do marido a quem deviam o voto de obediência eterno.

Fez do fado o triste fado de muita gente, assim como de Fátima e do futebol o ópio do povo.

Para defender terras distantes que não eram suas fez a guerra por uma ideia de império apodrecida e nunca percebeu que os sinais do tempo mandavam agir de forma diferente.

Era avesso à novidade, à boa disposição, à alegria, à liberdade, ao pensamento, à descoberta, à luz, no fundo, à vida.

Agora digam-me sinceramente: o português pequenino, mesquinho, invejoso, de vistas curtas, beato, parolo, teria escolhido outra personagem? Não creio. É por isso que eu, pessoalmente, tenho mesmo muito orgulho em ser diferente. Quanto ao que se passou no Domingo, por uma questão de dignidade e boa educação da minha parte, direi apenas que foi patético e infeliz.

Sunday 25 March 2007

A Insustentável Irresponsabilidade do Ser


Agora que estou numa vertente dada às alterações climáticas, não quero deixar passar em branco as declarações do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), Mariano Gago que, segundo a revista Visão, terá proferido publicamente que o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) é um “...fórum das Nações Unidas onde se vota o aumento da temperatura”. Isto num debate no Parlamento sobre as alterações climáticas e as energias renováveis. Para compor o ramalhete, ainda afirmou que as previsões do IPCC se baseiam em modelos climáticos que não estão validados.

Estas afirmações, de um alto irresponsável político, que ainda por cima tutela a ciência em Portugal requerem que se faça um esclarecimento:

1. Eu não sei se o IPCC vota ou não as temperaturas, embora saiba que o IPCC é, por vezes, refém de governos e interesses económicos. As conclusões que o referido grupo tem emanado, se sujeitas a referendo conforme acusa o ministro, não serão seguramente para os piores cenários o que, bem vistas as coisas, ainda me deixa mais preocupado. A adminsitração Bush tem sido perita em abrir guerras com as suas comissões científicas sobre estas matérias, “obrigando-as” a produzir relatórios mais benevolentes para o real estado do ambiente e perspectivas futuras, sabendo-se a petróleo-dependência da economia americana;

2. O ministro Mariano Gago, enquanto titular de cargo político deveria, pois, saber que há afirmações que não podem pura e simplesmente ser proferidas desta maneira. Mais, enquanto cientista que afirma ser (ou foi, sei lá) tem a obrigação de saber, e se não sabe então ainda mais grave é a situação, que os modelos climáticos ou outros relativos a sistemas complexos e caóticos NUNCA são passíveis de ser validados nem verificados. Somente por manifesta FALTA de CULTURA científica e, já agora, filosófica é que se faz tamanha afirmação. Sr. Ministro, se quiser terei todo o gosto em lhe dar as referências bibliográficas que necessita para estar mais bem informado sobre o assunto.

Ironicamente, ou não, na mesma revista umas páginas adiante noticia-se o êxodo dos habitantes de Tuvalu, um arquipélago no Pacífico que, a confirmarem-se as actuais tendências das alterações climáticas verão a terra onde nasceram submersa daqui por uns anos. Nessa altura, será certamente o lugar ideal para onde o Estado Português o poderá enviar para passar a sua reforma. Desejo-lhe por isso uma longa vida para poder desfrutar as belezas do Pacífico. I mean it!

Thursday 22 March 2007

Alterações Climáticas: Um “Rough Guide” (I)

Conforme prometido, vou iniciar um conjunto de textos que pretendem esclarecer o melhor que me é possível, algumas das questões que se podem colocar à generalidade das pessoas sobre a matéria das alterações climáticas. Vou começar por mencionar três acontecimentos recentes que podem traduzir a complexidade do tema e alguma confusão que normalmente paira sobre a imprensa (esclarecida e menos esclarecida). Quando coloquei aqui o primeiro texto sobre este assunto, o centro da Europa tinha sido fustigado por uma tempestade bem violenta de que resultaram cerca de 30 vítimas. Mais recentemente, os meios noticiosos vêm mostrando o triste panorama de erosão do litoral na Costa de Caparica e em Esmoriz. No momento em que venho escrevendo estas palavras, tivemos uns dias anormalmente quentes para a época. Três situações, uma só causa? Não! Destas três situações descritas, somente a erosão costeira suscitou uma preocupação de debate sobre alterações climáticas na imprensa nacional, e conjecturas sobre a subida do nível do mar. Pois bem, de todas elas esta é, muito provavelmente, a que nada terá a ver com alterações climáticas, mas somente com a imbecilidade de quem deveria cuidar do ordenamento do território. Ainda agora, em vez de reconhecerem o que sempre esteve mal, ou seja, construir selvaticamente em cima da praia, gritam impropérios contra o INAG ou qualquer outro instituto estatal que possua os requisitos mínimos de não ter rosto e ter as costas largas. E lá vão fazendo remendos e paliativos que, para além de caros, nunca vão resolver o problema, ou seja, são sempre uma não-solução. As nossas praias são sistemas dinâmicos, em que a areia é transportada normalmente na direcção sul (olhem para um pontão ou uma baía na costa e vejam de que lado se acumula mais areia). Todo o sistema dinâmico se encontra num equilíbrio transiente desde que os fluxos de saída forem compensados pelos fluxos de entrada. Ora, com a construção de barragens em vários rios as areias fluviais há muito que deixaram de chegar ao mar e, por isso, de alimentar as praias. Quanto aos dias quentes que temos tido não têm sido notícia, mas também nada significam embora seja fácil (ou mesmo tentador) fazer a associação com as alterações climáticas e o aquecimento global. Esta associação pode ter tanto de real como de imaginário, simplesmente não é possível dizer nada sobre o assunto. Quanto à tempestade violenta de Janeiro, as causas já são mais preocupantes não pelo evento singular em si, mas por o registo do número de tempestades violentas ter vindo a aumentar há vários anos. Aliás, não é por acaso que as seguradoras foram das primeiras empresas a apoiar os estudos sobre alterações climáticas. E porque podem aumentar as tempestades violentas? Simplesmente porque se a temperatura média global aumentar implica, por exemplo, que a taxa de evaporação aumente e, consequentemente, também o ritmo do ciclo hidrológico.

O Efeito de Estufa

Começemos com o efeito de estufa para dizer, em primeiro lugar, que é bom que exista. Se assim não fosse, todo o Planeta Terra era uma imensa Sibéria com uns (des)agradáveis –30ºC de temperatura. Mas então o que é, de facto, o efeito de estufa? É o efeito de aquecimento da atmosfera resultante de alguns dos seus gases absorverem radiação infravermelha impedindo a sua total libertação para o espaço. A radiação infravermelha tem um comprimento de onda maior que o da luz visível (diz-se “abaixo” do vermelho porque, como já se mencionou aqui, quanto maior o comprimento de onda menor a sua frequência), e se colocarmos a nossa mão uns centímetros acima de uma superfície que esteve ao Sol sentimos essa radiação sob a forma de calor. Pois bem, da quantidade de energia que a Terra recebe do Sol, parte é reemitida para a atmosfera sob a forma de infravermelhos. É aqui que os gases ditos de efeito de estufa são fundamentais no processo uma vez que as suas ligações químicas vibram em ressonância com esses comprimentos de onda e por isso os absorvem, impedindo assim que tudo se escape para o espaço exterior mantendo uma temperatura agradável durante o período em que a superfície terrestre não recebe luz directa do Sol. Esses gases são, por exemplo, o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o vapor de água (H2O) que é, aliás, o pior deles todos (outros exemplos incluem o óxido nitroso e os famosos CFC’s – da destruição da camada de ozono). No entanto só se menciona o CO2, que dos três é o que possui um poder de efeito de estufa (greenhouse warming power) menor, e porque é que será? Em primeiro lugar, o vapor de água é o nosso gás de efeito de estufa natural e encontra-se na atmosfera, em parte, sob a forma de nuvens que são brancas. Ora essa característica ajuda a reflectir a luz visível do Sol que incide na Terra (albedo), tendo por isso um efeito atenuante ao aquecimento. Um dia nebulado tem temperaturas bem mais baixas que sob as mesmas condições um dia com céu limpo. O metano não é um gás muito abundante, embora tenha aumentado a sua concentração de 0.8 ppmv para 1.7 ppmv (partes por milhão por volume) de 1850 até 2000. Além disso é instável e fortemente reactivo na atmosfera e oxida-se (para CO2 e H2O) ao fim de um certo tempo. O seu tempo de vida na atmosfera é de cerca de 10 anos. O CO2, pelo contrário, tem um tempo de vida de 100 anos ou mais. Isto significa que cada molécula destas que um automóvel conduzido por nós libertar vai permanecer na atmosfera, em média, 100 ou mais anos (sobrevive à nossa própria longevidade). Em termos de concentrações globais, os gelos da Antárctica demonstram que a concentração máxima de CO2 desde há 400 mil anos foi de 280 (mais ou menos 5) ppmv correspondente aos períodos interglaciares, comparativamente aos 370 ppmv actuais. A relacção deste gás com o aumento da temperatura tem sido muito contestada, acrescendo ainda o facto de o sistema climático da Terra ser bastante complexo porque todos os pequenos factores que intrevêm no clima, no seu conjunto, podem ter acções mensuráveis e são difíceis de ser contemplados nos modelos climáticos, quanto mais não seja por uma questão de dimensão. Vejamos então este exemplo: depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o espaço aéreo dos EUA ficou interdito durante 2 dias, o suficiente para que a temperatura média atmosférica subisse até cerca de 2ºC. Surpreendidos? Pois bem, os rastos de condensação deixados pelos aviões têm exactamente o mesmo efeito das núvens, isto é, reflectem a luz solar e por isso ajudam a baixar a temperatura. Nesses dias sem aviões também não haviam rastos. Por aqui poderemos apreciar quão complexo se pode tornar este sistema, e quão importantes podem ser factores que não julgávamos sequer relevantes.

Terminemos por aqui a primeira digressão neste tema. Em digressões subsequentes irei dar conta dos registos do CO2 e temperatura, do clima no passado, do ciclo do carbono e de soluções para o futuro. Não sei ao certo quantos textos isto implica, mas depende da inspiração e do tempo disponível.

Monday 19 March 2007

O Regresso dos Mortos-Vivos

Não, não é mais um filme de terror mas um acontecimento que promete aterrorizar a nossa existência terrena. Como se sabe, está na moda certas bandas de música adquirirem um processo reconstrutivo à lá Extreminador Implacável (II acho eu...) e anunciarem que vão voltar aos palcos. Uns mais novos que outros, mas todos impelidos por um chamamento que não confessam verdadeiramente, mas que desconfio seja puramente mercantilista. E agora pergunto eu: por que raio é que tenho que suportar estes tipos quando o seu único intuito é encher os bolsos com uma massas? Para além disso alguns há por quem, em tempos, nutri grande admiração a qual ameaça perigosamente agora desmoronar-se.

As minhas leituras semanais de informação (que, diga-se, não são muitas mas também o que se informa por aí não vale a pena sequer saber... Provincianismos!) dão conta do regresso ao reino dos vivos dos Smashing Pumpkins, Police, Genesis e The Who. De salientar são as afirmações de alguns dos elementos destas bandas sobre este renascimento, senão vejamos: Sting afirma que um dia acordou e teve esta ideia como se tivesse sido iluminado. Raios! Eu a julgar que só a Alexandra Solnado falava a toda a hora com Deus, e afinal ainda lhe deixa tempo suficiente para iluminar o Sting. “Sting, amigo, acho que percebeste mal. O que esse momento de iluminação queria dizer é que não te passasse pela cabeça a ideia de contactar os teus velhos companheiros”. Já Phil Collins dos Genesis diz que é para as pessoas saberem quem são os Genesis. “Ó Phil, pá, o que o pessoal precisa é de se lembrar como eram os Genesis antes de 1975, não depois, e muito menos agora! Pega lá nas tuas lamechices e compõe música para atrasados mentais apenas para o teu consumo interno que o pessoal dispensa o teu esforço de enterrar ainda mais o nome da banda”. Ao que parece, Peter Gabriel ainda queria aceder à tentação, mas em boa hora esquivou-se. “Peter, amigo, continua assim e não sairás da minha lista de eleitos que ainda ouço com prazer”. Já Pete Townshend, o guitarrista dos The Who, avança um prazo de validade para o projecto: depois da digressão, os The Who são exorcisados e enterrados definitivamente para descansarem em paz onde nunca deviam ter saído (e por mim com uma estaca enfiada no coração, só para precaver). Cheira-me a que este rapaz diz estas coisas de forma tão sentida como o Alberto João Jardim relativamente a abandonar a presidência da Região Autónoma da Madeira.

Devo afirmar que as minhas memórias musicais de alguns destes grupos é, de facto, muito boa. Os Genesis, para mim, serão sempre um grupo muito especial muito por culpa de um irmão mais velho 8 anos, que bem cedo me punha a ouvir as composições destes rapazes na era Peter Gabriel. Foi uma marca que nunca mais desapareceu. Dos The Who lembro o magnífico “Who’s Next” e a portentosa entrada da voz de Roger Daltrey (uma das mais poderosas de todo o rock) no tema de abertura, “Baba O’Riley”. Já as suas óperas rock eram a dar para o enfadonho. Enfim... memórias!

Agora para o pessoal que até está preocupado em ser mais alternativo que o vizinho, eu aviso: muitos de vós, daqui por uns anos, são quem vai alimentar os concertos das digressões da trigésima encarnação dos Bloc Party, da vigésima sexta dos Interpol e da quadragésima quarta dos Muse. Espero que nessa altura também façam um exame de consciência e digam, “Não há pachorra!”.

Sunday 18 March 2007

Ora Toma...

... e embrulha! Por que é que julgam que este blog é verde?


Agora que me permiti este momento de pura manifestação clubística, posso elevar novamente o nível do blog. Até ao próximo post!

Friday 16 March 2007

O Mundo a Preto e Branco


Este post andava guardado há uns tempos largos. Numa revista de informação semanal, no passado mês de Dezembro de 2006, li que o actor Brad Pitt se encontra também na senda de produtor cinematográfico. De entre as propostas de argumentos que se propõe transpôr para a grande tela (ou LCD’s e demais variantes de consumo doméstico para quem compra os DVD's e já não coloca o rabo na cadeira de uma sala de cinema), encontra-se este “The Curious Incident of the Dog in the Night-Time”, escrito por Mark Haddon. Com a parafernália de títulos que invadem as livrarias num país que continua a apresentar índices de leitura vergonhosamente baixos, constitui para mim uma perplexidade a política editorial em Portugal! Devo desde já afirmar que estamos perante um livro de uma originalidade e sensibilidade extraordinárias. Bendita a hora em que aguardava uma ligação em Heathrow e entrei numa livraria onde folheei e comprei este livro, em Maio de 2005.

O autor apresenta-nos a história de um jovem, de seu nome Christopher, com o síndroma de Asperger, o qual é admitido por alguns especialistas como uma variante de autismo. No entanto, o livro é-nos servido como se tivesse sido escrito pelo punho de Christopher, dando-nos a sua muito peculiar perspectiva do mundo e das relacções humanas, fartas vezes incompreensíveis e desprovidas de lógica à luz do seu pensamento. A mente de Christopher não consegue entender as razões de uma mentira, o significado das anedotas (exceptuando uma!), ou o sentido das palavras em contexto figurado, simplesmente porque a sua estrutura de pensamento é de uma lógica literalmente matemática. Não é por acaso que Sherlock Holmes é o seu personagem preferido (com o qual, se presume, partilha algumas afinidades), e o título do “seu” livro teria que necessariamente conter uma referência à personagem criada por Sir Artur Conan Doyle, neste caso concreto, ao The Hound of the Baskervilles. Esta e outras particularidades tornam a sua sobrevivência no mundo numa dificuldade tumultuosa, uma constante provação que diariamente tem de conseguir ultrapassar.

O livro de Mark Haddon tem a capacidade de nos levar a olhar e a ver o mundo pela mente de Christopher, o qual constitui o seu legado para nós, leitores. Em face destas características, não vislumbro uma tarefa fácil transpor esta perspectiva numa linguagem cinematográfica, e experiências anteriores têm demonstrado que os resultados são, em regra, francamente maus. Entretanto, não se conhecendo nenhuma edição em português, receio bem que tenha que se esperar que Brad Pitt resolva mesmo produzir o filme para que, por cá, esta pérola não continue vilmente resguardada do grande público que fala e lê a língua portuguesa.

The Curious Incident of the Dog in the Night-Time
Mark Haddon
Vintage, 2004

Wednesday 14 March 2007

Enjoo de Beatles

Hoje estou com a veia mais negra à flor da pele! Já andava há um tempo a reclamar no blog da Radar que actualizassem os podcasts. Pelos vistos decidiram fazê-lo nestes dias, e o que vejo? Então não é que do conjunto de álbuns de família passados vão logo disponibilizar dois dos Beatles, a juntar ao que é álbum de família desta semana!? Eu até acho que os rapazes fizeram umas coisitas boas, e como um comentador escreveu no blog, o tema “A Day in The Life” é de facto brilhante, mas... a melhor banda de sempre? Estes qualificativos absolutos deixam-me desconcertado. Pessoal! Arrumem as guitarras, baterias e teclados porque os Beatles já foram inventados, por isso já nada vos sobra para inventar ou fazer que não sejam umas vulgaridades sempre resultado de assimilações de referências dos ditos. Até estou em crer que se não fosse o caso de metade dos elementos da banda já não possuirem uma estrutura química altamente organizada (rebuscada esta metáfora!) ainda ouviríamos anunciar que se voltariam a reunir (algo que também está na moda) e vinham ao SBSR (esta agora foi mázinha!).

Como devem ter percebido, não morro de amores pelos Beatles, e é algo que já vem muito de trás, por isso não há nada a fazer. Nos anos 60 prefiro, sem qualquer margem de dúvida, os Pink Floyd, ou os Doors (já estou a adivinhar uns comentários mauzinhos agora...), ou os Rolling Stones. Aproveito também a deixa para dizer que os Beach Boys me causam nervoso miudinho, e são piores que os Beatles. Mas quem é que se vai lembrar de cantar daquela maneira? Se não fossem estes tipos, se calhar os Bee Gees nunca tinham aparecido. Já pensaram nos benefícios que isso tinha trazido à sanidade mental da humanidade?

OK! Já chega. Mudança de registo: eu até sou moderadamente ecléctico e aprecio diversas formas de expressão musical pelo que, apesar do que gosto e não gosto, creio que consigo fazer uma avaliação justa, embora sempre subjectiva, dos diferentes protagonistas do mundo da música. Como sempre defendi, o pior que nos pode acontecer é tornarmo-nos incapazes de olhar para além dos limites das nossas próprias vivências.

And now, for something completely different, aqui fica um registo video de Kode 9, no tema 9 Samurai do seu último disco Memories of the Future (o dubstep a marcar o ritmo), que em alguns blogs como este, foi considerado o melhor de 2006 (porque a diversidade é fundamental para a vida).

Tuesday 13 March 2007

e.s.t.

Esbjörn Svensson Trio é um agrupamento de jazz vindo da Suécia e que tem causado um enorme sucesso nos meios respectivos, valendo-lhes a capa da Downbeat, uma revista de jazz americana que nos seus 72 anos de história concedeu esta honra, pela primeira vez, a um grupo europeu. Senhores de uma sólida estrutura musical, buscando influências a vastas áreas da música, incluindo o rock e electrónica, demonstram uma frescura inebriante na actual cena jazz mundial. Eclécticos quanto baste, notam-se algumas influências de Keith Jarrett, e também Pat Metheny, confrome a crítica aponta, no que respeita às características do jazz de fusão onde, em última análise, me parece que se situa a música do Esbjörn Svensson Trio. O seu disco de 2006, Tuesday Wonderland, reafirma a solidez musical que vinham demonstrando ao longo dos seus 13 anos de história.

A Suécia parece continuar a insistir em exportar música planeta fora, embora nem sempre de forma acertada. Ainda há um certo hype associado aos grupos suecos da pop, que pessoalmente até nem simpatizo por aí além exceptuando uns The Knife, ou os Jeniferever, que agradeço à Extravaganza a oportunidade de os dar a conhecer.

Para aperitivo, o tema de abertura de Tuesday Wonderland, Fading Maid Preludium, parece sintetizar bem os dois mundos em que o disco habita. Para ouvir bem ALTO!

e.s.t.
Tuesday Wonderland
ACT, 2006

Thursday 8 March 2007

Filme Gore

As alterações climáticas e o aquecimento global são assuntos recorrentes nos dias que correm, e diria que infelizmente para nós. Estamos perante um assunto demasiado sério para brincarmos ao faz-de-conta, e se atendermos que nos encontramos num Universo ambientalmente avesso à vida altamente organizada e especializada como a que existe nesta esfera azul, se dermos cabo dela, para onde vamos depois? Pois bem, esta minha intervenção decorre de mais uma visita de Al Gore a Portugal, agora no dia 7 de Março de 2007, para evangelizar uma miríade de políticos, opinion makers, e quejandos dispostos a pagar uma pequena fortuna para o ouvir debitar umas banalidades sobre os perigos do nosso consumo desenfreado dos recursos naturais.

Tenho relativamente a estas iniciativas uma posição ambivalente em paralelo com o pau-de-dois-bicos que as mesmas representam. Se por um lado é precisamente através de intervenções destas, alimentadas por personalidades revestidas por uma aura de superstar, que a mensagem chega, muitas vezes, ao cidadão comum (o que é pena, diga-se), por outro o seu carácter circense dá-lhes pouca credibilidade para que sejam levadas a sério para a necessária consciencialização sobre os efeitos já sentidos do aquecimento global. Assim, os principais detractores não se cansam de pegar nos relatórios do próprio IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas) e apontar os registos que, aparentemente, contradizem a visão catastrofista do aquecimento global. No meio disto, os cientistas, uma espécie de gajos meio “disfuncionais e distraídos” mas acima de tudo descartáveis, são deixados de lado sendo apenas os seus trabalhos parcialmente (e convenientemente) invocados em auxílio dos argumentos certos para cada uma das facções entrincheiradas. Assim, usam-se os mesmos dados para dizer que a catástrofe está eminente ou, pelo contrário, que estes tipos não passam de uns alarmistas irresponsáveis. Conclusão: na realidade, irresponsáveis são ambos!

Foi bom Hollywood ter premiado com um Óscar o documentário sobre a verdade inconveniente de Gore? Na linha do que afirmei anteriormente, acredito que venha sobretudo alimentar ainda mais a bipolarização entre facções (veja-se o efeito Michael Moore). Cresce a consciência colectiva sobre o assunto? Cresce, sem dúvida, a atenção, mas quanto à consciência tenho as minhas dúvidas. Perante as ameaças das evidências cada vez mais evidentes, o que faz George W. Bush enquanto líder da mais importante e poluidora nação do Mundo? Tenta branquear os relatórios científicos e procura conselho ao mais alto nível no seio de uma voz contrária e mediática, como a de Michael Crichton (mas quem é que vai reconhecer competência na matéria a este tipo senão um atrasado mental?). Mas mais importante do que estas iniciativas é a acção de cada um de nós. O aquecimento global é uma realidade, e a preocupação sobre as alterações do clima uma urgência na sociedade. As nossas acções colectivas têm muito mais força do que alguma vez suspeitamos (e que a própria sociedade pretende, sequer, que suspeitemos). É a começar já hoje, com pequenos gestos, que garantimos o nosso futuro e o das próximas gerações. Poupar energia é apenas um exemplo ao mesmo tempo simples e fácil de cumprir. Conto vir aqui, noutras ocasiões, explicar um pouco melhor os fundamentos científicos sobre a temática. Até lá, vamos começar por evitar entrar num verdadeiro Filme Gore!

No livro “State of Fear”, Michael Crichton é um acérrimo crítico da ciência sobre as alterações climáticas. Para ler os argumentos de gente bem informada contra os enredos delirantes de uma certa literatura de pacotilha, de que fazem parte outros como Dan Brown, fica o link respectivo para o sítio do Earth Institute da Universidade da Columbia.

Ou então, para quem pensa no sentido contrário.

Monday 5 March 2007

A Beleza da Lua

A imagem em baixo foi obtida durante o último eclipse total da Lua, na noite de 3 para 4 de Março de 2007. Nela podemos ver as diferentes fases do eclipse até ao momento em que a sua superfície se apresenta avermelhada. Este fenómeno deve-se à luz que é deflectida nas imediações da superfície terrestre (atravessando por isso a sua atmosfera) acabar por incidir na superfície lunar. Assim se apresenta a lua, tal como no pôr do Sol o céu se nos apresenta vermelho porque a luz incidente percorre um caminho mais longo na atmosfera, na qual os seus gases absorvem e reflectem os comprimentos de onda mais curtos (azuis, daí a cor do céu durante o dia) por um processo que se designa por dispersão de Rayleigh (Rayleigh scattering). A luz solar que acaba por nos chegar aos olhos é, assim, composta essencialmente por comprimentos de onda mais longos (vermelho), porque os comprimentos de onda mais curtos foram "filtrados" (dispersos) ao longo do percurso da luz incidente.

A beleza da imagem fala por si, e fui buscá-la ao sítio do jornal Público:


Fotos: Hassan Ammar/Reuters; a partir de Riad, na Arábia Saudita.

Saturday 3 March 2007

Personalidade do Mês (Fevereiro)

No mês de Fevereiro assistimos a mais uma medida inovadora do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na reformulação de um programa de televisão onde o próprio é o principal e único protagonista, levando assim o já muito distante formato do “Conversas em Família” de Marcelo Caetano a um novo patamar (digam lá que não somos inovadores, hein?). No entanto, acreditamos que os nomeados deste mês merecem um destaque maior, sem desprimor pelo esforço de Hugo Chávez, cujo continuado empenho que demonstra o levará um dia a ser premiado pelo Restaurante. Esperemos, da sua parte, outras intervenções de nível como o ter multado um comediante venezuelano por violação da honra, reputação e vida privada da sua filha de 9 anos. Assim, ainda que os nomeados tenham tido a importantíssima intervenção que a seguir se refere na transição entre Janeiro e Fevereiro, seria injusto não serem premiados por uma mera questão formal, até porque as ondas de choque na sociedade se fizeram sentir durante algum tempo. O Comité do Restaurante nomeia, ex-aequo:

Manuel Pinho (Ministro da Economia), por enaltecer e defender em terras Chinesas as vantagens competitivas da economia Portuguesa baseadas nos custos de produção devido aos baixos salários, e
José Sócrates (Primeiro Ministro de Portugal), por vir a público esforçar-se a explicar a teoria do seu Ministro, quando um coro de vozes reagiu negativamente, não percebendo assim o alcance vanguardista da sua concepção económica do país.

Comentário do Comité do Restaurante:

Há muito que faltava uma visão tão revolucionária sobre a nossa estrutura económica e o sector produtivo. Diremos que estamos perante um Vasco da Gama da Economia, que não atenta a velhos do Restelo e nos move para um caminho de progresso e glória no futuro. É uma visão que dificilmente o povo português, em geral, se lembraria, daí que tenha causado tanta estranheza. Com tão baixos salários, o povo Português mantém as cabeças ocupadas em esticar o orçamento e não tanto com a procura de novos caminhos para o progresso económico.

Menção Honrosa:

Alberto João Jardim (temporariamente ex-Presidente da Região Autónoma da Madeira), justificando os apoios monetários principescos ao “Jornal da Madeira” como meio de preservação do pluralismo, contando seguramente com a modesta remuneração que eventualmente recebe pela sua coluna de opinião no referido jornal.

Comentário: se existisse uma rubrica de “Humor” este seria, sem margem para qualquer dúvida, o vencedor absoluto. Não o querem enviar para a Venezuela? Tradição na emigração já existe!

Thursday 1 March 2007

Ano Polar Internacional (2007-2008)


Inicia-se hoje, 1 de Março de 2007, e envolve um esforço de, pelo menos, 60 países que se desdobram em diversas actividades, mas principalmente em projectos de investigação. Em tempo de preocupações crescentes sobre o aquecimento global, as zonas polares são das mais sensíveis e as implicações nessas zonas das mais preocupantes também. Para além desse facto, os gelos milenares da Gronelândia e Antárctica encerram um historial precioso do nosso clima até há 400000 anos atrás. O conhecimento que se vem acumulando é importantíssimo e permite estabelecer de forma confiante e bastante precisa as assinaturas da presença humana desde os tempos mais remotos e, por vezes, insuspeitos.

No sítio do Ciência Viva podem encontrar-se referências a actividades sobre a iniciativa.