Monday 19 March 2007

O Regresso dos Mortos-Vivos

Não, não é mais um filme de terror mas um acontecimento que promete aterrorizar a nossa existência terrena. Como se sabe, está na moda certas bandas de música adquirirem um processo reconstrutivo à lá Extreminador Implacável (II acho eu...) e anunciarem que vão voltar aos palcos. Uns mais novos que outros, mas todos impelidos por um chamamento que não confessam verdadeiramente, mas que desconfio seja puramente mercantilista. E agora pergunto eu: por que raio é que tenho que suportar estes tipos quando o seu único intuito é encher os bolsos com uma massas? Para além disso alguns há por quem, em tempos, nutri grande admiração a qual ameaça perigosamente agora desmoronar-se.

As minhas leituras semanais de informação (que, diga-se, não são muitas mas também o que se informa por aí não vale a pena sequer saber... Provincianismos!) dão conta do regresso ao reino dos vivos dos Smashing Pumpkins, Police, Genesis e The Who. De salientar são as afirmações de alguns dos elementos destas bandas sobre este renascimento, senão vejamos: Sting afirma que um dia acordou e teve esta ideia como se tivesse sido iluminado. Raios! Eu a julgar que só a Alexandra Solnado falava a toda a hora com Deus, e afinal ainda lhe deixa tempo suficiente para iluminar o Sting. “Sting, amigo, acho que percebeste mal. O que esse momento de iluminação queria dizer é que não te passasse pela cabeça a ideia de contactar os teus velhos companheiros”. Já Phil Collins dos Genesis diz que é para as pessoas saberem quem são os Genesis. “Ó Phil, pá, o que o pessoal precisa é de se lembrar como eram os Genesis antes de 1975, não depois, e muito menos agora! Pega lá nas tuas lamechices e compõe música para atrasados mentais apenas para o teu consumo interno que o pessoal dispensa o teu esforço de enterrar ainda mais o nome da banda”. Ao que parece, Peter Gabriel ainda queria aceder à tentação, mas em boa hora esquivou-se. “Peter, amigo, continua assim e não sairás da minha lista de eleitos que ainda ouço com prazer”. Já Pete Townshend, o guitarrista dos The Who, avança um prazo de validade para o projecto: depois da digressão, os The Who são exorcisados e enterrados definitivamente para descansarem em paz onde nunca deviam ter saído (e por mim com uma estaca enfiada no coração, só para precaver). Cheira-me a que este rapaz diz estas coisas de forma tão sentida como o Alberto João Jardim relativamente a abandonar a presidência da Região Autónoma da Madeira.

Devo afirmar que as minhas memórias musicais de alguns destes grupos é, de facto, muito boa. Os Genesis, para mim, serão sempre um grupo muito especial muito por culpa de um irmão mais velho 8 anos, que bem cedo me punha a ouvir as composições destes rapazes na era Peter Gabriel. Foi uma marca que nunca mais desapareceu. Dos The Who lembro o magnífico “Who’s Next” e a portentosa entrada da voz de Roger Daltrey (uma das mais poderosas de todo o rock) no tema de abertura, “Baba O’Riley”. Já as suas óperas rock eram a dar para o enfadonho. Enfim... memórias!

Agora para o pessoal que até está preocupado em ser mais alternativo que o vizinho, eu aviso: muitos de vós, daqui por uns anos, são quem vai alimentar os concertos das digressões da trigésima encarnação dos Bloc Party, da vigésima sexta dos Interpol e da quadragésima quarta dos Muse. Espero que nessa altura também façam um exame de consciência e digam, “Não há pachorra!”.

9 comments:

rita maria josefina said...

LOL
Para ficares mesmo mesmo feliz, só faltava os 'escaravelhos' darem um saltinho da 'tumba' para se juntarem...:D
Mas tens razão, apesar de ainda não existir ou usar fraldas quando alguns desses nomes que referiste apareceram, realmente não há pachorra pah!

strange quark said...

:)

Ao menos estes tipos podiam ter a consciência do que fizeram fez sentido numa determinada altura, não agora. É um dos grandes problemas das bandas, ou aquilo se mantém coeso e coerente (o que é bastante difícil) ou então acaba por caír na rotina. Não é por acaso que os casos de longevidade musical são mais comuns em projectos individuais, porque aí pode haver um rumo bem definido na mente de uma pessoa. Nick Cave, Tom Waits e David Bowie, são exemplos disso embora uns com mais ou menos altos na carreira que outros (destes, admito que Tom Waits é deveras fora de série e Orphans é um disco, para mim, cada vez mais obrigatório).

A propósito, o projecto Grinderman de Nick Cave para além de muito elogiado parece ter deixado aquela vertente mais lamechas com os Bad Seeds nos últimos tempos e mergulhou numa espécie de garage rock segundo as críticas (good news!).

Agora prometo que o próximo post abrirá a série sobre as alterações climáticas conforme prometido. Sempre estarei mais qualificado para falar dessas coisas...

rita maria josefina said...

Grinderman é um bom exemplo de 'continuidade'.. mas realmente há bandas que tiveram a sua altura de parar e ainda assim... lá acharam que 'talvez não'. um exemplo são os The Cure - tiveram o seu tempo de 'glória' mas já de há uns anitos para cá que a coisa não é a mesma.. tento guardar para mim apenas a recordação dos bons momentos de bandas como esta.

e que venha dai o clima! quero saber porque raio é que está frio - logo agora que arrumei as lãs!!!

extravaganza said...

Eu queria era saber porque "raio(s)" é que anda tudo com uma entropia anormalmente elevada. Estará a passar-se algum fenómeno cósmico?... :)

Quanto aos rapazes que teimam em persistir pelos meandros musicais, a qualquer custo:

Concordo quase na totalidade com as tuas palavras, excepto que meter aí Smashing Pumpkins é um pouco preverso na medida em que estes são 30 anos mais novos que os The Who, por exemplo.

Mas no todo, concordo inteiramente contigo. Foi esse mesmo pensamento que me impediu de ir ver os Bauhaus há uns anos atrás (não consigo precisar quantos) ao Pavilhão Atlântico. Ver uma banda que me é muito querida cair no ridículo perante os meus olhos seria esmagador, para mim... E no entanto, acho que tudo depende da forma como encaramos essa questão: vi-os em Paredes de Coura o ano passado e valeu bem a pena o concerto! Claro que tive que me alhear da ideia de que, em rigor, aquela banda já não existe! Foi a primeira e (acho que) última vez. Já Pixies em Benicàssim foi decadente... Mais valia ter preservado intactas as memórias que tinha deles ao vivo no Coliseu de Lisboa em 1991...

strange quark said...

É mesmo um fenómeno cósmico que aproveita a conjunção de Vénus com Marte, no meio dos quais a Terra se encontra (entre o amor e a guerra!) e cujas ondas esotéricas se espraiam como raios (são mesmo raios, não estou a praguejar) cósmicos, alimentando o karma destes indivíduos que não têm mais nada para fazer. :))

Bom, aceito que o caso dos Smashing Pumpkins não esteja na mesma posição dos outros, mas ainda assim o fenómeno é o mesmo. E dizes bem, é lamentável assistir à degradação de uma banda que, em tempos, nos disse algo e nos moveu de muitas maneiras. Continuo a achar o primeiro disco dos Smashing Pumpkins uma excelente obra (para mais duplo CD), mas não me disseram mais nada depois disso. Os Genesis só contam basicamente os discos entre 1970 e 1974, embora amiúde tenham feito uma ou outra coisa interessante. Os The Who gosto mesmo do disco que referi, mas o resto tem dias, e acho as óperas rock Tommy e Quadrophenia de um pretensiosismo enfadonho. Os Police compuseram algumas canções com piada, mas nada mais que isso.

Por fim, creio que a ideia que justifica o projecto de uma banda tem sentido enquanto a própria banda se identificar com isso mesmo dando algo de novo, ou então que demonstre uma evolução natural da sua música. Afinal, todos envelhecemos, e que eu saiba só mesmo o vinho tinto é que melhora com a idade (Ah! E o Tom Waits também!). ;)

Anonymous said...

...importas-te de me informar qual o pimeiro CD duplo dos Smashing Pumpkins, que desconheço, por favor...

strange quark said...

Caro Rantanplan,

Em primeiro lugar, obrigado pela visita a este espaço. Quanto ao pedido de informação, tenho a lamentar a impossibilidade de o transmitir já que me referia ao seu terceiro disco e não primeiro como, erradamente (héllas!), pensava. Estamos sempre a tempo de nos corrigirmos...

Volta sempre e reclama quando houver necessidade.

andalsness said...

Não saberei dizer qual, mas certo estou que existirá um qualquer grupo (que se possa afirmar integrante do miocénico imaginário musical do signatário do presente post) o regresso do qual (para um concerto apenas que fosse) por este não seria tão vivamente lamentado, antes, celebrado.
Pois que fundamento não se encontrasse, então, para fundamentalismos.

No meu caso, seria, sem dúvida, os Smiths.

Talvez me furte a ver os Interpol no SBSR para, assim, profilaticamente (p)reservar incólume a memória para o seu regresso daqui a 20 anos.

Um tudo nada reaccionário, diria, mas a piada estará aí, lá está.

extravaganza said...

Como se não bastasse, o andalsness é do fêquêpê :PP