Filme Gore
As alterações climáticas e o aquecimento global são assuntos recorrentes nos dias que correm, e diria que infelizmente para nós. Estamos perante um assunto demasiado sério para brincarmos ao faz-de-conta, e se atendermos que nos encontramos num Universo ambientalmente avesso à vida altamente organizada e especializada como a que existe nesta esfera azul, se dermos cabo dela, para onde vamos depois? Pois bem, esta minha intervenção decorre de mais uma visita de Al Gore a Portugal, agora no dia 7 de Março de 2007, para evangelizar uma miríade de políticos, opinion makers, e quejandos dispostos a pagar uma pequena fortuna para o ouvir debitar umas banalidades sobre os perigos do nosso consumo desenfreado dos recursos naturais.
Tenho relativamente a estas iniciativas uma posição ambivalente em paralelo com o pau-de-dois-bicos que as mesmas representam. Se por um lado é precisamente através de intervenções destas, alimentadas por personalidades revestidas por uma aura de superstar, que a mensagem chega, muitas vezes, ao cidadão comum (o que é pena, diga-se), por outro o seu carácter circense dá-lhes pouca credibilidade para que sejam levadas a sério para a necessária consciencialização sobre os efeitos já sentidos do aquecimento global. Assim, os principais detractores não se cansam de pegar nos relatórios do próprio IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas) e apontar os registos que, aparentemente, contradizem a visão catastrofista do aquecimento global. No meio disto, os cientistas, uma espécie de gajos meio “disfuncionais e distraídos” mas acima de tudo descartáveis, são deixados de lado sendo apenas os seus trabalhos parcialmente (e convenientemente) invocados em auxílio dos argumentos certos para cada uma das facções entrincheiradas. Assim, usam-se os mesmos dados para dizer que a catástrofe está eminente ou, pelo contrário, que estes tipos não passam de uns alarmistas irresponsáveis. Conclusão: na realidade, irresponsáveis são ambos!
Foi bom Hollywood ter premiado com um Óscar o documentário sobre a verdade inconveniente de Gore? Na linha do que afirmei anteriormente, acredito que venha sobretudo alimentar ainda mais a bipolarização entre facções (veja-se o efeito Michael Moore). Cresce a consciência colectiva sobre o assunto? Cresce, sem dúvida, a atenção, mas quanto à consciência tenho as minhas dúvidas. Perante as ameaças das evidências cada vez mais evidentes, o que faz George W. Bush enquanto líder da mais importante e poluidora nação do Mundo? Tenta branquear os relatórios científicos e procura conselho ao mais alto nível no seio de uma voz contrária e mediática, como a de Michael Crichton (mas quem é que vai reconhecer competência na matéria a este tipo senão um atrasado mental?). Mas mais importante do que estas iniciativas é a acção de cada um de nós. O aquecimento global é uma realidade, e a preocupação sobre as alterações do clima uma urgência na sociedade. As nossas acções colectivas têm muito mais força do que alguma vez suspeitamos (e que a própria sociedade pretende, sequer, que suspeitemos). É a começar já hoje, com pequenos gestos, que garantimos o nosso futuro e o das próximas gerações. Poupar energia é apenas um exemplo ao mesmo tempo simples e fácil de cumprir. Conto vir aqui, noutras ocasiões, explicar um pouco melhor os fundamentos científicos sobre a temática. Até lá, vamos começar por evitar entrar num verdadeiro Filme Gore!
No livro “State of Fear”, Michael Crichton é um acérrimo crítico da ciência sobre as alterações climáticas. Para ler os argumentos de gente bem informada contra os enredos delirantes de uma certa literatura de pacotilha, de que fazem parte outros como Dan Brown, fica o link respectivo para o sítio do Earth Institute da Universidade da Columbia.
Ou então, para quem pensa no sentido contrário.
3 comments:
Peço desculpa, mas fiquei confusa e preciso de um esclarecimento: este Crichton é aquele que produz séries de ficção tipo Emergency Room (entre outras)?
Caro Strange Quark,
agradeço as palavras deixadas no meu blog, e já agora esclareço que era para mim óbvio, tendo em conta o nível dos seus comentários no blog Radar e dos seus posts aqui, que aquelas manifestações de analfabetismo funcional (uma vez que nem sequer compreendem texto escrito) nada tinham a ver consigo.
Desejo-lhe a continuação de bons posts, que pretendo continuar a visitar.
Já agora, espero que não se importe que eu me intrometa e responda à Extravaganza que, efectivamente, o Michael Crichton produtor de séries e filmes, o Michael Crichton argumentista, e o Michael Crichton escritor(?) especializado em literatura mercenária são uma única pessoa... e ainda bem, porque um já chega e sobra.
Prometeu,
Bem vindo, e as intromissões são sempre bem recebidas. Life goes on... ou então, "Adiante!" em bom português.
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