Sunday 25 March 2007

A Insustentável Irresponsabilidade do Ser


Agora que estou numa vertente dada às alterações climáticas, não quero deixar passar em branco as declarações do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), Mariano Gago que, segundo a revista Visão, terá proferido publicamente que o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) é um “...fórum das Nações Unidas onde se vota o aumento da temperatura”. Isto num debate no Parlamento sobre as alterações climáticas e as energias renováveis. Para compor o ramalhete, ainda afirmou que as previsões do IPCC se baseiam em modelos climáticos que não estão validados.

Estas afirmações, de um alto irresponsável político, que ainda por cima tutela a ciência em Portugal requerem que se faça um esclarecimento:

1. Eu não sei se o IPCC vota ou não as temperaturas, embora saiba que o IPCC é, por vezes, refém de governos e interesses económicos. As conclusões que o referido grupo tem emanado, se sujeitas a referendo conforme acusa o ministro, não serão seguramente para os piores cenários o que, bem vistas as coisas, ainda me deixa mais preocupado. A adminsitração Bush tem sido perita em abrir guerras com as suas comissões científicas sobre estas matérias, “obrigando-as” a produzir relatórios mais benevolentes para o real estado do ambiente e perspectivas futuras, sabendo-se a petróleo-dependência da economia americana;

2. O ministro Mariano Gago, enquanto titular de cargo político deveria, pois, saber que há afirmações que não podem pura e simplesmente ser proferidas desta maneira. Mais, enquanto cientista que afirma ser (ou foi, sei lá) tem a obrigação de saber, e se não sabe então ainda mais grave é a situação, que os modelos climáticos ou outros relativos a sistemas complexos e caóticos NUNCA são passíveis de ser validados nem verificados. Somente por manifesta FALTA de CULTURA científica e, já agora, filosófica é que se faz tamanha afirmação. Sr. Ministro, se quiser terei todo o gosto em lhe dar as referências bibliográficas que necessita para estar mais bem informado sobre o assunto.

Ironicamente, ou não, na mesma revista umas páginas adiante noticia-se o êxodo dos habitantes de Tuvalu, um arquipélago no Pacífico que, a confirmarem-se as actuais tendências das alterações climáticas verão a terra onde nasceram submersa daqui por uns anos. Nessa altura, será certamente o lugar ideal para onde o Estado Português o poderá enviar para passar a sua reforma. Desejo-lhe por isso uma longa vida para poder desfrutar as belezas do Pacífico. I mean it!

3 comments:

LisbonGirl said...

Mudando de clima, Strange Quark, sempre vais ver as manas Sierra no dia 14 ?

andalsness said...

"Nunca" é palavra a evitar quando se fala de ciência. Como em tudo mais, na minha opinião.
Nas palavras de Gaston Bachelard "a ciência depende apenas do seu futuro, não do seu passado". Nessa descontinuidade epistemológica sucedem-se as rupturas com o conhecimento científico anterior e, com elas, novos paradigmas surgem. O que hoje é afirmado (à luz duma Teoria da Complexidade ou duma Teoria do Caos) não-computável ou não-determinístico, poderá muito bem ser computável e determinístico à luz de uma qualquer outra teoria que a revolução científica precipite. Justamente por ser revolução e não evolução.
Óbvio é (e para tal não é necessária cultura, sensibilidade ou, muito melhor dizendo, conhecimento científico) que muito do que hoje o é SEMPRE, o foi ontem NUNCA.

strange quark said...

Adalsness,

Tens razão. "Nunca" é uma palavra a evitar, para mais em ciência. A questão que coloco, e que justificarei num texto em breve, é sobre o problema de validação / verificação de modelos, e de se dar a sensação que toda esta questão sobre alterações climáticas é meramente arbitrária, o que não é verdade. No entanto, a validação é uma questão para a qual, neste momento, não há volta a dar.

Reconheço que o post é muito sanguíneo, mas também é para isso mesmo que servem os blogs: dar largas às nossas emoções mais fortes à flor da pele!

Obrigado pelo comentário. :)