Saturday 3 October 2009

Plágio ou Citação?

O mundo actual está de tal forma conectado e a informação corre com tal rapidez e facilidade que é natural cruzarem-se à nossa frente um manacial de referências cujas origens temos dificuldade em restabelecer. Na música, este facto encontra-se também cada vez mais presente. No entanto, o caso que aqui vou apresentar nem sequer se enraíza directamente neste problema, até porque as bandas se citam com frequência e essa citação constitui uma forma de homenagearem quem acham que lhes dá a inspiração para fazerem o que fazem: música. O que me levou a colocar aqui estas duas canções, “Rest My Chemistry” dos Interpol, por oposição a “Where Is My Mind” dos Pixies, foi o facto de há já quase um mês vir a ouvir a primeira no rádio do meu carro e, como nem sequer acho grande piada aos Interpol e só comecei a dar atenção a partir da linha principal da guitarra, imediatamente pensar que alguém se tinha lembrado de fazer uma cover da canção dos Pixies, abrandando-lhe o ritmo. Claro que segundos depois percebi que não se tratava de nada disso. Na realidade não quero com isto chegar a lado nenhum em particular, até porque não é óbvio se houve aqui a intenção, ou não, de plagiar a linha de guitarra da canção dos Pixies. Mas que elas são assustadoramente parecidas, lá isso são.

Aqui ficam para vossa apreciação:


6 comments:

M.A. said...

De facto... Como ando meio desligado dos Interpol, nunca me tinha dado conta.

Abraço!

strange quark said...

Conforme explico, a coisa deu-se comigo mesmo por acaso. Até acho que os tipos, em tempos, fizeram umas musiquitas com piada. No entanto, acho que nesta Rest My Chemistry lhes deve ter puxado a veia para os Pixies, que até poderá ter acontecido sem intenção mas que acabou por ficar muito... muito parecida.

muguele said...

Ora bem, fui ouvir as duas músicas (ao tubo, que o zshare estava de chuva) e, visto que aquilo até é suficientemente básico para as minhas básicas aptidões musicais, decidi tratar a coisa como fazem normalmente os "peritos", peguei na guitarra e tirei as linhas de baixo e os acordes das duas músicas para as poder comparar.

O resultado é o seguinte:

Linhas de baixo:
- Pixies: Mi; Dó# (sustenido); Sol#; Lá
- Interpol: Sol; Si/(Fá#); Mi; Si; Sol

Acordes:
- Pixies: Mi; Dó#-m (menor); Sol#m; Lá
- Interpol: Sol; Si-m; Mi-m; Si-m

(é basicamente isto com algumas - poucas - variações)

Como podes ver, o tom não é o mesmo, a progressão da linha de baixo é diferente e a sequência de acordes também, para além de que a dos Pixies tem mais uma parte. Baseado nisto, não se pode dizer que haja plágio e nenhuma editora se vai meter num processo que pode perder, mesmo argumentando, com razão, que o tom pode ser transposto para se ajustar à voz e mesmo assim continuar a ser uma cópia.

Posto isto, é um facto que as canções soam muito parecidas, principalmente devido à batida, à cadência e ao som e linha das guitarras solo, que é muito semelhante(mas não exactamente igual), embora uma seja ligeiramente mais lenta do que a outra.

Isto tudo para quê?
Não que eu queira fazer um tratado sobre estas músicas, mas para mostrar (muito pela rama) como estas coisas são feitas (aliás basta procurares no tubo pela polémica Satriani/Coldpaly, para encontrares verdadeiras teses).

O que é que isto quer dizer?
Quer dizer que estes processos de plágio são sempre muito complicados e implicam um monte de investigações, exactamente porque é suposto a "marosca" estar o mais escondida possível, ou seja, embora com este monte de diferenças, ninguém pode provar que não tenha havido plágio, o que na verdade não interessa, uma vez que são os queixosos que têm de provar que houve e isso é muito mais difícil.

Daí que, das muitas polémicas que aparecem, só algumas cheguem ao tribunal e ainda menos dêem em condenação.

No fim disto tudo, porque a prosa já vai longa, estes processos de possível plágio nada têm a ver com a usurpação de músicas completas em que se substituem os autores com o único intuito de não se pagar direitos, como o caso que descrevi no meu blogue. São coisas diferentes.

Citações, referências e até partes de músicas eventualmente iguais ou mesmo copiadas são uma coisa, roubo de músicas completas é outra.

strange quark said...

Não me tinha dado ao trabalho de ir descascar os acordes, confesso. No entanto, esta coisa andou-me na mente uns dias até arranjar a música dos Interpol (que não tinha) e poder comparar com mais calma. O ritmo mais lento e a diferença de tom dificulta a comparação, mas no conjunto, se juntarmos a cadência e a forma de tocar da guitarra, as semelhanças resultam mais óbvias que à primeira vista.

Por outro lado, não pretendia confundir casos de plágio comprovado com o que tratas no teu blogue, porque são coisas bem distintas. Nesta situação em concreto também não pretendo afirmar que haja, ou sequer tenha havido, intenção em plagiar os Pixies. Mas parece-me, tal como afirmo no início do texto, que muitas vezes estamos presos a pequenas coisas que vamos ouvindo ao longo da vida e que quando nos exprimimos artisticamente elas acabam por vir ao de cima por vezes de forma quase inconsciente. Acho bem provável que isso tenha ocorrido com os Interpol, o que pode colocar a questão mais no campo da citação. Mas dizer que conseguimos desvanecer a dúvida, é difícl.

um abraço

muguele said...

Tens razão. Em casos deste tipo o melhor é comentar "olha, isto é muito parecido com..." e depois passar à frente e desfrutar da música. No caso de bandas como os Interpol o que nos deve "preocupar" mais até é o facto de eles se copiarem a eles próprios (tenho uma certa dificuldade em ouvir o Our Love to Admire do princípio ao fim).

Quanto aos casos mais flagrantes, tenho de reconhecer que será difícil à Alanis Morrisette ouvir a música dos Perfume e passar à frente. Em relação aos roubos descarados, é entalá-los com força.

Abraço

strange quark said...

Sim, andar para a frente sempre que for possível, e muito obrigado pelo esclarecimento do primeiro comentário, cuja utilidade é bastante grande para a esmagadora maioria que ouve música e para quem este tipo de coisas lhe passa ao lado.

Tenho estado em casa a trabalhar (eu não devia dizer estas coisas...) a ouvir a Radar e o famoso Turn on the Bright Lights e considerar aquilo o disco da década (mesmo um dos...) é um bocado a dar para o exagero. Ou o pessoal anda menos atento do que eu julgo ao que por aí se faz, ou então estão a entrar naquela crise da idade que só se consegue excitar com música que cita (para não dizer copia) a época da sua adolescência.

Um abraço