My Name Is James, Just James!
Há momentos e ocasiões nas nossas vidas em que um punhado de circunstâncias, porventura algo aleatórias, nos levam a presenciar concertos que de outra forma não faríamos o menor esforço para ver, nem que se realizassem no nosso quintal. Ora bem, por razões familiares desloquei-me ao Crato no fim de semana de 30 e 31 de Agosto, aproveitando também o facto de ali se realizarem as Festas do Crato, ao que parece suficientemente badaladas pelos gastos opulentos para tão singela autarquia perdida num interior alentejano cada vez mais desertificado. Associado a tal evento havia um cartaz de estrelas internacionais em saldo, tais como Vaya Con Dios, Roger Hogdson e James. No dia em que estou presente, Sábado 30, caberia aos James animarem a noite no recinto. Pois bem... James!? Épá, eu conheço estes tipos. Tenho inclusivamente a memória da capa de um dos seus discos, com o nome da banda lá estampado. Quando é que estes gajos apareceram? Talvez anos 90, não? Andava perto, pois na realidade apareceram associados à onda Madchester, em finais de 80, mas foi na alvorada de 90 que o sucesso comercial lhes bateu mais vezes à porta. Depois da entrada de um grupo português que dava náuseas até às vísceras com uma música para telenovela em horário nobre (até parece que eram conhecidos tal a quantidade de gente que trauteava as músicas), lá vinham os cabeças de cartaz.
A entrada em palco dos James iniciou-se com o mui conhecido “Born of Frustration”, que Tim Booth (ainda com a careca tapada) ataca com a voz ululante acompanhada do trompete. OK! Com esta música fiquei localizado. Então são estes gajos! Dali para a frente, assistui-se a um concerto competente que em várias ocasiões haveria de passar por velhas glórias esquecidas, como “Sit Down” ou “Say Something”, entremeadas por músicas mais discretas mas competentes se atentamente ouvidas, herdeiras de um rock alternatvo da época como foi moda designar-se alguma dessa música. A assistência era um tanto surrealisticamente heterogénea mas pelo menos deixava que os outros pudessem ouvir a música tranquilamente. As condições acústicas para uma situação destas eram bastante boas, e os James deram em vários momentos provas evidentes de um profissionalismo irrepreensível, mostrando que a banda é constituída por bons músicos. A dinâmica em palco era excelente, com alguma versatilidade instrumental, que incluía o já mencionado trompete, o violino, precurssões e teclados vários, não faltando a desconcertante forma de dançar de Tim Booth. Fiquei a saber que os James editaram um novo disco este ano, razão pela qual andam em digressão. Seguramente tocaram músicas do seu último disco, algo que não posso avaliar porque basicamente desconheço a maioria da sua discografia. Mas ficou a sensação de uma banda que apresenta boas ideias concretizadas em canções melodicamente bem estruturadas por vezes com ambiências mais etéreas a piscar o olho a um experimentalismo envergonhado. Sem grandes inovações nem grande arrojo, as raízes dos anos 80/90 continuam na sua música, mas deve-se referir que as referências são das melhores da época, o que contribuiu enormemente para a boa disposição que senti em ouvir este concerto. Porque é assim, quando as coisas nos acontecem sem nós esperarmos absolutamente nada delas, que acabamos por apreciar melhor os momentos, e os momentos que os James me proporcionaram foram mesmo bons. Noutras circunstâncias, talvez não pensasse da mesma maneira o que nos faz reflectir sobre quão condicionada pelas expectativas é a nossa avaliação de um dado momento, concerto, música, ou outra coisa qualquer. Pela honestidade e por ter estado bem disposto: 4/5.
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