Tuesday 30 September 2008

O Dia em que a Virgin Perdeu a Virgindade



Talvez por andar em maré de efemérides, não deixo de constatar que há alguns eventos que parecem ser politicamente incorrectos recordar. Mas como o pessoal até acha piada a estas coisas dos aniversários que terminam em 5 ou 0, então pretendo relembrar aqui na tasca que no já algo distante dia 25 de Maio de 2008 passaram 35 anos da edição do primeiro disco pela então recém criada editora Virgin, disco esse que era, nem mais nem menos, Tubular Bells de Mike Oldfield, um dos mais importantes casos de sucesso no Reino Unido e a nível internacional na época. O sucesso do disco é perfeitamente secundário, foi apenas um caso feliz como poderia eventualmente não ter sido, não tivesse o jovem Oldfield na altura (com apenas 20 anos) recebido umas quantas negas porque achavam que “aquilo” não era vendável. O hoje muito mediático Richard Branson não teve a mesma opinião e deve seguramente uma parte da sua fabolosa fortuna a este disco. Mas se nos colocarmos na posição de um jovem em 1973, do género “onda alternativa” como a entendemos nos dias de hoje, este disco era um acontecimento salutar por várias razões: continha uma estrutura musical progressiva dividida em peças que têm o seu quê de dívida para com o minimalismo repetitivo; foi sem dúvida um disco inspirado, e quem pense de forma contrária não estará a ser intelectualmente honesto, atendendo a que há parâmteros mínimos de objectividade que permitem analisar a música para além das simples (e muitas vezes simplistas) paixões; foi um quase pioneiro na gravação sobreposta de várias camadas sonoras atendendo a que Oldfield tocava praticamente todos os instrumentos em estúdio; fugia ao padrão da época. Claro que este estrondoso sucesso, não só artístico como comercial, criou mazelas na pessoa de Mike Oldfield. Os dois discos seguintes foram uma tentativa de prepetuar a fórmula de Tubular Bells, com resultados bem mais modestos, e depois disso foi um palmilhar de géneros e estilos que tiveram pontualmente visibilidade no género pop (o tal género que nos anos 70 era olhado com uma desconfiança e desdém sem limites pelas gentes ditas “intelectuais”) nos anos 80 como “Five Miles Out” e “Mooligth Shadow”, mas que globalmente nunca saíram da vulgaridade (para ser simpático). No entanto, isso não é justificação para que se relembre tanta coisa e este acontecimento fique generosamente esquecido. Mas acontece que há uma certa música da década de 70 que é hoje olhada com uma desconfiança e desdém sem limites pelas gentes ditas “intelectuais” de agora.

2 comments:

M.A. said...

Nunca gostei, mas reconheço-lhe o valor histórico.
Admito que ainda haja um certo preconceito em relação a algumas sonoridades dos 70s, mas acho já foi pior.

O Richard Branson é que sempre soube estar no lugar certo, à hora certa, e daí a fortuna amealhada: primeiro criou uma editora ligada ao progressivo (com logo do Roger Dean e tudo!), quando o género definhava, tratou logo de deitar mão aos Pistols. Há que reconhecer que o gajo tem (ou tinha) olho...

Abraço

strange quark said...

O gostar ou não, não é o fundamental quando se pretende discutir o valor musical de uma forma séria, coisa que uma fatia significativa de quem o faz não consegue distinguir, mas no que diz respeito às sonoridades de 70, creio que isso hoje ainda é reflexo de a geração que está nos meios de comunicação social ter as suas referências nos anos 80 (não é por acaso que há este revivalismo "oitentista"). O progressivo foi, apesar de tudo, um fenómeno mais britânico e europeu (teve uma repercussão extraordinária em Itália, por exemplo) e nunca caíu no goto dos críticos musicais, por vezes com razão, mas muitas vezes pelas más razões a que o preconceito não era estranho. Para todos os efeitos, a "minha geração" musical é claramente a do pós-punk, mas a verdade é que por circunstâncias muito particulares tive um contacto maior com a música da década anterior de forma precoce (na idade) e sem dúvida que "a primeira pancada" é sempre a mais forte e deixa-nos sempre com referências que irracionalmente elevamos aos píncaros porque nos moldaram os gostos musicais de forma permanente e nos fizeram crescer.

Claro que o Richard Branson fez a fortuna a ter um olho do caraças, mas a edição deste disco, como sendo o primeiro editado da Virgin e dado o sucesso que teve, marcou indelevelmente a editora. Por acaso não associava muito a Virgin ao progressivo, até porque aparece tarde e rapidamente segue outras vias como referes. A maior parte das bandas do género estavam espalhadas por outras editoras, mas o caso da Charisma (cujo logo tinha as personagens da Alice no País das Maravilhas) foi absorvida pela Virgin mais tarde, e consequentemente o catálogo dos Genesis e Van der Graff Generator. E também é verdade que o logo de Roger Dean diz bem das intenções, pois para mim continua a ser um dos autores das capas mais mágicas da música e a associação aos Yes era tão forte quanto a dos Pink com os estúdios Hipgnosis.

um abraço