As Chávez do Poder
Não me arrogo a especialista de coisa nenhuma, exceptuando daquilo que profissionalmente faço, pelo que nada desta prosa pretende ser mais do que realmente é: a minha singela opinião. Se bem que, com um pouco de lata e os conhecimentos certos, se possa ser um “fazedor de opiniões” como são designadas aquelas personalidades iluminadas que povoam o espectro hertziano debitando um palavreado com almejo de uma inatingível sapiência para deguste de supostos deslumbrados (com uma prosa assim, bem retorcida, até me candidato a um lugarzinho). Sim, porque os outros, na primeira oportunidade, mudam para a telenovela mais próxima, pois não tendo a capacidade do deslumbramento perante os novos oráculos televisivos, têm pelo menos a sensatez de procurar algo igualmente fútil, mas ainda assim menos indigente.
Mas voltando à razão que me leva a escrever estas linhas, tal deve-se a uma referência à súbita quebra de popularidade do presidente Hugo Chávez perante a opinião pública venezuelana (ela ainda existe? não terá sido extinta por decreto?). Ao que parece, a sua decisão (tele)visionária de mandar encerrar o canal televisivo venezuelano RCTV, não lhe renovando a licença, teve como efeito uma quebra da sua base de apoio para 36%, com 86% a manifestarem-se contra a referida decisão. Sabendo que nunca a insanidade mental de certos líderes impediu que os povos os seguissem até ao abismo, o que é que terá acometido, subitamente, ao povo venezuelano? Creio que a razão se centra essencialmente na televisão, e na provável incapacidade de Chávez ter percebido que se está a meter com um poder infinitamente maior que a sua própria loucura e cegueira. Nem será preciso fazer um esforço de imaginação neste nosso cantinho se um dia alguém decidir que os cidadãos já não precisam de votar, ou se o PNR até eleger uns quantos deputados para a Assembleia da República, ou se os divórcios passarem a ser proibidos por lei e o Estado deixar de ser laico para ser católico, e nessa altura constatar que não haverão muitos a insurgirem-se contra tais decisões ou acontecimentos. Mas se, pelo contrário, acabarem com as telenovelas, os reality-shows ou os intermináveis programas culturais sobre a esfericidade do esférico que rolou nos relvados no fim de semana anterior, assistiremos seguramente à maior revolução que há memória na história.
6 comments:
Tu toma cuidado que levas o jeito... Se ele te lê, ainda te convida para Ministro da Ciência e Tecnologia!
Confesso que ali o 1º parágrafo está mesmo muito bom!! Até me perdi do tema em análise...
Estás no bom caminho :)
sim, por cá, se encerrassem a TVI eu confesso que não me importava nada..
Aquele primeiro parágrafo é mesmo um aparte, e quando me apeteceu escrever aquilo a primeira pessoa que me veio à memória foi o Nuno Rogeiro, e os seus comentários durante a guerra do golfo sobre a balística dos Scuds. Ficava deveras impressionado com aquela sapiência. De resto, esforço-me para mater a retórica. Vai não volta e ainda me vão pedir a opinião sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa.
Rita: não te importavas tu, e eu muito menos. Mas esse belíssimo canal de televisão está com ruído branco (ou seja, dessintonizado) cá em casa desde... (deixa cá ver...) ... 1999! É a minha vertente Chávez a funcionar. :) Mas se a decisão fosse nacional, não era só o Carmo e a Trindade que caíam.
É mesmo!
Que desperdício de "stamina"...
E acabar com "a Bola"? que horror!
Fica bem
YellowAstronaut, wellcome aboard this humble spaceship.
:)
Todos nós temos um ditador dentro de nós, uma vez que nos passam pela cabeça essas ideias com que manipularíamos a realidade de acordo com as nossas vontades. Felizmente também existe outra coisa chamada bom senso e outra ainda chamada inteligência.
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