Tuesday 18 September 2007

Alterações Climáticas: Um “Rough Guide” (III)

Depois de algum tempo de pausa, eis-me regressado a este tema. Entretanto, num outro blog, e ainda por causa de Michael Crichton, encetei uma breve discussão sobre este assunto, o que é sempre salutar. Desta vez vamos abordar algumas evidências que nos dão razões para ficarmos preocupados.


As medições do CO2 atmosférico iniciaram-se de forma sistemática nos anos 50 no observatório do Mauna Loa no Havai e desde então mostram que a concentração deste gás tem vindo continuamente a aumentar na atmosfera terrestre. Este gráfico, designado como curva de Keeling (superior), é um clássico onde se observam oscilações em forma de serra dentada devidas à variação do CO2 nos períodos de verão e de inverno em face da maior e menor intensidade da fotossíntese, respectivamente. Como é sabido a fotossíntese redunda num processo que, em última análise, transforma o CO2 absorvido em tecidos vegetais, mas há aqui dois aspectos a considerar: o total de CO2 absorvido na fotossíntese, correspondendo ao que designamos por produção primária bruta, não é todo transformado em carbono orgânico, isto porque na ausência da luz solar, as plantas respiram e libertam CO2 nesse processo. A diferença entre ambas as taxas é que determina, de facto, a quantidade de CO2 fixa em tecidos vegetais, ou seja, a produção primária líquida. Conforme constatamos, a biomassa vegetal (na realidade a grande maioria da biomassa terrestre) é um importante sumidouro de carbono da atmosfera, por isso é que a gestão dos solos, a desmatação e ocupação urbanas têm implicações no equilíbrio do CO2 atmosférico.


A par destas observações, os registos da temperatura média ao longo dos anos também demonstram uma clara subida, por vezes com patamares, como durante os anos 60. Já Svante Arrhenius, o químico sueco prémio Nobel da Química em 1903, previu quantitativamente a capacidade de o CO2 poder actuar como gás de efeito de estufa. Parece lógico que, mantendo todas as outras variáveis constantes, os efeitos da crescente introdução de CO2 na atmosfera por parte das actividades humanas tivessem como resultado esta mesma subida da temperatura. Mas será legítimo estabelecer um paralelismo de causa e efeito entre o CO2 e a subida da temperatura atmosférica? Não completamente. Os factores que influenciam o clima na Terra e a temperatura atmosférica não se esgotam no CO2. Tem sido com base nestes pressupostos que muita da contestação às evidências das alterações climáticas se tem manifestado. A dúvida e o cepticismo são fulcrais em ciência e por isso é importante quem age de forma crítica no campo oposto. O que já não é aceitável são pressões políticas e de outra índole que ambas as partes promovem. Assim, alguma contestação recaíu em problemas efectivos, como a dúvida sobre os métodos de medição das temperaturas. Os críticos argumentavam que essas medições estariam viciadas por serem feitas principalmente próximo de aglomerados urbanos, onde essas mesmas temperaturas serão mais elevadas. Por outro lado, as medições efectuadas por satélites pareciam reforçar isso mesmo uma vez que apresentavam uma diferença sistemática que ninguém conseguia explicar de forma convincente. No entanto, essas discrepâncias foram parcialmente eliminadas e publicadas num relatório de Abril de 2006 pelo US Climate Change Science Program, apresentando uma subida consistente das temperaturas na atmosfera a nível global, restando por explicar apenas as diferenças nas zonas tropicais. Outra vertente da contestação já pega em argumentos que são mais heurísticos, baseando-se apenas em situações particulares que servem de generalizações. Exemplos disso são as evidências do arrefecimento que parece afectar presentemente a Antárctica ou, em termos históricos, a existência de períodos particularmente frios (como na Europa do século XVI) ou particularmente quentes (como no início da Idade Média). O que se questiona é se não estaremos nós a atravessar um período equivalente. Estes pequenos episódios serão apresentados noutro texto, quando falar do clima no passado, mas diremos que honestamente, nada se pode garantir sobre esse assunto. Actualmente, as observações indicam uma consistência entre as várias variáveis em questão, nomeadamente o CO2 e o aumento da temperatura.


Que outros exemplos evidenciam aumento das temperaturas médias globais? A resposta é: retracção da cobertura de gelo no polo Norte; retracção dos glaciares a nível global evidenciada, pelo menos, desde os anos 80; subida da linha de altitude de diversas espécies vegetais em várias regiões do globo; aumento da frequência de tempestades violentas; aumento da temperatura média da superfície do oceano. Que mais será preciso ainda?


Artigos anteriores:

8 comments:

extravaganza said...

Só os gráficos deixam logo uma pessoa de rastos... :(

Anonymous said...

Sim. E o que é que fazemos já. Tu, eu, aqueles que já chegaram a esta conclusão.

Depende de nós? Claro que sim! Mas somos uma quantidade de consciências desgovernadas que precisam de um eixo para se guiarem.

Dás-nos um problema que só a união humana pode resolver. Estás a ver isso acontecer?
hum...
Estamos todos quilhados ou de repente a humanidade acorda para o que realmente interessa?
hum...

Precisamos de novos valores, isso é um facto!

merecemos o que nos espera? talvez... a natureza ir-se-á regenerar. Quanto aos humanos tenho as minhas dúvidas.

fica bem strange

rita maria josefina said...

Allos!
Caro SQ, queria-te fazer uma humilde pergunta, - que seguiria por mail (se eu o tivesse..)- posso fazer uma publicidade absolutamente descarada na caixa de comentários do teu blog sobre o concerto de Novembro?

strange quark said...

Por partes:

Yellowastronaut: colocas questões pertinentes, para as quais julgo recearmos saber as respostas... Uma coisa é certa, a Natureza sobreviver-nos-á sempre. Se há algo com que os geólogos têm sabido conviver é com a certeza que nada na vida é garantido, nomeadamente a nossa sobrevivência. A quantidade de seres vivos que já existiram, floresceram e desapareceram, enquanto o diabo esfrega um olho, é astronómica. E, no entanto, cá estamos nós... à espera da nossa vez!

As formas de contribuirmos para que não deixemos como legado um Planeta climaticamente (muito) alterado aos nossos filhos (já que alterado estará sempre), passa por gestos simples que não nos é muito difícil identificar no dia-a-dia. Claro que só é efectivo se a consciência for colectiva. Por outro lado, se quisermos que algo seja feito em grande escala e contribua para melhorarmos a situação, terá de ser ao nível das decisões políticas (e económicas). Ou seja, a decisão de melhorar e promover a utilização de transportes públicos não passa apenas por nós, tem de haver algo que o obrigue. E o ordenamento do território (algo completamente ignorado em Portugal nos últimos 30 anos) é uma das acções mais efectivas para resolver muitos dos nossos problemas de eficiência e mobilidade. Vemos hoje, felizmente, alguns países europeus a (tentar) seguir uma política efectiva de redução de emissões de CO2. É notável que na Alemanha haja uma cidade (não me lembro qual) que é basicamente autosuficiente no consumo energético doméstico, utilizando a energia solar(!). Este facto ainda é mais notável, não vivêssemos nós em Portugal.

Não vamos ser ingénuos a ponto de pensar que, de um momento para o outro, todos nós abdicamos de um conjunto de comodidades em prol de um melhor ambiente. Confesso as minhas dúvidas em admitir que consigamos chegar a algum lado. Não que seja tecnologicamente inatingível, basta deixarmos caír alguns preconceitos relativamente ao nuclear, mas porque o desenvolvimento económico se faz à custa da energia dominada por uma concepção economicista e redutora do mercado. Por exemplo, a indústria do carvão Australiana é poderosíssima e tem feito as pressões necessárias para que a Austrália continue a explorar, consumir e exportar carvão, que é tão somente a pior fonte de energia para o agravamento do efeito de estufa. E o chineses vão por esse caminho. O que nos deixa numa situação de impotência a pensar que qualquer esforço que haja da nossa parte irá ser basicamente neutralizado e agravado pelo curso de desenvolvimento que ocorre noutros pontos do globo.

Se calhar será preciso um abanão mesmo! E como diz a Extravaganza, só de olhar para os gráficos assusta, e nós ainda nem sequer provámos as consequências dos valores que eles apresentam....

No fim disto, também só desejo que fiquemos todos bem! :)

strange quark said...

Rita: um pedido descarado de uma estimada cliente, que ainda por cima bem me lembro ter sido a primeiríssima comentadora nesta chafarica, só pode ser deferido pela gerência... :))

Desejos que a organização corra pelo melhor.

A propósito: a Extravaganza andou por aí a contar espingardas para fazer lóbi (em bom português) para que os iLiKETRAiNS venham cá... what do you think?

rita maria josefina said...

Acho uma óptima ideia. eu gosto muito de iLiketrains,e devo confessar que ando seriamente a pensar nisso. mas também tenho que dizer que este ano, mais um concerto é-me financeiramente impossível... a não ser que conheças alguém com muito capital que se queira associar a mim... :)
BOM mas falando de coisas descaradas!!
Se posso fazer publicidade aqui vai ela!

Meninos e Meninas, frequentadores aqui da 'chafarica' devo anunciar que no dia 30 de Novembro, pelas 22 horas, os Alloy Mental (Belfast) vão tocar no musicbox! para abrir o concerto vão estar presentes os Cartell 70 e a Woman in Panic (projecto de Pedro, vocalista de you should go ahead)
O preço dos bilhetes em venda antecipada é de 10 euros, e no dia 12 euros - ambos com direito a 3 euros em bebida!
PESSOAL VÁ LÁ DIA 30 NOVEMBRO!!
Mais informações no blog - www.pimponetaproductions.blogspot.com

Origadinhos SQ :) ai de ti que não vás! rogo-te uma praga 'prótóneana':D

Anonymous said...

Strange pelos vistos a Condoleezza vai-se chegar à frente... a ver vamos no que isto vai dar.

...

abraço

Black Cat said...

Viemos convidar-te para uma visita ao nosso beco, bem escuro, nas traseiras da tua casa... Pois é, parece que o nosso blog já está a funcionar. Muitas novidades estão para aparecer ainda e posts novos todos os dias, catdepartments de música, desporto, cinema, leitura e eventos, gatoterapia... Estás convidado para nos acompanhar no blog mais felino da blogosfera:

http://sevenblackcats.blogspot.com

Miauuuuu