Sunday 10 February 2008

Balanescu Quartet @ CCB (7 de Fevereiro de 2008)

Após um longo jejum de concertos, acabei por iniciar o ano cruzando-me com velhos conhecidos: o Balanescu Quartet. Segundo os promotores, a Incubadora d'Artes, tratava-se de um retorno após 10 anos de ausência dos nossos palcos. Pelos vistos, a promotora deve achar que a Casa da Música fica no Burkina Faso, e talvez uma leitura do blogue do Puto elimine equívocos desnecessários. Passaram, de facto, quase 10 anos desde que eu os vi numa actuação ao ar livre que me deixou siderado. Não estava à espera das mesmas sensações, não só porque as condições são completamente diferentes mas também porque há sempre algo de irrepetível nos momentos que consideramos admiráveis. O mesmo não parece ter pensado a maior parte da assistência. Para iniciar a noite, sinto logo que sou mal recebido, pois no momento em que me dirijo aos assistentes para me sentar pesou à minha volta uma certa aura pedante, que me deixa uma triste consternação pelas atitudes provincianas desta ambiência lisboeta. Já durante o concerto ainda haveria de me deliciar interiormente com um sorriso irónico pela cereja em cima do bolo deste peculiar ambiente, irrepreensivelmente colocada pela maioria da assistência, na ignorância que nunca se deve aplaudir uma obra musical entre os seus andamentos. Entre isto e o tipo com o Mercedes topo de gama, exibindo a pulseira dourada a chocalhar no relógio metalizado vindo da feira da ladra, óculos escuros, e anel vistoso no dedo mindinho, não há muita diferença.


O Balanescu Quartet entrou em palco a horas, com Alexander Balanescu (mais o seu inseparável chapéu negro) e Kathryn Wilkinson nos violinos (pena não ter a Clare Connors, que era uma das forças criativas do grupo), James Shenton na viola e Nicholas Holland no violoncelo. Dividido em duas partes, o concerto inicia-se com Alexander Balanescu a fazer a introdução aos temas. O espectáculo começa com uma longa peça musical, a última que Alenxander Balanescu compôs para uma performance de um artista da República Checa. É uma suite com 6 andamentos e bastante agradável de seguir, possuindo momentos de grande tensão e dramatismo, fazendo por vezes uso do diálogo entre instrumentos e opondo sequências musicais com predomínio de graves alternadas com sequências onde predominam os agudos. Nas partes mais convencionais nota-se que Alexander Balanescu tem muita dificuldade em se despir das referências de Michael Nyman. Quanto às pausas nas peças musicais com andamentos, estas fazem parte do seu discurso e como tal devem ser respeitadas e não interrompidas, mas a maioria da assistência fez questão de ignorar o assunto por 5 vezes. Após um curto intervalo, o quarteto volta ao palco, agora para nos brindar com peças musicais mais afins da obra editada disponível. Começa com um dos primeiros temas compostos por Alexander Balanescu para o quarteto, uma espantosa canção, dita de amor, que deriva rapidamente para um universo mais caótico e dissonante, num registo que me fez lembrar a sua actuação de 1998. Seguiram-se duas peças do último trabalho editado de originais, “Maria T” (2005), “Aria” seguido de um tema com referências ao folclore Romeno. As duas composições seguintes provinham do álbum “Luminitza” (1994), porventura o seu trabalho mais consistente. O quarteto apresentou o tema “Still With Me”, num arranjo que usou música gravada para colmatar as naturais limitações que uma formação deste género tem para produzir todas as sonoridades originais do tema. Foi o momento fraco do concerto, pois a mistura simplesmente não resultou ao vivo e deixou no ar um quê de artificial. A seguir os músicos pegaram na excelente peça “Luminitza”, que dá o título ao álbum e pode dizer-se que, aqui, ganharam o público, apesar de terem estado um tanto ou quanto embrulhados na parte final da peça. Mas acabaram por se saír bem, a ponto de arrancarem uma ovação que os obrigou a voltar ao palco. O concerto terminou com a adaptação do tema “The Model” dos Kraftwerk. A julgar pela reacção espontânea do público aos primeiros acordes, era no fundo isto que a esmagadora maioria estava à espera. Saíram seguramente algo desiludidos, mas ainda bem, pois não considero que esta seja a mais interessante das facetas que o Balanescu Quartet podia ter trazido. Nota negativa para a acústica da sala conjugada com o sistema de som, que por vezes engordava os graves do violoncelo raiando a distorção, o que se tornava desagradável ao ouvido de quem se encontrava na plateia.

Resultado: um bom concerto, merecedor de uns 3,5/5.

5 comments:

rita maria josefina said...

qual incubadora de artes! tu tens é de começar a ir aos concertos da pimponeta! ai podes fazer o que quiseres e bem entenderes, que quem manda sou EU PAH! :D
ouvi dizer que eles vão dar um show case na fnac.. aproveita! não se já foi ou se ainda vai ser.. e será nas fnacs da zona de lisboa, alfragide, cascais e almada! aproveitas e matas logo dois... :)

rita maria josefina said...

hmm nevermind...
já foi =|
eu e o meu bad timing!
:D

O Puto said...

Se não fossem as versões dos Kraftwerk nem as colaborações com o Michael Nyman, provavelmente nunca teria conhecido este violinista. Serviu como porta de entrada.
Quanto ao facto da promotora ter ignorado o concerto no Porto há 2 anos, senti-me na obrigação de alertar os responsáveis do Theatro Circo, do qual recebo newsletters.
Abraço!

Anonymous said...

strange,

Não tem nada a ver com o assunto... Faço-te só o pedido de divulgação para adoção do meu cão, por favor. Em muito breve vou sair do país e a pessoa que ia ficar com ele desitiu à ultima da hora. Era uma casa temporária e outra situação mais urgente surgiu.

Os canis da zona estão atulhados e não são de maneira nenhuma solução.

Obrigado, abraço

strange quark said...

Rita: não sei quando poderei ir a uma das famosas produções da Pimponeta, mas quando acontecer espero ser muito bem recebido... eheheh! :)

Confesso que já ando um bocado fora destes circuitos de concertos mas há algumas atitudes das pessoas que me aborrecem profundamente, principalmente quando denotam falta de educação. Mas depois olha-se para a fauna e pensa-se que não são pessoas que (em princípio, note-se) terão tido falta dela em casa. As coisas têm de fazer algum sentido, não é? Senão cai-se no ridículo.

Puto: É um facto que as interpretações das composições dos Kraftwerk são fenomenais... já o Michael Nyman, ao fim de um tempo é mais para o aborrecido.

Estive quase para mandar uma mensagem para a produtora por causa da menção à ausência do Balanescu Quartet dos palcos nacionais há 10 anos, mas se aquilo não sai no momento esquece-se e depois parece fazer pouco sentido referir isso mais tarde...