Thursday 15 May 2008

É a Humanidade Que, Lentamente, Vai Morrendo

Ter lido recentemente que Abdel-Qader Ali, um nome que nada me dizia a mim nem aos milhões que habitam este Mundo, matou a sua própria filha, Rand Abdel-Qader de 17 anos, com a ajuda dos irmãos desta no passado dia 16 de Março por se ter simplesmente apaixonado por um soldado britânico, deixou-me um nó na garganta e uma angústia revoltada. E fez-me pensar sobre as milhares (ou milhões) de injustiças que se praticam por esse mundo a pretexto de um conjunto de crenças religiosas que são justificação vazia para coisa nenhuma, mesmo que as nossas consciências de europeus de espírito liberal nos intimem a respeitar as diferentes culturas. Pois eu acho que devemos dizer BASTA! Chega de falsos moralismos e atitudes politicamente correctas de condicionar os nossos comportamentos em função dos outros quando os outros se estão positivamente nas tintas para os nossos. Respeito pela cultura e tradições dos povos sim mas não à revelia dos princípios mais elementares de respeito pela vida, pois não andámos a percorrer um caminho de séculos a torturar, escravizar, matar em nome de um Deus que tem mais sangue nas mãos que o mais cruel dos homens no planeta, chegando a ideais e valores de respeito por essa vida humana para de repente abandonarmos essas mesmas conquistas. Conquistámos o direito à liberdade de nos exprimirmos com respeito pelo próximo e não para condicionarmos essa mesma expressão por pretensamente ferir a susceptibilidade de um bando de fundamentalistas, religiosos ou de outra estirpe. E porque a culpa dos nossos antepassados não transparece para nós da mesma forma que não faz sentido julgar atitudes e actos do passado à luz da lei e princípios do presente, mais o silêncio torna vã a morte das vítimas passadas às mãos dos seus carrascos. E digo isto na consciência que em tempos foi o mundo árabe que demonstrou aos europeus, que não passavam de uma corja de bárbaros, os valores da tolerância e convivência entre as diferentes crenças religiosas e quem preservou os tesouros do conhecimento humano tendo, ironicamente, contribuído de forma fundamental para o progresso social (e não só) do ocidente infiel. Não devemos confundir a floresta com a árvore, mas infelizmente há vastas áreas que não merecem o mínimo respeito e atitudes como as que motivaram a minha indignação não merecem qualquer perdão, por muito que invoquemos um Deus misericordioso que não é mais que uma patética invenção humana criada para nos auto-ilibarmos. É angustiante constatar no meio desta barbárie que são sempre os mais fracos que sofrem e é por eles que devemos lutar e denunciar, sejam as mulheres, as crianças ou os enjeitados. Eles não merecem que os abandonemos, pois são a pesada moeda de troca de jogos geopolíticos internacionais que cobardemente os nossos governos se recusam a condenar e denunciar. Esta deveria ser a verdadeira luta dos soldados.

2 comments:

Anonymous said...

... se achas que Deus é uma invensão, como é que estas tão revoltado com ele? Se não existe, como é que dizes que tem sangue nas mãos? ... que não tem! O sangue está nas mãos dos homens.

Sabes uma àrvore É a floresta. O uno É o infinito. A compreensão da fé faz-se de dentro para fora, do que o eu como o individuo extrioriza...

Olha strange não quero estar para aqui com lições sobre qualquer coisa, sou só uma pessoa que acha que a revolução é feita a começar por ela própria... Que tenta mudar no dia a dia aquilo a que consegue chegar...

A ira tolda sempre a visão e as coisas nem sempre são o que parecem...

Fica bem Strange

P.S. - Não Strange, não pertenço a nenhuma seita manhosa... ;)

strange quark said...

yellowastronaut,

o deus que falo é obviamente o institucional e é um fantasma onde os homens projectam não só os seus anseios mas também todo o seu ódio. É nesse sentido que digo que tem as mãos cheias de sangue sendo que no fundo são os próprios homens que as encheram de sangue ao longo dos séculos. Mas para dar um exemplo, o antigo testamento na bíblia está todo ele cheio de um deus cruel e vingativo.

O problema da religiosidade dos povos é quando levam a "palavra" divina à letra, sabendo nós que essa palavra nunca foi divina mas colocada pelos homens na boca de deus para servir os seus interesses num dado momento.

Tenho um respeito profundo pela religiosidade e espiritualidade individuais, em que cada pessoa acredita em deus à sua própria medida, sejam cristãos, muculmanos, budistas ou outra coisa qualquer. Não tenho, isso sim, muito respeito pelas respectivas instituições porque acabam por ser elas que instigam atitudes como as que me fizeram libertar a revolta.

Tens razão quando referes que a árvore é a floresta. Lembrei-me do poema de John Donne que é epígrafe do livro de Hemingway. Não o sei de cor, mas no fundamental defende a tese que "nenhum homem é um promontório" e termina "por isso não perguntes por quem os sinos dobram / eles dobram por ti"

O Mundo é complexo para ser reduzido a um simples esquema a preto e branco. Há muitas zonas cinzentas, mas isso não nos deve impedir de ver e condenar a barbárie, venha ela de onde vier.

Obrigado pela mensagem e um abraço para ti... :))