Friday 2 May 2008

E Se De Repente...!?


...alguém nos oferece uma dose de álbuns de música que demoram a consumir, alguns dos quais conhecemos mais ou menos mas que nunca demos a devida atenção? O mais provável é que alguns nos surpreendam positivamente, mas raros serão aqueles que nos transportam à estratosfera dos sentidos. Ora os The Shins não são propriamente novidade, mas dizer que os conhecia, como quem conhece os amigos ou os familiares, na verdade não conhecia. Para mim eram uma banda simpática que emanava uns sons revivalistas dos sixties o que, logo à partida, me deixa de pé atrás. As simpatias por Beatles e companhia nunca foi muito saudada por estas bandas, embora dê por mim a saber trautear uma dose significativa das suas músicas (com letras e tudo!). Aquilo entra no ouvido e os rapazes até tinham jeito para a coisa, mas para mim eram uma cambada de cotas e um gajo na alvorada da adolescência não ligava a coisas antigas do passado (manias de miúdos...). Voltando ao fio da meada, eis que desde cedo em 2007 se ouve o primeiro single do álbum “Wincing the Night Away”, “Phantom Limb”. Foi daquelas músicas que, mais uma vez, um tipo distraído classifica de “simpática” e que vai ignorando porque não consegue fazer aquele “clique” interior e que esperamos que ocorra sempre que deparamos com algo de novo. Não! Esta era daquelas músicas cujas virtudes estavam escondidas e das que os meios de divulgação musical correntes não lhes conseguem fazer justiça pois falta ouvir-lhes a alma e a personalidade, o que só reforça a importância de ouvirmos música em condições e em sistemas que lhe dão a devida dignidade. Claro que ainda apareceram mais dois singles do mesmo álbum, mas o preconceito estava enraizado pela primeira impressão que se ancorava numa indiferença geral e que inevitavelmente se alastrava a tudo o que dali saía. Ainda assim, os temas “Turn On Me” e “Australia” auspiciavam algo de mais interessante, mas não o suficiente para desencadear uma reviravolta na minha opinião. Agora que, graças à alma gentil de uma amiga, tinha em mãos uma mão cheia de bits sonoros (se bem que comprimidos, se forem bem processados dão conta do recado com alguma dignidade) vou vagueando pelas diferentes paisagens sonoras colocadas ao meu dispor. Um dia, decido vaguear pelo “Wincing the Night Away” dos The Shins. E assim a paleta de sons vai desfilando serenamente perante a minha mente embevecida a qual se vai vergando sempre e cada vez mais à beleza que vislumbrava. Como é que foi possível tudo isto nos ter passado ao lado? As melodias são deliciosamente belas sem serem simples, mas também sem serem complexas. As notas encaixam na prefeição, os sons usados são de um requinte e subtileza irrepreensível e as camadas sonoras que se vão acrescentando têm aquela virtude de serem na medida mais do que exacta: de menos tornavam-se vulgares e de mais seriam uma aberração. Assim encontram-se no ponto que só o verdadeiro génio artístico as consegue colocar de quando em vez, e estes tipos conseguiram-no várias vezes. A sonoridade faz lembrar os anos 60, mas os sons e a atmosfera são modernos, frescos e revigorantes. E vou-me calar de imediato porque as palavras que escrever nunca farão justiça suficiente a tal obra de arte. Estimados clientes, acreditem que nos encontramos perante um dos discos que ficará nos anais da década corrente. (5/5)

7 comments:

extravaganza said...

Sim senhor, um texto ao nível do álbum!! Estou maravilhada!

M.A. said...

Bem vindo ao clube! :)
A seguir, recomendo o "Oh, inverted world", o primeiro dos discos dos Shins. Para mim, não só melhor deles, como um dos melhores desta década. E também o mais psicadélico! :)

Abraço

O Puto said...

Óptima descrição de um óptimo disco. Não foi à toa que encabeçou o meu top de álbuns de 2007. Abraço!

strange quark said...

Extravaganza:

Com tamanho elogio ao texto só me resta agredecer sentidamente a quem me proporcionou a inspiração para o escrever... Obrigado! :) E o Patrick Watson é outro que também me conquistou e de quem tinha apenas umas impressões vagas e pouco favoráveis.

M.A.

Vamos sempre a tempo de recuperar o tempo perdido, pelo menos nestas coisas. Pouco tempo depois de ter recebido a prenda da Extravaganza tinha uma encomenda de discos para mandar vir que incluía, entre outros, os Atlas Sound a que rapidamente acrescentei os The Shins. Agora ando com uma vontade danada de conhecer o resto.

Um abraço.

Puto:

Confesso que, em certa medida, foi uma surpresa danada este disco, mesmo sabendo que no teu caso e do M.A. ele ter constituído o topo das vossas preferências. Há muito tempo que um disco não me causava tamanha reacção emocional, mas de facto apaixonei-me pela beleza e requinte daquelas músicas.

Um abraço

extravaganza said...

Pois, agora a culpa é minha! A culpa é sempre dos outros!!! :P

Sabes quem cá vem, sabes, sabes?!?! :)))

Wellvis said...

Então sr Mario, tudo bem ctg?
Eu andava sumido da scaixas de Pandora da blogosfera mas lia tudo lá do meu Google Reader no conforto do lar ;).

Qto a este disco, devo ser um dos pouquíssimos que não gostaram nada. Nem os hits passaram aqui pelo crivo. Agora são os MGMT que toda gente anda a falar e que têm uma única música gira (vá lá, duas)tou a ver que tou a precisar mudar o medicamento...

Fiquei curioso foi com a Jesca ali ao lado que andas a ouvir.

Mas é isso, abraço grande.

strange quark said...

Hey Wellington! Sejas bem aparecido. Também acompanho as tuas escritas no Reader mas por vezes a oportunidade e disponibilidade de comentar não é muita. Lambras-te do café que ficou em suspenso? Imagino que tenhas andado ocupado, mas agora que me vou libertando aos poucos creio que poderemos combinar qualquer coisa.

Quanto a gostar ou não dos "The Shins", e acho que não vale a pena repetir-me para dizer o quanto adorei este disco, no fundo não é assim tão relevante essa observação. O gosto que nutrimos por músicas ou grupos depende de muitos factores os quais nem sequer se relacionam com quaisquer aspectos objectivos. Eu tenho uma embirração de anos com os Beatles, e são considerados unanimemente pela crítica musical como os maiores da cantadeira. Eu gosto (e muito) de rock progressivo, e essa mesma crítica musical esclarecida desanca no estilo com uma força inaudita como não se vê em qualquer outro género musical. Em qualquer dos exemplos que dou (quer da minha parte quer da outra parte) há uma dose substancial daquilo a que posso designar sem problema como preconceito. Além disso, alguns de nós gostam mais de alguns estilos musicais, outros de coisas completamente diferentes e o facto de uma música conseguir ou não despoletar um clique interior não é algo que se consiga, por agora, explicar. Simplesmente acontece... ou não! That's it!

E quanto aos MGMT, assino por baixo e acrescento os Vampiros de Fim de Semana, que ainda são piores.

A Jesca é uma boa onda.

Um abraço