Monday 1 October 2007

Espanta-Espíritos*

A propósito dos comentários aos resultados das votações da segunda série de álbuns de família da rádio Radar, veio à baila a indiferença para com o disco dos Spiritualized, lançada ironicamente pelo Prometeu, em cujo blog podem apreciar alguns momentos musicais da banda. A propósito disso dei comigo a pensar até que ponto um programa de divulgação como é o “Álbum de Família” tem efectivamente esse papel. Normalmente ouço sempre o programa, quando me é possível, e tomo-o como uma oportunidade para conhecer muito do que não conheço, mas dou comigo a cogitar que o comum dos mortais normalmente só parece dar atenção ao que já conhece e até está pouco receptivo à novidade do que foi feito no passado (basta analisar os resultados das votações). No lote de discos que passaram na primeira série, lembro de ter pegado em grupos como os Go-Betweens, os Depeche Mode ou os My Bloody Valentine e ser levado a descobri-los ou simplesmente redescobri-los. O caso dos Depeche Mode foi claramente uma redescoberta já que os conhecia, e até muito bem, do seu primeiro disco. O suficiente para os arrumar de lado e não lhes ligar pêva daí para a frente. Os outros eram somente referências dispersas.


Os Spiritualized foram, para mim, uns ilustres desconhecidos até que por circunstâncias retorcidas me vêm parar aos ouvidos. Já aqui referi que em 1998 vi o Balanescu Quartet ao vivo, e o impacto dessa actuação foi tão forte que andei uns tempos à procura dos seus discos (coisa difícil na pasmaceira nacional) . Ao fim de um tempo lá consegui uma cópia do “Luminitza”. Como estavam integrados no lote de convidados que antecederam a actuação de David Byrne (embora tenham sido os meus verdadeiros cabeça-de-cartaz), não me foi muito difícil encontrar o disco de Byrne onde o quarteto colaborava. E vai daí, de procura em procura, dou com outra das suas colaborações: “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space” dos Spiritualized. Ora acontece que obras que me cativam imediatamente da primeira à última nota acabam por predurar na minha adoração durante anos e até agora nenhuma deixou ainda de me encantar. Ainda não há muito tempo, no blog do Puto, dei com uma referência a outros ilustres desconhecidos denominados Swell, que no mesmo ano de 1997 editam um disco de seu nome “Too Many Days Without Thinking”. A espantosa música “Sunshine Everyday” era uma vaga memória sem referência temporal, mas não conseguia fazer qualquer associação com o nome da banda que me dizia tanto quanto o nome do primo afastado do fulano que mora três quarteirões abaixo da minha casa. Depois de ter arranjado recentemente um exemplar do disco afirmo que, não tendo tido um impacto imediato, me rendo à obra extraordinariamente consistente que é, daquelas que sucessivas audições atentas nos levam a gostar cada vez mais do disco. Esta é, também, uma característica rara nos dias de hoje, onde a música se consome com a rapidez com que se fuma um cigarro. Assim, o ano de 1997 que ficou na memória de muitos como o ano de “OK Computer” dos Radiohead (eu incluido), assistiu à nascença de outras obras, mais ou menos esquecidas, das que mostram a necessidade de um bom serviço público de divulgação de música.

E para finalizar, fica em exposição lateral uma peça desse disco espantoso que é “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space”: “Broken Heart” toca profundamente no nosso íntimo e os arranjos de cordas são da autoria de J. Spaceman, o nome por detrás dos Spiritualized, e Clare Connors, do Balanescu Quartet.

Though I have a broken heart
I'm too busy to be heartbroken
There's a lot of things that need to be done
Lord I have a broken heart


*Espanta-Espíritos é, ao mesmo tempo, uma referência ao nome dos Spiritualized e uma homenagem a António Sérgio, já que representa o nome de uma rubrica do seu programa “Grande Delta” emitido na extinta XFM. E porque é de pessoas como o António Sérgio que necessitamos para nos fazerem descobrir precisamente o que nem fazemos sequer ideia que existe. Quanto aos que acham que António Sérgio é dispensável, o tempo encarregar-se-á de os enterrar nos confins do esquecimento colectivo, pois só perdura na memória quem alimenta os espíritos famintos dos nossos sentidos.

6 comments:

Anonymous said...

"I keep moving on for a while..."

...esta música dá cabo de mim...

Fica bem strange...

P.S.- Extinta XFM... ainda estou em fase de negação...

strange quark said...

Esta música é muito bonita, apesar de triste e angustiante. E o disco é fabuloso, como um todo. Coerente, como raros o conseguem ser. E é engraçada a forma como, por vezes, as coisas nos vêm parar às mãos.

Quanto ao "espanta-espíritos", lembro-me que uma das bandas que o António Sérgio apresentou nessa rubrica do programa na XFM foi os Sepultura, salvo erro o álbum "Roots".

Fica bem... :)

Anonymous said...

rsrssss...
xxiii o que eu gosto dessa gente...

a malta é feita de calma mas às vezes nem por isso...

És um tipo atento... :)

abraço strange...

Unknown said...

Spritualized esteve mesmo para abrir a minha última sessão do passado dia 4/10. Naum foi pq tive 1 pequeno atraso ao jantar e já naum havia tempo para a encaixar, infelizmente.

Ficará para uma próxima oportunidade o tema "Lord Let It Rain On Me" :))

E a ver se também dás lá um salto da próxima vez! :P

Hugzz Nostálgicos

strange quark said...

Kraak, está prometido numa próxima oportunidade!

O Puto said...

Atrevo-me a prometer os Spiritualizes, caso apareças numa das minhas sessões em Lisboa. Obtigado pela recordação e pela referência. Abraço!