Breve Trapalhada de Quase Tudo (III)
Ler a Parte II
O conteúdo melhora substancialmente quando se começa a aproximar das questões sobre a vida na Terra (praticamente a última metade do livro), a sua origem, evolução e episódios de extinção, terminando com a evolução do Homem e as vicissitudes das discussões académicas sobre o assunto. Ainda assim, aparece um excesso de simplificação em algumas explicações sobre as extinções em massa. Reconheça-se também que esta é sempre uma questão sensível em divulgação científica, já que o binómio simplicidade/rigor funciona como um cobertor demasiado curto para a cama onde nos deitamos, ou seja, se queremos tapar o pescoço o mais certo é os pés ficarem de fora, e vice-versa. No entanto, mesmo aqui deparei com mais uma asneira. Na página 320 diz-se “O trilobite tinha uma estrutura corporal composta por três partes, ou lobos – cabeça, cauda e tórax – daí a origem do nome.” o que está completamente errado, já que esses lobos existem e são de facto 3, mas dispõem-se longitudinalmente ao corpo do animal, sendo por isso absurdo que façam a divisão entre cabeça, tórax e cauda conforme se mostra em figura anexa.
Os restantes problemas devem-se à tradução e edição da obra. Incluem-se exemplos como o termo “peridotite” (a tradutora optou por deixar a palavra inalterável) o qual deve ser traduzido para “peridotito”. Aliás, a tradução dos termos de rochas e minerais é até bastante simples, uma regra comum (com várias excepções, note-se) corresponde à substituição da terminação –ite para –ito, talvez para não se confundir com alguma infecção. No entanto, numa das excepções aparece “piroxeno” em vez de “piroxena”. Outro aspecto que me deixou intrigado foi o termo “condutos”, que pensei serem a tradução do inglês “conduits” (e porque não “condutas”?), mas que a dado momento também significa “chaminés”, o que me deixa na dúvida onde se encontra o problema, se na tradução ou no original, já que as fontes hidrotermais submarinas formam “chaminés” (“hydrothermal chimneys”), referidas noutro contexto no livro. Há ainda a salientar a insistente referência a “trilobite” no masculino, quando na realidade, na literatura da especialidade, é referida no feminino (nem aqui o género feminino escapa ileso!). Também se deixa o termo “interglaciárias” assim em suspenso, sem se perceber se se refere a épocas, ou a períodos (neste caso “interglaciários”). É basicamente a mesma coisa, mas se a palavra é para sobreviver isolada no texto deveria ser “interglaciários”.
Para finalizar, na contracapa encontramos várias citações de apreço pela obra, e ainda a referência que este livro recebeu o Aventis Prize 2004, que é um prémio atribuído pela Fundação Aventis, e gerido pela Royal Soceity, para obras de divulgação científica. Quanto às citações:
“Uma obra para aprendermos tudo o que os nossos professores não nos ensinaram” America’s Book Review – ainda bem que não nos ensinaram!
“Um guia das descobertas científicas que dificilmente poderá ser melhorado” Antony Daniels – seja lá quem ele for... provavelmente necessitará de melhorar a sua cultura!
“...uma obra que reflecte a mais maravilhosa forma de educar, todas as escolas seriam um lugar melhor se este fosse o seu número um da bibliografia científica” The Times Literary Supplement – Ainda bem que não é! E esta mania de pensar que se aprende a brincar e sem esforço tem de ser varrida das ideologias pedagógicas que por aí grassam.
Apetece terminar dizendo que o humor, efectivamente, sobrevive para além da obra original...
Boas Leituras!
1 comment:
Bom, agora que já temos uma errata em anexo, a leitura terá um rigor científico que pelos visto falta ao livro...
Muito boa aquela dica dos itos e ites!
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