“Where is everybody?”
Era esta a interrogação que o físico italiano Enrico Fermi (Prémio Nobel da Física em 1938 e um dos pais da bomba atómica) colocava aos entusiastas da existência de vida inteligente aos magotes pelo Universo. A pertinência da observação de Fermi era tão grande que acabou por ficar conhecida como o “Paradoxo de Fermi”. A existência de vida extraterrestre tem desde há bastante tempo ocupado a imaginação de muita gente, se pensarmos em H. G. Wells e o seu livro “A Guerra dos Mundos”, ou a imaginação fértil de Percival Lowell que atribuía aos marcianos a construção dos famosos canais que observava na sua superfície. Há medida que o sistema solar foi sendo conhecido, as hipóteses de existência de vida noutros locais que não somente no Planeta Terra foram perdendo fulgor, mas não a esperança. Hoje acha-se muito provável que a vida possa ter-se desenvolvido, de forma rudimentar tal como o foi na Terra, noutros planetas do sistema solar atendendo ao conhecimento que existe actualmente sobre formas de vida em condições extremas. Se essa vida sobreviveu até aos dias de hoje mantém-se como uma interrogação à qual ainda se procura uma resposta. No entanto, na imensidão do Universo, as palavras de Carl Sagan sobre a hipótese de estarmos sózinhos são arrebatadoras: “é um imenso desperdício de espaço”.
Na realidade, quando pensamos no Universo, as hipóteses parecem multiplicar-se por milhões (literalmente). Nesse sentido, em 1961, Frank Drake escreveu uma equação que se espressa da seguinte forma:
N = R* × fp × ne × fl × fi × fc × L
onde cada variável representa o seguinte:
N representa o número de civilizações na nossa galáxia com as quais poderíamos contactar;
R* é a taxa de formação de estrelas na nossa galáxia;
fp é a fracção destas estrelas que têm planetas;
ne é o número médio de planetas que podem suportar vida por unidade de estrelas que possuem planetas;
fl é a fracção do valor anterior de planetas onde na realidade se desenvolveu vida em algum momento;
fi é a fracção destes planetas onde acabou por se desenvolver vida inteligente;
fc é a fracção destes planetas onde a vida inteligente que se desenvolveu está disposta a comunicar exteriormente;
L é a esperança de vida dessa civilização para um período em que pode comunicar através do espaço interstelar.
A equação de Drake, como é conhecida, incendiou um entusiasmo que, com altos e baixos, ainda persiste nos nossos dias através do projecto SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence) actualmente um instituto de fundos privados que se dedica em exclusividade a “escutar” os céus por algum sinal que indicie a presença de almas gémeas algures na nossa galáxia. O projecto em si tem sido algo contestado e acusado de inútil, mas o sentido romântico que esta demanda tem não deixa de ser igualmente importante pois, o que aconteceria se viessem a detectar alguma coisa? Sem dúvida representaria a descoberta mais sensacional de toda a história da humanidade, e há quem dedique uma vida por este sonho. E sem querer emitir juízos de valor sobre a pertinência de tal empresa, onde estaríamos hoje se nos séculos passados não tivessem existido pessoas com o sonho de um dia, por exemplo, poderem voar? Terá seguramente parecido a muitos que as ideias e os esboços de Leonardo da Vinci eram meras fantasias irrealizáveis. Que dizer nos dias de hoje?
Para termos uma percepção desta realidade, lembremos que detectar emissões electromagnéticas vindas do espaço exterior implica que o que hoje observamos nos céus foi emitido há muito tempo da fonte. A luz anda muito depressa, mas a sua velocidade é finita: 300.000 km por segundo. A luz do Sol demora cerca de 8 minutos a chegar à Terra. Nós somos emissores activos em grande quantidade de ondas electromagnéticas desde cerca dos anos 40/50, com a vulgarização da televisão e telecomunicações. Significa que a Terra estará envolta por um halo esférico de radiação com cerca de 60 anos-luz de raio (1 ano-luz são cerca de 9,5 biliões de km). Se pensarmos numa civilização extraterrestre que empreende a mesma busca, das duas uma: ou se encontra dentro dos limites deste halo e poderá detectar esta fonte, ou então nada feito. Depois há a considerar a intensidade, e para uma dada fonte a intesidade de radiação que recebemos dela decresce com o quadrado da sua distância, ou seja, se estiver ao dobro da distância a que outra fonte equivalente se encontra (e que se considera unitária), a intensidade de radiação recebida é 4 vezes menor; se estiver 4 vezes mais distante é 16 vezes menos intensa. Mas mesmo para emissões tão fracas o seguinte exemplo é ilustrativo: se mandarmos alguém para a superfície da Lua com um telemóvel, o nosso satélite passa a ser a terceira fonte de rádio mais intensa do espaço que nós detectamos aqui na Terra.
2 comments:
Bom, devo dizer que fiquei com algumas questões a pairar na minha cabeça, depois da leitura deste post. A saber:
1. 3ª fonte de ondas rádio mais intensa do espaço que nós detectamos cá na Terra. Então e pode-se saber quais são as 2 primeiras?
2. O facto de não detectarmos nada na imensidão do Universo alcançável a nós, não significa que eles não estejam lá, certo? Eventualmente com as mesmas limitações tecnológicas que nós ou até maiores ainda. Acho que seria demasiada pretensão da nossa (Humanidade) parte pensarmos que estamos sozinhos no Universo. Eu acredito que não! Mas não quero dizer com isto que espero a qualquer momento que me entre um homenzinho verde pela janela...
Posts que deixam perguntas a pairar na cabeça... ainda bem! :)
Relativamente à primeira questão que levantas, não tenho a certeza quanto à resposta porque é uma citação de memória de um texto que li há cerca de 1 ou 2 anos na revista Nature. Mas creio que uma dessas fontes é um pulsar, a outra já não me lembro.
A segunda questão pode levar-nos bem longe... basta puxar pela imaginação. Mas o facto de não detectarmos nada não significa que não existam “outros” no Universo. Podemos colocar o problema de duas maneiras: se as formas de vida e comunicação são similares à nossa, e o que se está a fazer é uma procura que se baseia neste pressuposto, então outras civilizações serão capazes de nos detectarem se estiverem dentro do tal halo de radiação electromagnética que já enviámos para o espaço. Da nossa parte, e admitindo que perscrutámos todo o espaço à nossa volta sem sucesso, pode significar que ou não existem civilizações no raio de procura ou que a existirem não atingiram o mesmo patamar de desenvolvimento tecnológico que nós aqui na Terra (ou atingiram, mas a radiação emitida ainda não nos alcançou). Mas ainda podemos ir mais longe e perguntar até que ponto é que as formas de comunicação podem ser apenas estas que nós utilizamos. Aqui entramos no campo puramente especulativo, e se existirem outros meios de comunicação até pode acontecer que nós não os consigamos identificar como tal (é mais ou menos como tentar comunicar em bom português com os chineses sem que estes o reconheçam como meio de comunicação). Por outro lado, o que é a vida? Que outras formas podem ser, ou não, possíveis? Por exemplo, a vida na Terra desenvolveu-se e apenas sobrevive na ausência de raios ultravioletas (devido à abençoada camada de ozono que os filtra da luz solar) e dos próprios raios cósmicos que o nosso campo magnético muito gentilmente deflecte. Vivemos literalmente numa campânula, e não sobrevivemos às agruras do espaço exterior sem protecção (os fatos espaciais não são só para nos proporcionarem uma atmosfera respirável). O ser humano não é propriamente a forma mais adequada para sobreviver no espaço, nem nenhum outro ser vivo cá da Terra, com a excepção, possivelmente, de algumas bactérias. Pode ser possível a existência de outras formas de vida, não baseadas no carbono? O nosso conhecimento científico parece indicar que não, mas não é mesmo nada seguro que estejamos na posse de todo o conhecimento para afirmarmos isso peremptoriamente. Aliás, aqui já poderemos entrar num outro paradoxo, que será objecto de um post muito em breve e que é conhecido como o “Efeito Caracóis de Ouro (Goldilocks)” uma referência à história infantil “Caracóis de Ouro e os Três Ursos”. A minha opinião é que sabemos muitíssimo menos do que na realidade aparentamos saber.
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