Friday 13 April 2007

Dia Aziago

Foi assim, que me exprimi no blog da Radar. Hoje, sexta-feira 13 dei conta, logo de manhã, que o DN deixou de publicar o suplemento “”. Como que a fazer jus à má fama deste dia vim a saber mais tarde, através do blog da Radar onde descaradamente fiz a pergunta ao Nuno Galopim, que essa interrupção é definitiva. Já não sei a quantos episódios de desaparecimento de instrumentos de difusão cultural e informativa com qualidade assiti nos últimos anos. Assim de repente, nas ondas hertzianas, lembro-me da XFM que deixou órfã uma comunidade de ouvintes que, embora sendo uma imensa minoria, não foram suficientes para assegurar a viabilidade comercial da rádio. Manteve-se, na mesma frequência, uma VOXX que não era bem a mesma coisa, mas que acabou por desaparecer também. A TSF foi, desde há vários anos, uma referência na informação. A mesma TSF beneficiou, de forma substancial, com a extinção da XFM pois acabou por absorver parte da equipa desta. As melhorias musicais fizeram-se sentir, e a pouco e pouco foi construindo uma programação que era um “luxo” dentro do panorama nacional. Mas, como tudo o que é bom acaba depressa, há cerca de dois anos (estou a escrever de memória, por isso não tomem estas referências muito a sério) decidem importar da RR um indigente para seu director de programas, responsável também pelo inqualificável programa a “Idade da Inocência”. Foi o afundanço total. A TSF é, hoje, uma sombra sem substância do que chegou a ser. Na rádio, os programas de autor quase não existem. A Radar acaba por ser um oásis neste deserto de propostas radiofónicas, menos por mérito próprio e mais por falta de opções que o desejável. Faltam claramente alternativas.

Ao nível da imprensa escrita, o caminho parece continuar glorioso de afundanço em afundanço até ao enterramento total. A revista “Grande Reportagem” fez o calvário (sempre estamos na Páscoa) do costume: a novidade, a afirmação, o adormecimento, a reestruturação (leia-se, intenção de fazer desaparecer lentamente) e o fecho. O suplemento “Sons” foi o que, há já vários anos, me fazia adquirir o DN semanalmente. Ainda tinha o bónus das crónicas audiófilas do José Vitor Henriques. Depois veio a reestruturação (para a “”) com o abandono do José Vitor Henriques (a primeira perda). Recentemente ouvimos notícias que davam conta que a linha editorial do DN iria mudar e popularizar o jornal (que, como sabemos, é sinónimo de imbecilizar, ajavardar, mediocrizar). O suplemento “” não resistiu porque, claro está, não era popular. Hoje, portanto, comprei o Público e assim me manterei até que lhe aconteça popularizar-se porque já não alimento outra esperança que não essa. Se não acontecer, tanto melhor. Mais me custa ver que a “” tinha a mão segura de um Nuno Galopim que um dia decidiu seguir um sonho despertado em detrimento de uma carreira, seguramente ao nível do colega e aluno brilhante que foi.

De consolação, serve-nos a notícia da presença dos TV on the Radio no SBSR. The show must go on!

11 comments:

extravaganza said...

Viva Strange Quark!

O desaparecimento da 6ª, para nosso desconsolo, não me causa surpresa alguma. Mais, a mim constou-me mesmo que todo o jornal iria deixar de ser publicado [não sei se se poderá considerar esta informação segura ou se é um mero empolar do facto da 6ª deixar de ser publicada (à boa maneira portuguesa)].

É de facto uma grande perda e resta-nos adoptarmos uma atitude positiva e aguardarmos com expectativa novos projectos que possam vir a ser desenvolvidos (eu quero muito acreditar nisto!). Ironicamente (ou não) foi logo a uma 6ª feira 13. Não podia ser numa 6ª feira comum, ora!

TV on the radio, eis uma boa aposta para o alinhamento do festival! Consta que os rapazes dão um concerto muito, muito bom!

ps: nunca pensei que alguém da área científica fosse crente nos azares inerentes às 6as. feiras, 13. Tenho para mim que é uma 6ª como outra qualquer, e também tenho para mim que quanto mais acreditamos no azar, mais o atraímos :)

strange quark said...

Boa noite Extravaganza,

Desapontado pelo dia, sem dúvida, acima de tudo pelo facto de as opções culturais no formato de imprensa escrita ficarem reduzidas ao mínimo. Admito que o caminho que as coisas levam acabam por encontrar soluções alternativas. A internet é um exemplo disso, mas é também um mar gigantesco de informação, a esmagadora maioria de má qualidade. A sensação é que acabamos por ficar enterrados num monte de informação irrelevante.

Quanto às notícias sobre o DN, creio que não vão a esse extremo. Apesar de tudo, quem detém o jornal quer fazer dinheiro com isso. Pretende é fazê-lo à custa da tal popularização, não sendo por acaso que o actual director veio do Correio da Manhã (que belo exemplo, hein?). Mas na mentalidade de um capitalista matarruano, como acredito deve ser o tipo que manda agora no DN (é o mano do Oliveira das galinhas penduradas no balneário da selecção), desvirtuar um jornal como o DN e fazê-lo entrar em competição pelo mesmo mercado em que estão o CM, 24 Horas, e peças de joalharia afins perece-me meio caminho para a perdição total. Até porque os actuais jornais gratuitos irão fazer mossas acentuadas neste segmento do mercado (?) jornalístico. Isto admitindo que o público alvo de uma imprensa séria não desate a resvalar para aí.

Por outro lado, não deixa de ser um paradoxo que na actual sociedade portuguesa (vejam, por favor, o programa do António Barreto às terças-feiras. É obrigatório!) com maiores índices de educação se assista ao definhar da imprensa escrita desta maneira. Ainda que, por exemplo, no Reino Unido existem cerca de 3 a 4 jornais de referência para uma população de 50 a 60 milhões (5 a 6 vezes mais que neste canto).

Finalmente, não tenho superstições com números 13, nem com sextas-feiras. Quando vejo escadas no passeio faço questão de passar por baixo delas (sempre penso que se o tipo que lá está cair, não será em cima de mim). Além disso, o nosso Sporting enfiou 4 ao Marítimo. Pode lá esse ter sido um dia assim tão azarado!?

extravaganza said...

ahahahah

Grande Sporting que veio desmistificar as 6as feiras dia 13 !

Prometeu said...

O teu post trouxe-me também à memória o defunto Se7e, que apesar de resvalar de vez em quando para uma abordagem demasiado leviana de tudo e mais qualquer coisa, tinha pelo menos o grande mérito de ter uma linha editorial que não perdia o sentido de humor perante todos os fenómenos culturais. E enfim, foi-se como todos se vão... pessoalmente tenho saudades do Se7e.
Quanto à sexta-feira 13, não poderia estar mais de acordo: qualquer superstição que vivesse no meu espiríto teria sido fulminada pelo Liedson, dez meros segundos após me ter alapado à minha cadeirinha de plástico.
Um bom dia.

Unknown said...

Pois enfim, já foi aqui falado pelo Prometeu... ia também mencionar o Se7e que há muitos e muitos anos atrás comprava-o religiosamente. Possivelmente não irás acreditar, mas quando a XFM deu o último suspiro, as lágrimas vieram aos meus olhos... :Z Fiquei mesmo infeliz. Bah.

TVotR é uma óptima aquisição para SBSR. Tenho pena que não estarei cá para estar neste Festival. Seca!

Obrigado pela tua visita e espero que lá possas regressar sempre que quiseres e puderes.

Gosto deste blog. Suave e temperado como o dia de hoje. :)

Abraço!

LisbonGirl said...

Não concordo que a Radar não tenha mérito próprio. Tem o mérito de estar a fazer alguma coisa que mais ninguém faz em rádio, neste momento, com estas condições.

Também fiquei triste com o desaparecimento da 6ª, serve-me de consolo ter a colecção para releituras!

LisbonGirl said...

Esqueci-me de dizer - a propósito dos teus comments na Radar - que, mais importante do que as opiniões a quente sobre as preferências de cada um, é, na minha opinião, a redacção de comments bem redigidos e com ideias claras em relação ao que está em discussão, de outra forma não se percebe nada, nem se aprende nada. Por isso muito apreciei os teus "comments" exactos e moderados. Sabe bem que alguém consiga moderar os comments do pessoal de forma criteriosa, pacífica e ordeira!...

..."Repondo verdade ao jogo..." como diría Gabriel Alves!...E não resisto...SPORTING!:)

LisbonGirl said...

"A redacção de comments bem redigidos..." redigia eu, de forma redundante!!!!!:)
Cá estão as humildes, mas... pedagógicas, desculpas!:)

Mary Lamb said...

eu também reclamo!

strange quark said...

Antes de mais não quero deixar passar a referência do Prometeu ao golo-relâmpago do Liedson (fulmina qualquer coisa). Mal deu tempo para terminar uma prova de 100 m... Desculpem-me os restantes estas prioridades clubísticas.

Em seguida enviar uma nota de boas vindas ao Kraak e a Mary Lamb. Também relembro o se7e, que era há muitos anos comprado pelo meu irmão mas que, estranhamente, não continuei a adquirir eu próprio. Como amante de BD, poderei também nomear todas as revistas que se publicavam em Portugal, mas também lá fora, que acabaram por desaparecer. Há sempre novas formas de difusão, é um facto, e a pouco acabamos por nos habituar a elas.

Agora aproveito para falar de NIN, em resposta ao Kraak. Conforme digo no post anterior, no site pode-se ouvir, integralmente, o "Year Zero", bastando deixar o e-mail. O problema é que tem de se estar ligado à internet. Não serei um conhecedor absoluto de NIN. Tenho o fabuloso “The Downward Spiral” e conheço várias coisas dispersas de NIN. A opinião que tenho de Year Zero é o de um disco diferente do habitual (talvez daí o maior desapontamento dos seguidores mais fieis), com uma componente electrónica forte, canções catchy, ambientes soturnos e negros de grande beleza (“Greater Good”, “Another Version of the Truth” e “Zero Sum”), em suma, um grande disco. Tenho para mim que estou em presença de um dos melhores discos do ano (até agora, foi o melhor). Aliás, o facto de me ter prendido a atenção logo à primeira com a intensidade que foi, é sempre um bom sinal. Lembro-me do “OK Computer” dos Radiohead a produzirem-me um efeito semelhante.

LisbonGirl: obrigado pelo elogio aos “comments” na Radar, mas devo partilhar isso com outros que por lá deambulam, obstinadamente, como eu. O Muguele e o Prometeu também contribuem para isso. Quanto ao assunto da Radar, o meu comentário não retira o mérito próprio que a estação tem, simplesmente assinala que deve ser maior o seu empenho. Mas isto tem também a ver com o facto de a nossa insatisfação ser fundamental para nos melhorarmos a nós próprios e aos outros. E sim (os que não são, que me desculpem): SPORTING! :))

LisbonGirl said...

Sim, claro, Prometeu e Muguele, sem dúvida, também! Muito justa a observação! Assino!