Wednesday, 28 March 2007

O Portugal dos Pequeninos

Ao que consta, no último Domingo teve lugar uma votação que serviu de pretexto para eleger a personalidade de um português que, no fundo, foi bem pequenino. Este português teve a capacidade de moldar o país ao seu estilo de tal forma que, ainda hoje, encontramos marcas fortes na sociedade, ou não fosse o resultado desta peculiar votação reflexo disso mesmo. Esta personagem tinha também características assaz peculiares.

Tinha medo de saír de casa, e crê-se que o mais longe que se aventurou para fora do país foi a Badajoz.

Era poupadinho e guardava o dinheiro debaixo do colchão e nunca investiu no país e muito menos nas pessoas.

Não apreciava que as pessoas fossem à escola, pois achava que deviam dar o corpo ao trabalho bem cedo na vida. A Vida era a Universidade do povo.

A pobreza, cultural e material, a que os portugueses estavam votados era o maior garante da sua própria permanência no poder.

Rezava diariamente 3 pais nossos e 2 avé marias e assim mandava que se fizesse por todo o seu reino.

Mandava prender e matar quem o dasafiasse e se atrevesse a pensar de maneira diferente.

Castigava todos os mal comportados, cujo único crime era terem uma visão de modernidade para a sua vida e para a terra onde nasceram.

Tudo ainda sob a benção de uma igreja que se confundia com o estado e com o peso de séculos de atraso.

Gostava do mofo e do bafio, e fez com que impregnassem as entranhas do povo.

O direito de expressão, apesar de ilusório, só era permitido aos bons chefes de família.

Às mulheres não permitia acessos de autonomia e liberdade de movimentos sem consentimento do marido a quem deviam o voto de obediência eterno.

Fez do fado o triste fado de muita gente, assim como de Fátima e do futebol o ópio do povo.

Para defender terras distantes que não eram suas fez a guerra por uma ideia de império apodrecida e nunca percebeu que os sinais do tempo mandavam agir de forma diferente.

Era avesso à novidade, à boa disposição, à alegria, à liberdade, ao pensamento, à descoberta, à luz, no fundo, à vida.

Agora digam-me sinceramente: o português pequenino, mesquinho, invejoso, de vistas curtas, beato, parolo, teria escolhido outra personagem? Não creio. É por isso que eu, pessoalmente, tenho mesmo muito orgulho em ser diferente. Quanto ao que se passou no Domingo, por uma questão de dignidade e boa educação da minha parte, direi apenas que foi patético e infeliz.

3 comments:

Anonymous said...

Estimado sq, a tua análise na globalidade está correcta, embora gostasse de notar o seguinte: eu estou em crer que muito dificilmente o resultado seria distinto, porque queiramos ou não o português é mesmo um povo pequenino (em tudo) e sem grande brio; se não fosse um oliveira, a nossa escolha cairia num alvaro, num mário ou num bocage. Somos aquilo que somos, não haja ilusoes. Contudo num aspecto há que dar crédito ao sr. oliveira, bem diferente das gerações mais recentes: honestidade. Embora à sua maneira, doentia aos nossos olhos, o sr. oliveira nutria afecto e respeito por este pequeno espaço, apresentando um sentido de estado e de dever que não tenho visto repetido com a frequencia devida posteriormente. Abraço.

strange quark said...

Rantanplan,

Numa análise mais fria e racional, que é sempre difícil uma vez que as emoções atravessam-nos constantemente à frente, concordo em parte com o que dizes. Essa noção de honestidade, que reenquadro num referencial centrado na pessoa do próprio Salazar, ou seja, em que assume o seu eu mais profundo e faz disso um modelo para a Nação, apenas serve para o caracterizar enquanto influenciador da sociedade, e esta bebeu-o até ao tutano. A questão do sentido de estado e do dever é também fruto de a sua pessoa se confudir com o próprio Estado, e não estarei muito errado se disser que a grande maioria de nós age com maior responsabilidade perante as coisas que nos pertencem, e maior displicência com o que não é nosso.

Também é importante referir que esta pequenez que nos caracteriza não veio toda dos 50 anos de fascismo. Aliás, creio que o fascismo é também uma consequência disso também. Embora não versado em assuntos históricos para além do mero interessado, acho que a grande machadada veio bem mais de trás com a Inquisição e a expulsão dos judeus. Abraço.

LisbonGirl said...

Olá Strange Quark!

Terá vindo de mais longe, sim, mas agora o importante, quanto a mim, é, em vez de culpar os confins da História, aprendermos de que forma nos poderemos ajudar uns aos outros a deixar de ser mesquinhos e castigadores!

A responsabilidade é nossa e neste momento que decorre!